Capítulo 38

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Clarissa

Karla conseguiu uma passagem de última hora para Natal, mas vai ser em algumas horas apenas, como Rafa tinha comentado antes de sairmos de casa.

Mas Karla disse que iria esperar lá mesmo, e pediu para ficar a sós, então nos despedimos e voltamos para o carro.

— Espero que eles se acertem — Rafa disse assim que colocou o cinto de segurança. — Vamos para casa?

— Sim — digo apenas.

Estava pensando na conversa que tive com a Karla e com a minha mãe. Foi um dia longo e ainda nem passamos pelo pior.

— Você está bem? — Rafa me pergunta assim que para no sinal vermelho.

— Sim, só estava pensando.

— No que? — dei de ombros. — Percebi seu rosto inchado quando chegamos, não me parecia ser de sono. O que aconteceu?

— A minha mãe — bufei. Rafa me conhecia tão bem, impossível esconder algo dele.

— O que ela te disse?

— Que eu deveria me casar, porque era uma vergonha para família ser mãe solteira — o sinal fica verde e ele volta a dirigir. — E claro, do meu trabalho e do quanto estava se segurando todo esse tempo para falar o que pensa, porque meu pai á obrigou.

— Você sabe que normalmente não concordo com as besteiras que sua mãe fala, mas acho que dessa vez ela pode ter sua razão — ele fala.

— O que disse? — me exalto um pouco. — Está do lado dela agora?

— Não é isso, só acho que poderíamos casar — ele fala simplesmente, como se não fosse nada demais. — Digo, temos uma filha, namoramos por anos e ainda nos amamos mesmo estando cinco anos longe, por que não? — abro e fecho a boca algumas vezes, mas a voz mal consegue sair.

— Está me pedindo em casamento? — digo em um sussurro.

— Não, digo, sim — ele se atrapalha. Para novamente o carro no sinal e olha para mim. — Claro que esse não é o pedido formal, mas, o que acha?

Arregalo os olhos ao ver que ele realmente está falando sério.

— Rafa, eu... — os carros atrás de nós começam a buzinar. O sinal estava aberto.

Ele volta a dirigir e decido ficar em silêncio.

Será que ele não enxerga as coisas como eu as vejo? Não discutimos sobre nosso relacionamento pós volta a Portugal, e como será com à Cathie.

— Se não quiser eu vou entender — ele fala.

— Não é isso, é que... — dou uma pausa. — Acho que ainda temos algumas coisas para decidir, como, onde iremos morar, a Cathie e...

— A Catarina vai ficar mais feliz que a gente, e meu apartamento já está pronto, se não quiser continuar na sua casa, já que minha mãe mora em frente... — ele falava descaradamente sobre seus planos, ou melhor, planos que diziam ser nossos.

— Rafael! — chamo sua atenção. — Achei que tinha deixado claro — ele me olha rapidamente e depois volta sua atenção ao trânsito.

— O que?

— Eu e a Cathie voltamos para Portugal depois do ano novo — digo o olhando. Ele não me olha ou fala nada.

Permanece em silêncio e estaciona o carro na primeira vaga que encontra na rua.

— Achei que as coisas tinham mudado e...

— Nós não vamos morar aqui, Rafa — digo a ele. — Sei que estamos evitando essa conversa, mas o natal está próximo, e logo depois vem o ano novo, e vamos embora...

— Você vai levar minha filha para longe de novo? Vai fugir de mim?

— Não fale como se fosse uma escolha apenas minha — digo levantando a voz. — Não foi uma escolha minha antes e continua não sendo agora.

— Engraçado você falar isso, eu não obriguei a ir embora — ele diz. — Da mesmo forma que não quero que você vá agora, não quis antes.

— O que estamos fazendo? — sussurro. — Não é sobre nós, Rafael — olho para ele. — É sobre o que é melhor para Cathie.

— O melhor para ela é ficar com seus pais — ele fala firme. — Os dois.

Respiro fundo.

— Você sabe que estou certo, não posso largar meu emprego e ir para Portugal.

— Eu não posso largar meu emprego e vir para o Brasil — dou a mesma desculpa.

— Então é isso — ele fala olhando para frente. — A gente termina de novo, você vai embora e a história se repete.

— Temos uma filha, Rafael — digo de forma dura, não estou entendendo onde ele quer chegar. — Não vamos sumir um da vida do outro, só estaremos longe fisicamente.

— E acha que quero ser pai a distância? Acha que pra mim será o suficiente ver a Catarina nas férias? Eu perdi todas primeiras coisas da minha filha, eu perdi toda vida dela, Clarissa, não aceito que a leve para longe de mim.

— Onde você quer chegar?

— Eu quero a guarda da minha filha.

O choque das suas palavras me deixam sem reação. Não consigo argumentar nem falar mais uma palavra.

— Você o que? — falo depois de um tempo em silêncio.

— Olha, não queria que as coisas fossem assim, mas você ficou com ela cinco anos da sua vida, agora é minha vez.

— Você só pode está ficando louco — afirmo. — Sim, eu cuidei dela por cinco anos, e fiz isso sozinha. Nos dias mais difíceis, nas noites escuras, nas manhãs ensolaradas, nos dias de verão, no frio do inverno, na sua primeira vez na escola, na sua pior febre, eu estava lá, apenas eu! Eu passei pelo pior e o melhor ao lado dela, e superei tudo sozinha, agora não venha dizer que vai tirar minha filha de mim, é por ela que eu faço tudo, é por ela que vamos voltar para Portugal, com ou sem você!

Abro a porta do carro e saio andando o mais rápido que consigo. Meus olhos enchem de lágrimas que querem descer, não as seguro, não posso segura-las. Estou destruída, como alguém que diz me amar pode querer me tirar a minha filha, filha que carreguei por meses dentro da minha barriga, que ensinei a caminhar, e que dedico a minha vida desde então. Como alguém pode ser tão egotista a esse ponto?

— Clarissa! Volte aqui. Entra no carro — ouço ele falar enquanto caminho pela calçada.

Ele me segue com o carro e grita por mim várias vezes.

— Eu nunca deveria ter vindo para o Brasil, estávamos muito felizes, estava me virando muito bem sendo mãe solteira, eu não preciso de você, a Catarina não precisa de você, será que pode fazer o faz de melhor e sumir da minha vida? — grito enfurecida para ele. Sei que minhas palavras foram duras, mas ninguém ameaça tirar a minha filha de mim. — Nos deixe em paz! — grito e desmorono. Choro o que tanto segurei.

Caio no chão de joelhos chorando muito.

— Ninguém vai tocar na minha filha — falo em meio às lágrimas.

Ouço quando ele sai do carro. Logo sinto mãos me rodeando, ele me abraçava forte, mesmo que eu quisesse, não tinha forças para sair do seu abraço. 

Me permito me derramar em lágrimas ali nos braços de quem me causou a dor.

Continua...

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Beijos, Larissa.

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