Capítulo 39 - Amor como estímulo

11 1 18
                                    


O som de goteiras foi a primeira coisa que percebeu ao acordar. Shiro estava dentro de um quarto que lhe lembrava o calabouço em ruínas do Congresso dos Bruxos Remanescentes do Sol e da Lua. Ah não... de novo não! pensou achando que tinha retornado para aquele fim de mundo. Mas a verdade era que nem na Terra Simples ele estava.

Estava ainda na Avenida dos Feitiços, porém em um local bem longe na fronteira da região central com o Noroeste. Estava preso em um castelo abandonado no meio da floresta de Kobe, aproximadamente 200 km de distância do ponto onde fora capturado por Mancha e sua trupe.

A primeira coisa que fez quando recuperou os sentidos foi vomitar. Vomitou tanto, mais tanto que achou que seu estomago também sairia, e gostaria que isso fosse possível, pois estava doendo demais e provocava-lhe náuseas fortes – uma certeza de que vomitaria ainda mais futuramente.

Agitou os braços e sentiu o peso das correntes, havia uma também em sua cintura e nos tornozelos. A realidade lhe caiu rapidamente, era um refém e sem possibilidade de pedir ajuda aos companheiros. É agora que eu morro, dizia seu pessimismo desenfreado. Mas isso não aconteceu, pelo menos não nas primeiras 4 horas de sequestro.

E sem o menor contato com o lado externo, Shiro Almanca foi, aos poucos, sendo consumido pelo próprio tédio. Então...

Atchoo!

Ouviu o som de um espirro vindo da escuridão do calabouço e isso o acordou instantaneamente. Olhou ao redor, mas não via nada, não sentia nenhuma ínfima presença ali, então imaginou que fosse sua imaginação, que poderia estar surtando (não estranharia se estivesse), mas sua reflexão mudou após ouvir o som novamente, seja quem for estava tendo uma forte crise de rinite.

Atchoo!

− Que o Grande Théo, deus da vida vos ilumine. – Disse Shiro ao desconhecido, esperando quem sabe uma resposta.

− Vida longa à Théo. – Ouviu. Seu coração parou de imediato com a certeza de que havia um companheiro de cela. O desconhecido ficou tão chocado quanto ele, e os dois gritaram em uníssono:

− Tem mais gente aqui?!

− Onde que você está?! – Perguntou Shiro, eufórico.

− Onde que você está?!

− Ah eu estou ... – Almanca procurou por algo que serviria para indicar sua localização dentro da sala. – Estou próximo da porta!

− Ah, bom lugar, não consegue me tirar daqui?

− Mas onde você está?

− Estou dentro de um cubo mágico! A aquela víbora em forma de gente me prendeu aqui e têm absorvido meu poder constantemente. Se você puder jogar sua energia mágica contra as paredes deste cubo ridículo tentando rompê-las, posso profana-las e ...

− Me desculpa, mas não sei usar feitiços. Sou um assintomático.

Assintomático, um indivíduo incapaz de fazer feitiços, ou seja, incapaz de ajudar Peke.

O silencio rompeu de imediato.

− Ah então acho que vamos ser companheiros de cela por um tempo... – Concluiu. – Me chamo Peke.

Shiro ficou boquiaberto.

− O INVESTIGADOR PEKE?!− Gritou ele.

− Sim, sou eu. – Peke respondeu tranquilamente – Então é um oficial? Qual seu nome? Qual liga?

− Me chamo Shiro Almanca, recruta da Liga Nacional. Participei da missão da Rua Cliver com o senhor.

− Ah... – Soltou Peke, surpreso. Apesar de que ele não se lembrava de Shiro. – A Liga está nos procurando?

Avenida dos Feitiços: O Conto do Horror. (LIVRO 01)Onde histórias criam vida. Descubra agora