Hóspede indesejada

2.6K 184 4
                                    

BERENICE


Ele tinha prometido voltar cedo, mas já eram duas da manhã e nada.
Eu estava ficando muito preocupada. Ele chegava bem tarde, mas nunca, tão tarde.

Tentei ligar outra vez, e nada. Resolvi tentar no telefone do Erick.


— Fala, filha de Deus — Ri.

— Amém. Cadê o Miguel ? Tô preocupada —

Tá resolvendo um beó daqueles, mas, já já, ele tá aí

Mais ele tá bem ?

Fisicamente sim, mas se ele já era estourado, agora vai piorar

Oque foi ?

Ele te conta, falou ? —


Erick desligou e eu me sentei meio angustiada.
Oque será que estava acontecendo ?.


— Ai filho, logo agora, que ele estava deixando de ser pirado ? — Falei enquanto passava a mão na minha barriga.


Me levantei e fui conferir o sono da Júlia. Ela dormia feito uma princesa em seu quarto.
O Mufaza sempre de guarda ao redor dela.


Desci as escadas e tomei um pouco de água, comi um pedaço de chocolate e subi outra vez, decidida a tentar dormir.

Lá pelas duas e quarenta, o sono foi chegando sorrateiramente e eu com certeza iria dormir, se a porta não tivesse sido aberta.

Vi o Miguel entrar e vir em minha direção.


— Oi — Me sentei.


Dá pra conversar ? — Sentou ao meu lado. — É importante —


— Claro, tá tudo bem ? — Ele não disse nada, apenas assentiu balançando a cabeça. — Pode falar —


— Tu sabe que minha mãe tava presa, né ? —


— Sim —


— A desgraçada saiu ontem —


— Continua...— Pedi pra ele prosseguir e peguei uma de suas mãos.


— Ela vai ficar aqui...— Falou engolindo ódio.


— Porque ? Claramente isso é contra a sua vontade. Porque tá fazendo isso ? —


— Ela é mãe da Júlia...tá ameaçando entrar na justiça — Olhou o chão. — Se ela fizer isso, eu perco a menina e ainda vou preso, não vou poder mais ver vocês, e não te quero enfiada em cadeia —


— Porque ela precisa ficar aqui ? Justamente na sua casa ? —


Sorri de lado tendo uma ideia.


— Olha, eu ia falar com você, pra me ajudar a alugar a casa que ficou pra mim. Mas você pode deixar ela morar lá —


— Eu dei a ideia, ia te pagar uma quantia por mês — Bufou. — Só que, a porra da Célia, não quer, é uma das condições dela. Morar aqui, pra não tirar a Júlia de mim.
Disse que a casa não foi passada pro meu nome e que se alguém entrar aqui vai tomar tudo. Júlia, casa, carro, morro e o caralho a quatro.
Já falei com o advogado, a casa tá sim no meu nome, meu pai colocou sem ela saber, eu ia passar pro nome da Júlia, mas ele disse que isso só vai ajudar a Célia.
Agora, ele tá vendo algum jeito pra mim não ter que matar ela. Na moral, eu só tenho vontade de atirar na cabeça da Célia —


— Olha pra mim — Apertei a mão dele. — Você não vai fazer isso, entendeu ? —

Ele me olhava atento e com raiva ao mesmo tempo. Eu já tinha visto aquele olhar tantas vezes, que já o reconhecia de longe.

Na mira do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora