Capítulo 02

341 30 0
                                    

Clarissa

Nem acredito que aceitei vim ao Brasil com tanta coisa acontecendo.

Minha vida em Portugal esta estruturada, tenho pessoas que considero a minha família, amigos que me acolheram.

A última coisa que eu precisava agora era voltar para todo esse sofrimento, que me lembro exatamente como foi dolorido.

Penso nessas coisas enquanto andamos pela casa. Eles me levaram para conhecer os cômodos e contavam umas histórias de como decoraram.

A casa realmente estava linda.

- A Catarina iria amar isso aqui - digo enquanto estamos na cozinha.

Na verdade vi ela em todos os cômodos, todas as coisas fofas que sei ter sido escolha da Carol.

Estamos tomando um café juntos e colocando os assuntos em dia.

- Quem é Catarina? - Gabi pergunta.

Me espanto quando percebo que disse em voz alta.

- Oh! Eu disse Catarina? Quis dizer karla, ela me ajuda em casa - digo torcendo para não haver mais perguntas.

- Ah sim - Gabi diz.

Respirei aliviada por eles terem comprado essa mentira.

- Escuta, como é morar fora? - Rô pergunta.

- Normal, eu acho - digo sem muitos detalhes. - Acho que estou tão acostumada a morar lá que o estranho é está aqui.

Um curto silêncio se instala, e quando isso acontece, as primeiras palavras sempre são perguntas que ninguém quer fazer ou responder, ou assuntos que você quer evitar.

- Vai ficar até quando? - a Carol pergunta.

- Pretendo voltar antes de dezembro, acho que na próxima semana irei agendar o vôo.

- Que? Mas já? - Carol fala.

- Só vejo gente fugindo, incrível - Gabi fala e logo depois toma um gole do café.

- Não é fugir, Gabi - digo revirando os olhos. - Eu trabalho e tenho minha vida lá, minha obrigação é voltar.

- Não cansa de viajar e ficar longe da família? - Gabi pergunta. Como eu disse, o silêncio instalado no meio de uma conversa, sempre trás surpresas terríveis. - Seus pais sentem tanto sua falta, sei que sua mãe é um pouco difícil, mas ela fala de você todos os dias.

— Eu entendo Gabi, também sinto muita falta deles, principalmente da mamãe, já que com o papai falo sempre por causa da empresa — digo com calma.

- Falando nisso, se resolver ficar, tem até o emprego e a casa, o que ainda te prende? - Carol pergunta sem entender por minha insistência em voltar pra casa.

- Acredite em mim, tenho um motivo maior que tudo isso em Portugal.

- Você está namorando? - o Pedro pergunta desconfiado.

Reviro os olhos.

- Vocês sabem que homem nenhum iria me prender em algum lugar — digo. — Mas respondendo sua pergunta, não, não estou namorando.

- Então o que é? - Rodrigo pergunta e aquilo me deixa sem resposta.

Não posso simplesmente contar agora da Catarina, não estou preparada para isso.

- Chegamos! - ouvimos um barulho na sala.

- Eles chegaram! - eles dizem animados. Gostaria de dizer que estou aliviada de não ter que responder mais às perguntas, mas talvez isso me assuste ainda mais.

Todos se levantam e vão correndo, eu vou atrás deles em passos curtos observando o que acontece.

Quando chego na sala todos estão a se abraçar, meus pais e minha irmã mais nova, que agora já é uma adolescente crescida.

Eu e a Carol temos um ano de diferença, eu sou a mais velha, a Camille é a mais nova e última filha antes do divórcio deles. Depois disso nunca os vi namorando outras pessoas e não tiveram mais filhos.

Todos os anos fazemos essas reuniões e nossos amigos vem ou vão, que são a Gabi , o Pedro e o Rô, mas só fui em uma que aconteceu na casa dos meus avós na Paraíba, depois não nos vimos mais.

Essa é a primeira reunião, depois daquela que fui, que não acontece no Natal, então eu consegui vim.

- Clarissa filha - minha mãe finalmente percebe minha presença e me olha com lágrimas nos olhos.

Corro ao encontro deles nos unindo em um abraço apertado.

A verdade é que não sabia se seria bem vinda em casa, depois de tanto tempo tentando me afastar deles.

- Como você cresceu - digo a Camille. - A minha Mille.

- Que saudade Clara - ela me abraça ainda mais apertado. - Sentimos sua falta.

- Também senti a de vocês - dou um sorriso sincero.

Ficamos um tempo matando a saudade antes de ajudar eles a se acomodarem. Ajudamos com as malas, mas logo depois fui buscar as minhas.

Enquanto a Carol espalha todos pela casa, vou para o meu quarto, finalmente.

Meu quarto tem uma cama de casal imensa, uma varanda incrível. Na mesma hora lembrei de uma das coisas que mais amava fazer quando mais nova, olhar as estrelas!

Quando saio para varanda encontro a melhor coisa que o meu dinheiro já comprou, um telescópio!

Sorri com aquilo, agora vou poder olhar sempre para elas, assim como prometi a Catarina.

Flashback on.

- Sempre que quiser falar comigo olhe para cima, que também estarei olhando - digo a Catarina.

Flashback off.

— Vocês viram quem está morando aí na frente? — ouço elas conversarem no corredor.

— Nem me fala que já teve maior climão entre ele e a sua irmã — Gabi diz a Mille que acaba de perguntar.

— Nada de falar dele, assunto proibido — Carol diz.

- Ah, mas eu gosto tanto dele - Mille fala choramingando. - Posso pelo menos cumprimentar?

- Não dissemos para ser mal educada, só não dá mais motivo para a Clara ir embora - Carol diz.

Aquilo me doeu. Elas não precisam deixar de fazer ou gostar de alguém por minha causa. E não é por esse motivo que vou embora.

- Eu sinto muita falta dela, quase nem lembro mais como era e nem o porque dela ter ido embora - Mille fala com a voz um pouco embargada.

- Melhor assim, Cami - Gabi fala. - Ela já se magoou muito com a verdade, o que ela não precisar agora é encarar tudo de novo.

Logo não ouço mais nada e percebo que elas se afastaram.

Fico triste ao perceber que elas sentem essa necessidade de me proteger, é fofo, mas eu sou adulta agora.

Começo a desarrumar minhas malas e mando mensagem para Karla, avisando que cheguei bem.

Logo tomo um banho e vou dormir um pouco.

A viagem foi bem cansativa, e minha cabeça não para de girar com tantos choques de realidade.

Meu ex, meu passado todo nessa casa, essa casa, meus pais, minha vida longe daqui, a vida que nunca contei para eles, nem para o meu grande amor.

Por quê as coisas tinham que ser tão difíceis?

Continua...

- - ❤️ - -

Beijos, Larissa.

Segunda ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora