Clarissa
Quando desço para cozinha vejo que já está tudo arrumado.
— Demorei? Me desculpe — digo me sentindo culpada por deixar ele fazer tudo sozinho.
— Não precisa se desculpar, eu que estou atrapalhando a viagem de vocês — ele fala. — Sei que não me queria aqui, seja lá o que eu vá encontrar naquelas cartas, eu quero que me conte o que quer tanto que eu saiba.
— Não é algo que eu queira que você saiba, é algo que deveria saber — digo tentando parecer o mais calma possível.
— Nas cartas você fala dele? — ele pergunta me olhando nos olhos.
— Dele? — pergunto sem entender.
— Sim, o pai da sua filha.
Olho para ele e posso ter a certeza que ele não faz ideia de quem seja, como pode não ter pensado nisso antes, não cogitou nem por um segundo?
— Vamos conversar lá fora — ele fala pegando algumas cobertas.
O sigo para o quintal da casa, ainda não havia visitado tal lugar, era incrível. Tinha uma cadeira de balanço suspensa.
Sentamos e ele coloca o lençol sobre nós.
— É lindo aqui fora — digo. — A Catarina vai amar quando ver.
— Que bom que gostou — ele diz. — Sei que não tenho o direito de te perguntar sobre sua vida, mas é algo que não paro de pensar desde que soube que a Catarina era sua filha, afinal ela não deve ter menos que quatro anos, então você se relacionou com esse cara logo depois que foi embora...
— Rafa — dou uma pausa. — A Catarina faz cinco anos em dezembro — digo olhando para minhas mãos. — São nove meses de gestação, então...
— Espera — ele fala parecendo fazer as contas — Você estava aqui ainda e...
— Serio que não consegue adivinhar quem é o pai da Catarina? — pergunto o olhando.
— A gente estava junto, então...
Olho em seus olhos e apenas confirmo com a cabeça.
— Sim, a Catarina é sua filha.
Ele parecia bastante surpreso com a descoberta. Estava em choque eu suponho, pois não falou nada.
— Eu descobri que estava grávida poucas semanas depois que me mudei, eu tentei entrar em contato com você, tentei de alguma maneira te avisar — digo me lembrando de como as coisas aconteceram. — Eu não tive a intenção de esconder ela de você, não no início, mas foi preciso — digo com meus olhos enchendo de lágrimas. — Você é o pai da Catarina, Rafael. O único homem que amei, e desse amor veio o meu melhor presente, minha filha. — falo com um nó na garganta, que se formou desde que começo a pensar em tudo que aconteceu. — Você sabe que não consegui te contar, sabe o por quê.
— Como? Eu tenho uma filha — ele fala ainda surpreso.
— Sim — digo deixando algumas lágrimas caírem — Me desculpe por não te contar, me desculpe por não ter voltado, eu tive medo.
— Clarissa, como pode? — ele parece mudar sua afeição, agora parece nervoso.
Ele levanta da cadeira e anda de um lado para outro.
— Eu tenho uma filha — ele fala e vejo seus olhos brilhando. — Você me escondeu... eu perdi cinco anos da vida dela, das nossas vidas. Me desculpe — ele começa a chorar. — Eu deveria ter ido com você, me desculpe por não está lá para te ajudar — ele diz se sentando ao meu lado novamente. — O que eu fiz? — ele coloca as mãos no rosto o cobrindo.
— Rafael, você não tem culpa de nada, pelo menos agora sei — digo.
— Como assim? — ele pergunta me olhando.
— É que tem mais — digo enxugando minhas lágrimas. — Quando estava grávida eu te liguei para contar, mandei cartas e e-mails, eu tentei de toda forma te achar, mas uma pessoa me achou primeiro.
— Quem?
— A sua mãe — digo apenas. Vejo seu olhar de surpresa.
— Minha mãe sabia que você estava grávida? — ele altera a voz. — Não acredito nisso, Clarissa!
— Calma, por favor — digo. — Ainda não acabou.
— Ainda tem mais? — ele me olha de uma forma que me causou pena. Ele não merece ter uma mãe assim, e me dói ter que ser eu a contar.
— Se quiser, podemos conversar depois sobre isso, acho melhor deixar para amanhã, você não está bem, precisa de um tempo — digo me levantando. — Quando achar que está pronto, eu te conto tudo, está bem?
Ele não me responde, estava tão aéreo. Tenho medo que ele confronte sua mãe e ela faça algo a mim e a minha filha.
Agradeço por estarmos longe de casa, assim conseguirei deixar ele mais calmo, sei que vai enfrentar sua mãe, mas espero que tome uma decisão racional, para que não nos machuque ainda mais.
— A Catarina nem imagina, não é? — ele pergunta.
— Não, acho que não — digo dando um meio sorriso. — Mas ela gosta de você — sorri. — Ela vai gostar de saber que tem um pai, que esse pai é o amigo dela.
— Eu peço e não conte nada — ele diz sério. Engulo em seco minhas palavras. — Não quero que ela saiba de nada.
— Como disse?
— Por enquanto, preciso de um tempo para pensar, isso muda tudo, são muitas coisas e...
— Claro — digo seca. — Vou te dar um tempo para pensar, se quiser podemos ir para outro lugar, para te dar espaço.
— Acho que seria bom — ele fala. Olho incrédula para ele. — Ligo para vocês quando estiver preparado. Ou quando quiser saber o resto da história.
Estou ouvindo bem?
— Amanhã saímos da sua casa — digo me virando para sair. — Babaca — digo em voz baixa para que apenas eu ouça.
Será que me enganei quanto a ele?
Ele me parecia tão interessado na Catarina, achei que fosse ficar feliz, achei de verdade que ele iria assumir o compromisso, finalmente minha menina iria conhecer o seu pai, ter o amor e o cuidado de um pai, que a vida tanto te privou.Penso sobre isso enquanto caminho para o quarto.
Vejo minha filha dormi serena, nem imagina que bagunça nossas vidas estavam agora.
Dou um beijo em sua testa e vou tomar um banho para me juntar a ela e dormir.
Depois de um dia longo como esse, nada como um banho e uma boa noite de sono.
Só queria que todos os meus problemas fossem embora como a água que cai do chuveiro some pelo ralo do banheiro.
Continua...
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Beijos, Larissa.
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Segunda Chance
RomanceO tempo é o remédio para curar todas as feridas, disseram a Clarissa. Depois de anos morando fora, ela decide voltar ao Brasil para uma reunião familiar que acontecia todos os anos em sua família, essa seria a primeira depois de anos que ela iria co...