Capítulo 19

215 22 1
                                    

Rafael

Ainda com a Catarina na sorveteria, ela escolhe o sorvete de chocolate, diz que é o seu favorito.

— Minha mãe gosta do de morango — ela diz.

— Eu gosto dos dois — digo a ela.

Ela sorri e ficamos conversando sobre assuntos banais, como cor, brinquedo, desenhos favoritos. Ela é uma criança muito divertida, conversa como criança, mas tem um jeito adulto ao mesmo tempo.

— Agora que tomamos sorvete vou indo, tenho que resolver umas pendências. Digo mostrando as cartas que tenho na mão.

— Você também escreve cartas? — ela pergunta surpresa. Me surpreendo ainda mais por ela saber o que é, hoje em dias as coisas estão tão modernas, que me admira uma criança tão pequena saber disso. — Minha mãe tem um monte — ela diz fazendo uns gestos com a mão.

— Sim, escrevi a muito tempo, tenho que entregar para a dona — ele fala.

— Você tem filhos? — ela pergunta depois de um tempo quieta.

— Não, por que a pergunta?

— Você é legal, queria que meu pai fosse assim.

— Mas você disse que não o conhece, vai ver ele é legal também — digo a fazendo sorri.

— Você é igual a mamãe — ela diz com um sorriso. — Sempre sabe o que dizer. Tchau Rafael, obrigada pelo sorvete.

Ela sai correndo em seguida. Sorri ao vê-la tão alegre.

Ela vive correndo pelo condomínio, não acho que tenha idade ou tamanho para andar sozinha, mas fico feliz por vê-la sempre feliz.

Pago os sorvetes que tomamos e volto para onde estava quando encontrei a Catarina.

Vou entregar às cartas e espero que assim ela acredite em mim.

Assim que chego em sua porta penso ela tocar a campainha, mas ela já estava entre aberta, entro e caminho em direção a sua linda casa. Bato na porta e espero ser atendido.

— Olá — diz uma moça que não conheço.

Achei que ela estaria sozinha em casa.

— Oi — digo sem jeito. — Estava aberta e resolvi entrar — digo me referindo a primeira porta como todas as casas do condomínio, primeiro tem uma porta e a da garagem, depois entramos no jardim da casa e aí sim tem a casa.

— Tudo bem, mas no que posso ajudar? — ela pergunta.

— A Clarissa está?

Ao perguntar isso ouço passos e vejo a Clarissa atrás da moça que me atendia.

— Rafael? — ela pergunta surpresa.

A moça que até o momento não sei o nome me dá espaço para que entre.

— Desculpa vim sem avisar — eu digo. — Mas o que tenho para falar é importante.

A moça pigarreia chamando nossa atenção.

— Rafa, essa é minha amiga de Portugal, a Karla.

Nos cumprimentamos.

— Bem — digo sem jeito. — Eu vim porque, você disse que me enviou cartas que voltaram para você não foram abertas...

— Me desculpe Rafael, mas estou cansada, não estou com cabeça pra isso — ela diz parecendo abalada.

— Clara, ouve por favor — a sua amiga fala intervindo. — Pode ser importante.

— Sim, eu sei, mas só que esse assunto já me desgastou, já doeu muito, rendeu muito sofrimento e muita briga entre nós — ela diz pra sua amiga que ainda estava ali parada nos assistindo.

— Eu vim em busca de paz, resolver nossos problemas, e provar o que conversei com você ontem a noite.

Ela me olha surpresa, sem entender o ponto que queria chegar. Sua amiga nos olha sem saber se sai ou se fica, com certeza só sairia quando a Clarissa te pedisse.

Ela parecia tão cansada, sabia que a culpa era minha.

— Eu trouxe as cartas que disse que te escrevi, as mesmas cartas que voltaram para mim, sem nunca terem sido abertas — ela fica espantada com o que ouve e encara minha mão esticada para ela, com as cartas.

Ela ainda calada sem pegar as cartas, me olha.

— Pode conferir, as datas, os carimbos, tá aqui — digo a ela. — Eu nunca menti pra você, eu te procurei, eu me arrependi a muitos anos do que fiz, mas parecia ser tarde demais, mas agora...

Ela não diz nada, pega as cartas em sua mão.

— Eu também te escrevi, mas as minhas estão em Portugal — ela diz.

— Eu acredito em você, não precisa me mostrar — digo. — Eu disse que te provaria a verdade, minha mãe fez isso tudo para nos separar, mas agora podemos ficar juntos, recomeçar.

Ela olha para amiga com um olhar de desespero.

— Rafael — ela diz com lágrimas nos olhos. — Posso ficar com essas cartas?

— Elas são suas, sempre foram — ela fala.

— Posso te pedir outra coisa?

— O que quiser.

— Me deixa um pouco sozinha — ela diz e suas lágrimas parecem cair. — Entende que é muita coisa, eu preciso pensar.

A olho surpreso, estava tão eufórico, pensando que resolvemos tudo. Mas tenho que respeitar o seu tempo.

— Tudo bem, eu estou na casa do Pedro, mas vou procurar um hotel para ficar. Você tem meu número se quiser conversar.

Digo isso e saio da sua casa. A karla fecha a porta assim que saio.

Vou para casa do Pedro pensando em como as coisas aconteceram. Como fui tão bobo em deixar que as coisas chegassem a este ponto, cinco anos se passaram, eu deveria ter insistido mais, ido atrás dela.

Com os pensamentos a mil logo chego na casa dele.

Quando chego encontro meus amigos lá.

— Como foi? — Pedro pergunta.

— Entreguei as cartas, ela me pediu um tempo para pensar e vim embora.

— Só isso? — Gabi pergunta.

— Detalhes — Carol pergunta.

— A gente não conversou, ela parecia muito abalada, nunca a vi assim antes, talvez estivesse preocupada com algo, ou pensando na conversa que tivéssemos — digo. — Mas vou deixar ela ler as cartas, da uns dois dias para conversamos e enfim resolvermos nossa situação.

— Se fosse só isso — Rodrigo resmunga.

— O que estão sabendo?

Eles se entre olham e permanecem calados.

— Ela contou algo a vocês?

— Somos amigos dos dois, mas ela é minha irmã, jamais contaria algo que ela pediu para não contar, supondo que ela tenha me contado — Carol diz.

— Da mesma forma que não fazemos fofoca do que você fala, não faremos do que ela diz — Pedro fala.

— Mas claro, se ela tivesse dito algo — Rodrigo fala.

— Numa situação hipotética, sabe — Gabi fala.

Acho muito estranho o que eles falam, mas não insisto.

Eles logo vão embora, inclusive o Pedro. Eles iam passar em algum lugar, talvez um passeio de casal, me chamaram para ir, mas recusei.

Fiquei o resto do dia preso em meus pensamentos.

Pedi uma janta e logo depois de comer fui dormir, afinal, ficar acordado só me fazia pensar nela.

Continua...

- - ❤️ - -

Beijos, Larissa.

Segunda ChanceOnde histórias criam vida. Descubra agora