Por baixo da superfície calma

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  Não foi fácil para Ava atravessar os três metros de muro e quando ela saiu estava apavorada.Saiu no meio,pálida e perdida. Beatrice sentiu que queria fazer mais,ajuda-la a passar por aquilo.Foi quando falou que estaria com ela e pensou num modo de guia-la .Como sempre a Dra Salvius deus um rápido jeito mesmo não sabendo como os comunicadores reagiriam em tanta massa densa. Sobrou tempo para uma piadinha costumeira antes dela tentar novamente mostrando que confiava em Beatrice totalmente.Meio que funcionou poder ouvi-la falando onde ela devia ir, mas o pavor da energia do halo se esvaindo e dela ficar presa naquele concreto era bem mais forte. Teriam de arrumar outro jeito porque a covardia que lhe era velha amiga estava rondando com vontade.Nessa hora Lilith desaba na porta chamando seu nome e tudo volta a ser ainda mais confuso.

  Depois de se certificarem da saúde da amiga e tentarem entender por cima o que havia acontecido com Lilith,era hora de voltar ao problema: AVA>HALO>PAREDE. Mas saindo do quarto Beatrice viu a garota escorada,sinal que se importava,mas já fugindo,como sempre.Por medo na maior parte.Afinal Lilith tinha mesmo tentado pegar o halo enquanto ela ainda "usando ele" . Mas algo na maneira que Beatrice perguntava as coisas e sua voz cadenciada e calma faziam Ava se concentrar mais no que era o certo. Foi quando Camila apareceu e lhes entregou o diário com alguma história para ajudar Ava a ter mais energia. E foi daquele momento,quando leu para Ava a história da irmã guerreira Melanie, que Beatrice percebeu que tudo dentro dela estava reagindo e as coisas que ela queria calar gritavam por ela e não importava fugir,aquilo era parte dela e teria que lidar com isso mais cedo ou mais tarde.


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  A pergunta de Ava sobre a irmã Melanie fazia sentido,como podia ser freira e judia?Já que ela havia saído de um campo de concentração. Beatriz tenta não transparecer o medo em falar daquele assunto quando diz que os nazistas prendiam pessoas que eram diferentes e que a irmã Melanie era Gay. Ela temeu dizer aquilo e ver a reação de Ava mas a garota lhe arrancou mais um sorriso quando falou com naturalidade e boca suja como sempre,de como os nazistas eram por julgarem assim. Enquanto para Beatrice aquilo se tornava cada vez mais pesado de ler,Ava estava encantada com sua habilidade de traduzir textos em outras línguas,Beatrice era fodona em muita coisa -  ela pensou ,ficando empolgada com aquilo e ainda mais com a história narrada por Beatrice. Ela achou maneiro a tal irmã ser lésbica sem perceber como aquela palavra parecia queimar a boca de Beatrice,e quando cortou os inimigos com sua espada parecia uma criança ouvindo uma história de herói,até se dar conta de como estava sendo doloroso para a garota a sua frente ler aquilo. Quando ela leu : Parecia aliviada sendo eu mesma - Beatrice quase desaba e nessa hora ela percebeu que algo estava errado.

 Quando ela leu : Parecia aliviada sendo eu mesma - Beatrice quase desaba e nessa hora ela percebeu que algo estava errado

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   Ela bem que tentou perguntar o porque ainda mais quando Beatrice chorou,mas claramente a aspereza da resposta da freira não ajudou muito a sanar a questão do porque ela estava reagindo assim. Ava percebeu que era um assunto delicado até finalmente entender o real motivo e isso...isso esclareceu muita coisa.


- Quer conversar? Perguntou Ava preocupada

- Não é nada. Está tudo bem. Eu...

-  Chorar pela história de uma Irmã Guerreira que acessou a própria fúria não é nada?

 - Sua ignorância é desmotivante às vezes. Beatrice estava em modo defesa.

- Ei!Por que está assim?

- Como sempre,não entendeu a questão.A irmã Melanie acessou algo elementar da alma dela.Isso amplificou a energia do Halo.Se quer atravessar 6m de pedra,precisa penetrar sua dor íntima. 

- Tá, mas por que está tão brava comigo? Ava parecia assustada e magoada com aquela reação súbita.

- Não estou brava com você.Desculpe.

- Desculpe eu!Diz Ava com seu jeitinho de menina.

- Não é você.Foram todos, menos você. ( Ao dizer isso ela suspira e se abre como nunca faz) Minha vida inteira,tentaram me fazer ser algo que não sou.Me fazer ser "normal"ou, no mínimo, "tolerável".Eu me versei em tantas coisas só para ainda ter algum valor apesar dos meus defeitos,ou do que me ensinaram que eram defeitos.É óbvio que tentei me adequar...mas, quando se é punida só por ser diferente,começa a odiar o que se é.E o que ama.O que deveria dar felicidade..só traz dor.A dor foi o que me tornou uma Freira Guerreira. (ela finalmente tinha liberado aquela verdade presa ha tanto tempo sufocando)

-Não odeie o que você é. o que você é é lindo! Ava fala com muito sentimento e vê nos olhos de Beatrice um misto de gratidão e alívio. - Lamento sua dor.

- Não lamente.Porque agora vamos acessar a sua dor.


       Naquele momento,tudo pareceu se encaixar em algo maior.Tudo que Beatrice dissera antes,sobre todos terem segredos e sobre quem ela era,o modo como se resguardava de certas coisas e como parecia sempre estar se cuidando de algo.Agora fazia sentido. Ava sentiu uma sensação que não soube identificar ,um misto de achar que aquilo era absurdo se torturar assim por algo que devia ser natural e ao mesmo tempo de pensar na dor de Beatrice sentiu vontade de chorar com ela.

  Para Beatrice aquela tinha sido uma história que a libertara de uma certa forma,mas não entendia o que estava sentindo agora.Talvez fosse a proximidade da missão que lhe deixara achando que era boa ideia admitir para si mesma quem era ...fosse como fosse ao ouvir Ava dizendo que ela era uma pessoa linda,a garota só conseguiu sentir seu coração ficar quentinho.

Quando o amor é mais forte - Avatrice -Onde histórias criam vida. Descubra agora