Clarissa
Ainda com a mão na porta, viro para as duas pessoas que me olhavam com expectativa.
— Eu vou entrar primeiro — aviso. — Me deem dois minutos.
Elas assentem. Respiro fundo mais uma vez.
Entro em casa e eles nem percebem, continuam a conversa normalmente.
Pigarreio chamando atenção deles.
— Quer nos dizer algo filha? — meu pai pergunta.
— Não... digo, sim — tento não ficar nervosa nesse momento, mas é muito difícil. — Sei que nos afastamos muito desde que me mudei, vocês não sabem nada sobre a minha vida e eu só sei da de vocês o que me contam, mas acho que está na hora de lhes contar uma coisa que guardo comigo há cinco anos.
Eles se entreolham sem entender.
— Fala filha, está nos assustando — minha mãe diz.
— Calma — digo. — É muito difícil para mim falar sobre isso, foi um momento delicado em minha vida, o mais maravilhoso e o mais difícil, não sabia como dizer a vocês, não consegui contar antes.
— Fala Clara — Carol diz.
— Está enrolando muito — diz a Gabi.
— Eu acho melhor mostrar — digo. — Por favor, tentem me entender.
Dito isso, abro a porta e peço para que entrem.
Ajudo elas com a mala, e quanto está tudo dentro de casa, fecho a porta e me junto a Karla e a Catarina.
— Então, quero que conheçam a minha família do Brasil — digo a Catarina e a Karla. — E pessoal, essa é a minha família de Portugal.
Eles se entreolham, mas ninguém ousa trocar uma só palavra.
— Prazer conhecer vocês — Karla diz quebrando o gelo.
— Perdoe nossa indelicadeza, estamos só... — minha mãe para de falar como se tivesse procurando a palavra.
— Surpresos? — Karla completa sem jeito.
— Bem, essa é a Karla, meu braço direito e uma grande amiga — sorri para ela. — E essa pequena aqui — digo apontando para a Catarina escondida atrás de mim. A puxo para minha frente, com as minhas mãos abraçando ela por trás. — Essa é a Catarina — faço uma pausa curta tentando aliviar o impacto que iria causar. — Minha filha.
Catarina sobe o olhar para mim sorrindo orgulha do que ouve.
Meus amigos e minha família parecem em choque.
— Como? — Pedro é o primeiro a falar.
— Como assim "como"? — Gabi debocha dele. — Não sabe de onde as crianças vem?
Minha filha ri com o jeito da Gabi.
— Ela sorriu pra mim? — Gabi fala e parece está encantada. — Oh pequena, sou a sua tia Gabi.
A Gabi chega perto dela e a estende a mão.
— Mamãe? — Catarina me olha procurando aprovação.
— Se quiser, pode cumprimentar.
Ela pula no colo da Gabi mais rápido do que poderia imaginar.
— Sei que tem muitas perguntas, tentarei explicar tudo, mas no momento espero que aceitem a minha vida como ela é.
— Aceitar? — minha mãe fala. — Não temos o direito de te julgar, afinal, ela é nossa neta — minha mãe começa a chorar. — Eu sou avó.
— Não chora vovó — Catarina diz indo até ela. — Não gostou de eu ser sua neta?
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Segunda Chance
RomanceO tempo é o remédio para curar todas as feridas, disseram a Clarissa. Depois de anos morando fora, ela decide voltar ao Brasil para uma reunião familiar que acontecia todos os anos em sua família, essa seria a primeira depois de anos que ela iria co...