BERENICE
Guardei as compras e fiz almoço. Levei pra minha mãe junto com os remédios e logo fui tomar um banho.
Deixei a água morna caindo em meu corpo e só sai depois de um bom tempo.
Coloquei um vestido preto de alcinhas e me deitei lembrando da sacola que estava escondida.
— Faz logo essa merda, Berenice — Falei comigo mesma e levantei.
Abri minha gaveta de calcinhas e bem do fundo puxei a sacola.
Voltei ao banheiro e fiz xixi, tampei os testes novamente e comecei a estralar meus dedos, andando de um lado para o outro evitando olhar.
Vi o cronometro do celular e já tinha dado o tempo. Peguei os benditos testes e observei o resultado, joguei na sacola e escondi de novo.
Peguei o cesto de roupa sujas e fui lavar.
O resto do dia demorou pra passar e eu fiquei meio anestesiada.O relógio marcou dezoito e quarenta e eu fui me arrumar. Coloquei uma calça jeans e uma blusa preta discreta, soltei o cabelo e avisei a dona Vânia pra onde eu estava indo.
Entrei na igreja mais próxima de casa, era a que eu ia quando criança e algumas pessoas ainda se lembravam de mim.
Confesso que o maior erro do ser humano é procurar Deus somente quando as coisas estão ruins e eu peço perdão a ele por isso.
A pastora convidada que pregou, começou a louvar um hino que ultimamente me acalma bastante. Eu fui desabando conforme ela cantava (Você consegue sim).
Eu estava de olhos fechados encostada na parede quando senti alguém pegar minha mão. Abri os olhos vendo ela na minha frente me puxando para ficar em pé.
— Moça, eu não te conheço, eu nunca te vi. Mas desde pequena a sua vida não é fácil, desde pequena você sofre calada e isso tá te matando.
Hoje Deus me manda te dizer uma coisa, cuidado com a suas escolhas, minutos de sofrimento pra se livrar de um problema, vão te custar uma vida inteira de alegria.
E mais uma coisa, ninguém consegue ser feliz estando morta, pensa bem. O mundo parece que está se fechando ao seu redor, mas Deus não te deixa. Deus não desistiu de você, porque você quer desistir de alguém ? — Se aproximou do meu ouvido. — De alguém que nem nasceu ainda ? —Me abraçou apertado.
— Tá tão complicado pai, eu confesso, eu tô cansada e não quero mais, to exausta e com medo...— Cantou. — Mas ele tá falando que você consegue sim, que ele é o seu alívio. Então levanta essa cabeça, porque antes da calmaria, o mar fica agitado. Só que ele não te abandona —
Me soltou e chamou uma menina de lá para me abraçar. Eu não sabia nem com o agir, tinha certeza de que foi Deus falando atrás dela, mesmo assim, fiquei baqueada.
Depois do culto a menina que me abraçou pegou o meu número e ficou de mandar mensagem.
Eu voltei pra casa e fui me deitar, eu não tinha cabeça pra fazer mais nada, mas uma pequena esperança pareceu surgir em meu coração.
Acordei na manhã seguinte e fui ajudar minha mãe. Pouco tempo depois me arrumei e caminhei até a padaria. Fiz oque precisava ser feito, desde pães a limpeza e quando deu minha hora eu voltei pra casa.
— Mãe, a senhora comeu ? — Falei abrindo a porta do quarto dela.
— Comi sim, o filho da dona Nalva disse que você pediu pra ele trazer o marmita aqui, obrigada, meu amor — Pegou um papel cobrindo a boca antes de começar começar tossir.
Me aproximei.
— A senhora não tá bem, e sabe disso, não sabe ? — A voz dela estava péssima e a tosse pior ainda. — Mãe, quer ir no medico ? —
— Não Berenice...relaxa — Tossiu novamente. — Pode ir descansar, você saiu daqui muito cedo, fica tranquila, tá tudo bem —
Era mentira e eu sabia bem.
Fiquei mais um pouco com ela e depois fui tomar um banho e lavar o cabelo.
Feito isso, comi alguma coisa e me deitei, quando estava prestes a pegar no sono, meu celular notificou.
Olhei o remetente da mensagem e me levantei, uma preocupação gigante me rondou. Mesmo assim, tomei coragem e fui me aprontar.
Quanto mais cedo contasse, mais cedo minhas preocupações cessariam.
Vesti um short jeans e uma blusa preta, peguei a sacola no fundo da gaveta e fui pro barraco.
Abri a porta vendo ele sentado na cama.
— Oi...—
— Eai...— Olhou a sacola em minha mão. — Que isso aí ? Tá trazendo presentinho é ? —
— Uma coisa importante. E digamos que alguns chamam de presente — Falei quase inaudível e me sentei ao lado dele deixando a sacola na cama. — Espero que entenda, que eu não planejei nada disso...—
— Que porra se tem garota ? Ta parecendo uma muda —
Abriu a sacola pegando oque tinha lá dentro e analisou de perto, mesmo assim, pareceu não entender oque era.
— Só pode ser onda, né ? Chupou pirulito e guardou isso ? Porra é essa ? —
Engoli em seco.
— Comprei na farmácia...são dois testes de gravidez —
Mordi a parte interna da boca enquanto olhava o chão.
— E que merda eu tenho haver com isso ? — Cruzou os braços. Eu o conhecia muito bem, só pelo tom de voz já se via a irritabilidade — Olha no meu olho, caralho ! Eu te chamei pra fuder e tu me fala que comprou teste ? —
Suspirei.
Se gritasse com ele, eu apanharia muito ?
— Caveira, eu fiz os testes e essas duas linhas ai, querem dizer que o resultado foi positivo —
— Se tá grávida ? — Assenti quase não conseguindo o olhar. — Então tu fala com o pai, porque eu sempre usei camisinha. Até quando bebo —
A falta de importância dele para o assunto estava me deixando mais nervosa ainda.
— AMOR DE DEUS !! — Passei as mãos na cabeça estourando. — EU NÃO TRANSO COM MAIS NINGUÉM ! CAMISINHAS ESTOURAM E BÊBADO VOCÊ NÃO PERCEBE, DISSO EU TENHO CERTEZA —
Senti meu rosto arder com um tapa, pela força usada acabei tombando pro lado, eu sabia que ia me arrepender.
— Primeiro tu abaixa essa bola, vagabunda ! — Se levantou. — DEPOIS, TU ENGOLE ISSO AQUI — Jogou tudo no no chão. — Tu procura teu macho, se é que tá grávida mesmo.
Se quer mais dinheiro, avisa. Não vem de golpe não, caralho —— Eu não sou assim, achei que já tinha percebido —
Segurou meu pescoço.
— Achou que eu ia acreditar nessa merda ? Tu é só a minha puta, porra ! — Me jogou na cama. — Da próxima vez que eu chamar, vem sem querer fazer graça — Saiu batendo a porta no ódio.
Fechei os olhos e agarrei um dos travesseiros, lágrimas corriam silenciosas enquanto eu respirava pesadamente.
Quase uma hora depois eu me levantei e peguei os testes do chão. Coloquei na sacola e enrolei, deixei no bolso e voltei pra casa.
Deitei na cama com os olhos ainda inchados e levantei a blusa, como não percebi antes ?.
Como pude ser tão desleixada ?
Sorri querendo chorar e passei a mão na minha barriga.
— Ei, eu vou cuidar de você...mesmo sozinha. E sei, que o papai do céu vai ajudar a gente, e ninguém vai nos acolher e amar mais do que ele —
Funguei e me encolhi lembrando do que aconteceu, um sentimento de vulnerabilidade me envolveu e acabou ainda mais comigo.
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Na mira do Amor
RomanceDesalmado e sem amor, está disposto a lutar pela sua comunidade mas não por seu próprio coração, ele é rancoroso e problemático. O Famoso Caveira leva no peito um ódio mortal por sentimentos e pretende continuar assim. Mas a vida cobra oque não est...