BERENICE
Acordei cedo como sempre e cuidei da minha mãe.
Com três semanas sem quimeo a situação não está boa, ela diz que pelo menos consegue comer sem sentir ânsia e me proibe de tocar no assunto do tratamento.— Mãe, tô indo, qualquer coisa liga —
— Tá bom, amor, se cuida —
Eu já tinha visto sangue em alguns papéis lá no lixo do banheiro, ela não era boa em esconder as coisas.
No dia que vi, eu me senti tão inútil, chorei de maneira amarga e dolorosa.
Mais dez dias se passaram e desde o dia que contei pro Erick, o Caveira não me procurou nem me chamou mais.
Quando me vê no morro, finge que não sou ninguém, como de costume, é claro.
Eu estou senguindo tranquilamente, me cuido, cuido da minha mãe e resolvo meus problemas com a ajuda de Deus.
Entrei na padaria e coloquei minha touca e avental.
Fiz alguns bolos e doces durante a tarde e depois limpei o chão e balcão outra vez. Logo os clientes foram chegando.
Lá pelas cinco da tarde vi minha cliente preferida entrando.
— Oiiii, meu amooor — Me abaixei abraçando ela e depois me levantei com a mesma no colo.
— Tia, hoje tem doce ? — Julia beijou minha bochecha.
— Tem sim, mas a senhora, não pode ficar comendo doce não — Ela riu fazendo bico.
Eu sei que Julinha é irmã do Caveira, ela vem frequentemente com a Beth.
Desde que mal sabia andar, já vinha a esse horário, sempre para comprar alguma coisa pro café da tarde.Eu peguei um carinho muito especial por ela.
Cheguei perto da vitrine.
— Cadê a tia Beth ? —
— Ela tá na casa dela, ué — Deu de ombros e mostrou oque eu queria.
— E tu desceu sozinha ? — Arregalei os olhos e ouvi uma voz que me deu calafrios.
— Já falei pra tu não correr...— Pareceu ter ouvido um pedaço da conversa. — Tá sozinha não...—
Se encostou na parede e cruzou os braços.
Fiz a indiferente e continuei falando com a pequena.
— Meu amor, eu vou pegar, tá ? — Deixei ela no chão outra vez e fui pegar os doces.
Julia escolheu dois sonhos, dois canudos de doce de leite, dois pedaços de pudim e dois pedaços de bolo de prestígio.
Por fim, o irmão dela pediu seis pães de sal.
— Aqui, minha linda — Entreguei as sacolas de coisas doces, pra ela e a de pães, pro Caveira, que pagou tudo e saiu andando. — Tchau, Juju — Ela jogou beijo e saiu correndo atrás do babaca.
CAVEIRA
Cheguei na minha goma e fiquei na miúda, não vi ninguém no andar de baixo e fui pra cozinha com um caderno e calculadora resolver algumas coisas.
Vez ou outra escutava Julia falando com a Beth, dessa vez a senhora tava chamando ela pra tomar banho.
— Julinha, bora tomar banho ? — Ela respondeu animada. Essa menina parece um peixe.
Passado mais algum tempo eu terminei as contar e fiquei no celular.
— Tia Beth — Ouvi a Julia, ela estava na sala outra vez. — Posso tomar sorvete ? —
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Na mira do Amor
Lãng mạnDesalmado e sem amor, está disposto a lutar pela sua comunidade mas não por seu próprio coração, ele é rancoroso e problemático. O Famoso Caveira leva no peito um ódio mortal por sentimentos e pretende continuar assim. Mas a vida cobra oque não est...