Clarissa
Ficamos mais que o esperado aqui em Natal, e estamos no mês de dezembro, amanhã estará faltando apenas 12 dias para esse evento e o aniversário da Catarina.
A Karla mal tem ficado conosco, na verdade ela disse que iria voltar para Portugal, foi uma decisão repentina, me parece que algo deu errado entre ela e o Samuel, mas ela não quis me contar. A Catarina pediu que ela ficasse pelo menos até voltarmos para Aracaju. Karla como sempre, cedeu ao pedido da Cathie.
Samuel começou a frequentar mais a nossa casa, e até ficou de baba para Cathie enquanto aproveitava um tempo a sós com o Rafael.
Essa é a nossa última noite aqui, todos os dias que estivemos aqui, deste que começou o mês de dezembro, dedicamos os dias a Cathie e a nossa tradição.
— Mamãe — Cathie diz enquanto estamos sentados à mesa.
Hoje jantamos todos juntos, um jantar de despedida. O Samuel e a Karla trocaram vários olhares.
— Sim, Cathie — digo.
— Amanhã vamos voltar para casa do vovô e da vovó? — ela pergunta curiosa. Assinto confirmando sua pergunta. Não importa quanto explique que não é a casa deles, ela vai continuar achando que sim.
— Já conheceu os seus outros avós? — pergunta Samuel não fazendo ideia de como aquele assunto era delicado.
— Eu tenho mais avós? — ela sorri feliz.
— Não! Sim! — eu, a karla e o Rafa falamos em uníssono.
— Sim ou não? — ela pergunta sem entender.
— Sim, minha filha — Rafa fala. — Você vai conhecer os meus pais que são seus avós.
— Que legal — ela sorri. — Podemos convidar eles para o natal, mamãe?
Sinto minha pele gelar só de imaginar minha filha está no mesmo ambiente que a sua suposta avó.
Rafa pega minha mão e aperta, me fazendo aterrizar naquela conversa novamente.
— Podemos ver, filha — digo. — Agora termina de comer e sobe para escovar os dentes.
Ela assente e come em silêncio. Karla me olha entendendo meu desespero. O Rafael faz o mesmo, mas sei que não imagina o tamanho das atrocidades que sua mãe causou no passado.
Terminamos de comer e começo a tirar os pratos da mesa com a ajuda do Rafael.
— Vamos ajudar a Cathie a se arrumar para dormir — Karla avisa e Samuel a segue.
Catarina já havia subido correndo logo após o jantar.
— Acho que estou pronto para aquela conversa — Rafa fala enquanto me ajuda a lavar a louça.
— Acho que tenho que te dizer porque não quero a nossa filha perto da sua mãe — digo respirando fundo.
— Além de me esconder minha filha, tentar nos separar e conseguir por um tempo — ele beija o meu pescoço. — O que mais ela poderia ter feito?
Termino a louça antes de responder.
— Vamos para sala, um lugar longe de coisas afiadas que possa ser perigoso para nossas vidas, caso se irrite muito com o que vou te contar.
— Está me assuntando.
— É... sua mãe me causa coisas piores — digo sentindo um arrepio só de imaginar vê-la em minha frente.
— Me desculpe se não consigo pensar algo tão ruim da minha mãe, você sabe, ela sempre foi uma boa mãe, me deu tudo que uma criança precisa, você a amava, ela te tratava como filha. Como as coisas mudaram tanto?
— Eu me lembro que no começo ela era mais mãe para mim do que a minha própria mãe. Mas mesmo a minha sendo ausente e rígida comigo, ela nunca iria me sugerir que me livrasse da minha própria filha — digo sentindo um nó em minha garganta. — Sua mãe, aquela mulher amável, por medo do que pudesse acontecer, por medo de que a gravidez fizesse você ir morar do outro lado do mundo, disse que eu não deveria arruinar minha vida com uma criança rejeitada pelo próprio pai... ela disse que você tinha dito para eu desse nossa filha para adoção assim que nascesse, ou até mesmo, que impedisse o nascimento dessa criança — meus olhos enchem de lágrimas. Dói falar aquilo, como doeu no passado.
Ele não fala nada, parece tão surpreso e espantado.
Respiro fundo e conto toda a história, desde que ela foi me visitar em Portugal, ao dia de sua partida com essa ideia absurda.
— Não posso acreditar — ele estava nervoso, podia ver seu corpo rejeitar aquela ideia. — Como ela foi capaz de tanto? E meu pai, ele também está metido nisso?
— Nunca falei com ele depois da nossa separação, não sei se ele conspirou com a sua mãe — digo calma.
Ele levanta e começa a andar de um lado para o outro, passa aos mãos pelo cabelo nervoso.
— Vamos para o meu apartamento quando voltar, já está pronto — ele fala me olhando. — Vamos ficar bem longe daquela casa, da minha família. Não vamos deixar que ela a veja, a Cathie não vai nem lembrar que tem esses avós... — o interrompo.
— Meu amor — digo segurando seu rosto. — Nada nem ninguém vai fazer mal nossa filha, cuidaremos disso — aviso. — Não seria justo com a Cathie se ficarmos longe da família que ela acaba de descobrir que tem, e seu pai pode não estar metido nas artimanhas da sua mãe, você o conhece melhor do que eu, não acha que ele iria gostar de conhecer nossa bonequinha?
— Você tem razão — ele suspira. — É que meu sangue ferveu, só de imaginar que alguém a queria tirar nossa filha da gente, e conseguiu me manter longe por tanto tempo... como me arrependeu das minhas decisões.
— Não se culpe, o passado ficou no passado, e eu não me arrependo de nada. Talvez se tivesse sido diferente a nossa filha nem estivesse aqui, ou nós não estivéssemos juntos, afinal éramos muito novos...
— Você sempre vê o lado bom de tudo — ele me dá um sorriso fraco. — Obrigado por estar aqui comigo e por ter sido mais forte que todo o mal que minha mãe tem derramado sobre a gente. Vamos lutar para que nossa filha tenha o melhor natal/aniversário de todos.
Sorri feito boba. Como depois de tantos anos posso continuar tão apaixonada por esse homem?
— Obrigada por tudo isso — sorri o beijando.
Curtimos mais um pouco a nossa própria companhia, antes do Samuel e a Karla descerem.
Subimos os deixando a sós.
Demos um beijo de boa noite em nossa filha e seguimos para o nosso quarto.
Amanhã voltaremos a vida real, tenho medo do que o futuro próximo nos reserva.
Continua...
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Beijos, Larissa.
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Segunda Chance
RomanceO tempo é o remédio para curar todas as feridas, disseram a Clarissa. Depois de anos morando fora, ela decide voltar ao Brasil para uma reunião familiar que acontecia todos os anos em sua família, essa seria a primeira depois de anos que ela iria co...