Rafael
Volto para casa do Pedro assim que vejo a Clarissa sair do meu campo de visão.
Ainda não abri as cartas, estou as encarando desde que voltei. Estão do mesmo jeito que peguei, juntas e amarradas numa fita. Coloco encima da mesa de centro e as encaro. O que vou encontrar aí?
Não tem ninguém em casa, acho que foram se despedir da Clarissa, aproveito a paz do ambiente para continuar ali pensando.
Não consigo pensar de pensar na Catarina, como não desconfiei quem era sua mãe, ela me deu tantas dicas.
Ouço barulho na porta, acredito que seja o Pedro chegando.
— O que está fazendo aqui? — fala Gabi assim que abre a porta.
Ela entra como um furacão.
— Eu não tive coragem de pedir para ela ficar — digo. — Não tenho esse direito.
— Direito? — ela fala brava. — Por que não foi atrás dela?
— Gabi, sei que está brava, mas eu não posso fazer isso com ela, depois de tudo que a fiz, ela já disse com todas as letras que não me quer, por que deveria insistir dessa relação?
— Está falando sério? — Pedro entra na conversa.
— Não — digo. — Não sei na verdade, estou confuso. Agora que sei que ela tem uma filha, não sei mais o que fazer, não poderia a forçar a ficar comigo.
— Ela te contou? — Gabi pergunta.
— Não exatamente. Era isso que não podiam me dizer?
Eles assentem.
— Ela pediu — diz o Pedro. — Mas e agora o que pretende fazer?
— Sabem quem é o pai? — eles se entre olham.
— Não exatamente, mas temos nossas suspeitas, você não? — Pedro responde.
— Como assim?
— Nada — Gabi revira os olhos como se fosse uma pergunta idiota.
— Não vai atrás dela? — Pedro pergunta se sentando no sofá ao meu lado.
— Não, ela vem em alguns dias, aí falo com ela.
— Não sou a mais romântica, mas tenho certeza que a Clarissa iria amar se fosse atrás dela — Gabi diz.
— Não, não — digo negando com a cabeça. — O que eu diria? Só a deixaria irritada, melhor esperar e deixar a poeira acalmar.
— Você é burro igual uma mula — Gabi fala irritada. — Depois não reclama se a perder de vez.
— Acha que ela quer que eu vá?
— Por que não lê as cartas e descobre? — ela pergunta como se fosse óbvio.
— Tenho medo do que vou encontrar — digo. — Se ela falar do pai da Catarina nas cartas?
— Chega! — fala a Gabi irritada. — Você ama a Clarissa?
— Claro que a amo — digo.
— Então faz alguma coisa! O universo não vai te mandar um sinal, se é o que espera. Você já sabe o que fazer, então reage! — ela fala do seu jeito explosivo.
— Está esperando perdê-la novamente? — Pedro fala. — Vamos está no quarto se precisar de algo.
Ele sai levando a Gabi junto com ele.
Eles tem razão, eu sei. Penso no que fazer, no que dizer, não sabia como e o que deveria fazer.
Ligo avisando aos meus supervisores do afastamento pelo final de semana, tento comprar as passagens, mas não sei para onde estão indo.
Recorro a quem nunca pensei que ligaria, o pai da Clarissa.
Por mais incrível que pareça, ela me dá o endereço, detalhes da viagem, ele me ajuda a encontrá-la.
Ele me disse apenas uma coisa, ele disse que ouviu essa frase uma vez, que para mim poderia fazer sentido, após me dá todas as informações, ele me disse: Às vezes o passado é uma coisa que não conseguimos esquecer. E às vezes o passado é algo que faríamos tudo para esquecer. E, às vezes, descobrimos algo novo sobre o passado, que muda tudo que sabemos sobre o presente. Não sei se leu as cartas, mas acho que tudo o que você pensa que sabe sobre seu passado com minha filha, está preste a mudar o presente e o futuro de vocês, só espero que não a machuque de novo.
Nada mais pude dizer, pois ele logo desligou.
Comprei as passagens quase que correndo, não havia mais voos saindo daqui para Natal, mas eu tenho algum conhecimento, por tanto viajar, a gente acaba criando algumas amizades que podem me ajudar agora.
Quando estou prestes a pegar minhas coisas e sair, meus amigos aparecem.
— Onde vai? — Pedro pergunta.
— Não me diga que... — Gabi fala com um sorriso no rosto. — Sempre soube que tomaria a decisão certa.
Ela me abraça e sorri.
— Não vai ligar pelo menos? Ela deve está uma fera achando que não vai atrás dela — Pedro fala.
— Essa hora ela deve está entrando no avião, então se apressa — Gabi fala.
Nem penso duas vezes e ligo para ela, com esperança que atendesse.
Ligação on.
— Lissa? — digo após ela atender.
— Rafael!
— Olha, eu sei que você pensa que sou...
— Covarde? Mentiroso?
— Me escuta.
— Me escuta você! Você acabou sendo exatamente quem eu pensei que fosse, eu achei que fosse diferente, que estivesse enganada, mas você continua o mesmo de sempre. Eu não quero brigar com você, mas você magoou a minha filha, não bastasse o que fez a mim no passado, quer repedir os meus erros com uma criança?
— Lissa, me escuta, eu não tive a intenção, eu só...
— Eu sei que o cara por quem em apaixonei está em algum lugar aí dentro de você, mas eu não posso esperar, porque esperar por você é como contar com nessa seca, inútil e decepcionante.
Ligação off.
— Ela desligou — digo a eles. — Ela nem deixou eu falar nada, ela só...
— Ela está magoada, ela esperou cinco anos por você, e ainda acha que você não mudou, vai ver ela pensa que leu as cartas e escolheu não ir atrás dela, cometendo o mesmo erro — diz a Gabi. — Só vai pegar esse avião e conserta as coisas.
— Está esperando o que cara? — Pedro fala me apressando.
Não penso em mais nada, eles me levam ao aeroporto.
Quando chegamos lá, meu voo já estava pronto para sair, lembro ter passado pelo Rodrigo e pela Carol. Acho que não faz muito tempo que a Clarissa foi embora, espero chegar a tempo de falar com ela hoje.
Sento naquele avião encarando as cartas em minhas mãos. Deveria lê-las?
Continua...
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Beijos, Larissa.
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Segunda Chance
RomanceO tempo é o remédio para curar todas as feridas, disseram a Clarissa. Depois de anos morando fora, ela decide voltar ao Brasil para uma reunião familiar que acontecia todos os anos em sua família, essa seria a primeira depois de anos que ela iria co...