Rafael
Ainda com a Catarina na sorveteria, ela escolhe o sorvete de chocolate, diz que é o seu favorito.
— Minha mãe gosta do de morango — ela diz.
— Eu gosto dos dois — digo a ela.
Ela sorri e ficamos conversando sobre assuntos banais, como cor, brinquedo, desenhos favoritos. Ela é uma criança muito divertida, conversa como criança, mas tem um jeito adulto ao mesmo tempo.
— Agora que tomamos sorvete vou indo, tenho que resolver umas pendências. Digo mostrando as cartas que tenho na mão.
— Você também escreve cartas? — ela pergunta surpresa. Me surpreendo ainda mais por ela saber o que é, hoje em dias as coisas estão tão modernas, que me admira uma criança tão pequena saber disso. — Minha mãe tem um monte — ela diz fazendo uns gestos com a mão.
— Sim, escrevi a muito tempo, tenho que entregar para a dona — ele fala.
— Você tem filhos? — ela pergunta depois de um tempo quieta.
— Não, por que a pergunta?
— Você é legal, queria que meu pai fosse assim.
— Mas você disse que não o conhece, vai ver ele é legal também — digo a fazendo sorri.
— Você é igual a mamãe — ela diz com um sorriso. — Sempre sabe o que dizer. Tchau Rafael, obrigada pelo sorvete.
Ela sai correndo em seguida. Sorri ao vê-la tão alegre.
Ela vive correndo pelo condomínio, não acho que tenha idade ou tamanho para andar sozinha, mas fico feliz por vê-la sempre feliz.
Pago os sorvetes que tomamos e volto para onde estava quando encontrei a Catarina.
Vou entregar às cartas e espero que assim ela acredite em mim.
Assim que chego em sua porta penso ela tocar a campainha, mas ela já estava entre aberta, entro e caminho em direção a sua linda casa. Bato na porta e espero ser atendido.
— Olá — diz uma moça que não conheço.
Achei que ela estaria sozinha em casa.
— Oi — digo sem jeito. — Estava aberta e resolvi entrar — digo me referindo a primeira porta como todas as casas do condomínio, primeiro tem uma porta e a da garagem, depois entramos no jardim da casa e aí sim tem a casa.
— Tudo bem, mas no que posso ajudar? — ela pergunta.
— A Clarissa está?
Ao perguntar isso ouço passos e vejo a Clarissa atrás da moça que me atendia.
— Rafael? — ela pergunta surpresa.
A moça que até o momento não sei o nome me dá espaço para que entre.
— Desculpa vim sem avisar — eu digo. — Mas o que tenho para falar é importante.
A moça pigarreia chamando nossa atenção.
— Rafa, essa é minha amiga de Portugal, a Karla.
Nos cumprimentamos.
— Bem — digo sem jeito. — Eu vim porque, você disse que me enviou cartas que voltaram para você não foram abertas...
— Me desculpe Rafael, mas estou cansada, não estou com cabeça pra isso — ela diz parecendo abalada.
— Clara, ouve por favor — a sua amiga fala intervindo. — Pode ser importante.
— Sim, eu sei, mas só que esse assunto já me desgastou, já doeu muito, rendeu muito sofrimento e muita briga entre nós — ela diz pra sua amiga que ainda estava ali parada nos assistindo.
— Eu vim em busca de paz, resolver nossos problemas, e provar o que conversei com você ontem a noite.
Ela me olha surpresa, sem entender o ponto que queria chegar. Sua amiga nos olha sem saber se sai ou se fica, com certeza só sairia quando a Clarissa te pedisse.
Ela parecia tão cansada, sabia que a culpa era minha.
— Eu trouxe as cartas que disse que te escrevi, as mesmas cartas que voltaram para mim, sem nunca terem sido abertas — ela fica espantada com o que ouve e encara minha mão esticada para ela, com as cartas.
Ela ainda calada sem pegar as cartas, me olha.
— Pode conferir, as datas, os carimbos, tá aqui — digo a ela. — Eu nunca menti pra você, eu te procurei, eu me arrependi a muitos anos do que fiz, mas parecia ser tarde demais, mas agora...
Ela não diz nada, pega as cartas em sua mão.
— Eu também te escrevi, mas as minhas estão em Portugal — ela diz.
— Eu acredito em você, não precisa me mostrar — digo. — Eu disse que te provaria a verdade, minha mãe fez isso tudo para nos separar, mas agora podemos ficar juntos, recomeçar.
Ela olha para amiga com um olhar de desespero.
— Rafael — ela diz com lágrimas nos olhos. — Posso ficar com essas cartas?
— Elas são suas, sempre foram — ela fala.
— Posso te pedir outra coisa?
— O que quiser.
— Me deixa um pouco sozinha — ela diz e suas lágrimas parecem cair. — Entende que é muita coisa, eu preciso pensar.
A olho surpreso, estava tão eufórico, pensando que resolvemos tudo. Mas tenho que respeitar o seu tempo.
— Tudo bem, eu estou na casa do Pedro, mas vou procurar um hotel para ficar. Você tem meu número se quiser conversar.
Digo isso e saio da sua casa. A karla fecha a porta assim que saio.
Vou para casa do Pedro pensando em como as coisas aconteceram. Como fui tão bobo em deixar que as coisas chegassem a este ponto, cinco anos se passaram, eu deveria ter insistido mais, ido atrás dela.
Com os pensamentos a mil logo chego na casa dele.
Quando chego encontro meus amigos lá.
— Como foi? — Pedro pergunta.
— Entreguei as cartas, ela me pediu um tempo para pensar e vim embora.
— Só isso? — Gabi pergunta.
— Detalhes — Carol pergunta.
— A gente não conversou, ela parecia muito abalada, nunca a vi assim antes, talvez estivesse preocupada com algo, ou pensando na conversa que tivéssemos — digo. — Mas vou deixar ela ler as cartas, da uns dois dias para conversamos e enfim resolvermos nossa situação.
— Se fosse só isso — Rodrigo resmunga.
— O que estão sabendo?
Eles se entre olham e permanecem calados.
— Ela contou algo a vocês?
— Somos amigos dos dois, mas ela é minha irmã, jamais contaria algo que ela pediu para não contar, supondo que ela tenha me contado — Carol diz.
— Da mesma forma que não fazemos fofoca do que você fala, não faremos do que ela diz — Pedro fala.
— Mas claro, se ela tivesse dito algo — Rodrigo fala.
— Numa situação hipotética, sabe — Gabi fala.
Acho muito estranho o que eles falam, mas não insisto.
Eles logo vão embora, inclusive o Pedro. Eles iam passar em algum lugar, talvez um passeio de casal, me chamaram para ir, mas recusei.
Fiquei o resto do dia preso em meus pensamentos.
Pedi uma janta e logo depois de comer fui dormir, afinal, ficar acordado só me fazia pensar nela.
Continua...
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Beijos, Larissa.
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Segunda Chance
RomanceO tempo é o remédio para curar todas as feridas, disseram a Clarissa. Depois de anos morando fora, ela decide voltar ao Brasil para uma reunião familiar que acontecia todos os anos em sua família, essa seria a primeira depois de anos que ela iria co...