Vai ficar tudo bem

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BERENICE


A cada tiro disparando na comunidade, meu coração apertava mais.

Minhas dores aumentaram e a sensação ruim que eu sentia também.


— Meu Deus, cuida dele — Ouvi mais disparos e fechei o olhos tentando me manter calma.


Senti uma nova onda de dor e apertei os lençóis.
Mesmo que não fosse indicado num momento de invasão, eu me levantei.


Fui ao banheiro e lavei o rosto, estava pra lá de vermelha, peguei uma toalha e umedeci, coloquei em minha nuca pra ver se eu relaxava, mas não adiantou.


Será que meu destino era esse ? Dar a luz sozinha, com o pai do bebê correndo risco de vida ?.


— Meu Deus, oque eu fiz de tão errado ? — Sai do banheiro e vi a Célia no meu quarto. — Oque você quer aqui ? —


— Só vim ver como você tá — Sorriu. — Esta com muita dor ? —


— Elas vem e vão, mas cada vez mais forte — Me encostei na parede. — Porque ? —


— Nada. Eu já pari, sei como dói, é horrível estar só — Eu a olhava desconfiada. — Eu tive a Júlia assim, senti dor o tempo inteiro e não tinha ninguém lá. Foi o único momento que senti arrependimento pelo que fiz —


Confesso, naquele momento senti dó dela.


— Deve ter sido horrível —


— Foi...— Aproximou-se. — Vem, senta aí, tenta relaxar —


Ela me ajudou a chegar na cama, e ficou ali, conversou comigo, me distraiu e quando outra onda de dor veio, ela segurou minha mão.


— Você tem que ir pra um hospital — Tirou meus cabelos do rosto. — Precisa de um médico —


— Eu sei, mas não tá na hora, e não tem ninguém pra me levar — Meus olhos se encheram. — Eu não quero ter esse filho sem o Miguel por perto —


— Eu sei, mas se eu achar a chave do carro, eu te levo — Levantou.


— As coisas não estão boas lá fora, é melhor esperar — Um raio clareou tudo através da janela.


— Você tem razão, é melhor esperar. Eu acho melhor te deixar em paz, mas, já já, eu volto. Você quer comer alguma coisa ? —


Neguei estranhando a mudança repentina dela.


— Não precisa, pode ir — Ela saiu calmamente.


A conversa foi estranha, ela não tratava ninguém bem, a não ser a Júlia.
Lembrando dela, me levantei e fui vê-la.


Entrei no quarto e a vi dormindo, o sono era tão tranquilo que podia se dizer que nada acontecia ao seu redor. Desejei ser uma criança e passei a mão pela cabeça dela.


— Que bom que você está dormindo — Sorri e a deixei quieta.


Estava pra sair do quarto quando vi um vestido no chão, eu até pegaria mas no momento estava mais difícil que nunca pra abaixar, deixei ele ali mesmo. Mas estranhei e procurei o porque dele estar no chão, quando a coloquei pra dormir ele não estava lá.


Sai pra não fazer mais barulho e encostei a porta.


Voltei ao meu quarto e deitei na cama, sentindo mais dor, fechei os olhos e abracei minha barriga enquanto ouvia a chuva lá fora.


— Só mais um pouco por favor, meu amor, só mais um pouco —


Ouvi gritos misturados com tiros ecoando pela comunidade e imaginei algumas cenas não muito boas.

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