Nosso milagre

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BERENICE


Me fizeram inúmeras perguntas e eu mal me concentrava, respondia rapidamente oque entendia enquanto tentava assimilar tudo.


— Cadê meu filho ? —

Era notório a diminuição em minha barriga e o vazio que eu sentia agora.

— Ele na-nasceu ? Ele está bem ? —


— Acho melhor seu namorado falar — Deu espaço para Miguel, que se aproximou.


— Como assim, acha melhor ELE falar ? — Senti um nó se formando em minha garganta. — Cadê meu filho ? —


— Calma...— Sorriu e segurando minhas mãos. — Ele tá bem e já tá em casa —


— Eu quero ver ele — Tossi sentindo uma secura imensa em minha garganta.


Os enfermeiros me ajudaram a sentar e uma dor chata tomou conta das minhas costas por um tempo.


— Bom, você está aparentemente bem, mas vamos ver como fica de hoje pra amanhã. Se melhorar, te levaremos pra observação e então terá alta e poderá ficar com seu filho — Olhou o relógio.
— Daqui duas horas viremos te buscar pra fazer alguns exames e ter certeza total de que está bem.
Berenice, pelo estado em que chegou aqui, é óbvio que tivemos que fazer uma cesariana em você, então, são quarenta dias de cuidados, você está no puerpério, precisa de descanso. Por favor, não se levante sozinha, peça ajuda. Eu venho dar mais recomendações na hora dos exames.
E uma última coisa, é provável que você sinta desconfortos ao sentar, mover o pescoço e mais algumas coisas, pois como já havia dito quando entrei, a bala que foi retirada do seu pescoço, ficou a um centímetro da coluna. Você ainda está em recuperação, os tecidos estão inchados e consequentemente apertando sua coluna cervical. Até cicatrizarem por completo, é normal.
Por agora é só, nos deem licença —


Concordei e o médico junto com os enfermeiros saíram.

Eu mal pude olhar outra vez o Miguel, recebi um forte abraço e sorri.


— Eu tive tanto medo — Cheirou meu cabelos e fechou os olhos.


— Eu tô bem...— Apertei a camisa dele, lembrando do que me aconteceu antes de cair. — Mas também tive medo...—


— Me desculpa — Se afastou o suficiente para me olhar. — Me desculpa por ter te deixado só, eu não deveria ter feito aquilo —


— Você tinha um lugar inteiro pra proteger, e eu estava nesse lugar, os seus filhos também. Eu te entendo, não se culpa —


— Mas você e o bebe eram a prioridade no momento, entende ? —


— Se eu não estivesse lá...a gente nunca mais ia ver a Júlia — Uma dor me invadiu o peito e o choro dela me veio a cabeça. — A sua mãe ia levar a Jú embora. Eu só desconfiei porque ela queria muito me trazer pro hospital, foi no quarto duas vezes me perguntando como eu estava. Na segunda vez, ela não estava de camisola, já parecia pronta pra sair, mesmo assim disse que ia se trocar.
Eu lembrei de um vestido da Júlia no chão do quarto dela, ele não estava lá mais cedo, e algo dentro de mim me avisava que tava acontecendo alguma coisa errada desde que você saiu.
Eu ouvi um grito da Jú e peguei sua arma, procurei ela no andar de cima e depois desci.
Vi sua mãe na porta, ela me falou coisas absurdas, tentei acalmar ela e a Júlia, mesmo com dor eu não hesitei, eu sabia que ela ia atirar, só gritei pra Júlia abaixar e atirei também.
Depois disso, Célia e eu caímos, Júlia correu pro meu lado e eu estava sangrando demais.
A última coisa que me lembro, foi de ter pedido a Deus pela vida do nosso bebê enquanto ouvia a Jú chorar.
Eu nunca senti tanto frio e medo e nunca fiquei com a mente tão vazia —

Na mira do AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora