Capítulo 43 - O espírito e os homens maus

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Depois de sentir o peso das mandíbulas dos espíritos profanando sua pele, senti-los sugando sua alma, Daniel recobrou a consciência graças a colisão contra o chão. Uma marionete o jogou no calabouço, e ainda tonto, ele ouviu a risada dela se distanciar, a porta bater com uma força gigantesca e o então o silencio retornar.

Seus sentidos ainda estavam bem atrapalhados. Sentia também um forte enjoo. 

Raios solares atravessavam a janela localizada no alto, mas eram tão pequenos que não iluminavam nada. Ele não conseguia se mexer, sentia seu corpo pesado como se tivesse toneladas em cima de si e realmente tinha.

Ouviu grunhidos, o som de alguém mastigando algo, olhou para a direção do som e viu um espírito persistente ainda se alimento de seu corpo.

− Daniel! – Ouviu a voz que tanto ansiava, a voz de Shiro Almanca.

A voz de Shiro parecia distante, Daniel mal conseguia vê-lo ali e o motivo era o espírito devorando seu corpo. Era uma criatura grande, o corpo inteiro estava inchado como um barbeiro se alimentando de sangue, estava cheio porque se alimentava de Daniel. Seus olhos estavam vermelhos e cheio de êxtase enquanto saboreava com mordidas ferozes e profundas a pele de seu alvo. Ela mordera o ombro com tanta força que a região ficou roxa, um líquido azulado e escuro saía de sua pele machucada. A dor era imensa, mas ele não sentia, não sentia nada, a realidade não o tocava.

Daniel estava perdendo os sentidos aos poucos, o primeiro a ser comprometido foi sua audição, depois o paladar, o tato foi o terceiro a ser perdido e por último a visão.

Sensações ruins brotavam em sua mente causando alucinações, ouvia o choro de várias crianças, os gritos de várias pessoas, sentia como se alguém estivesse cortando seu peito e arrancando cada um de seus órgãos e que continuava fazendo isso eternamente.

Shiro não estava tão longe dele, ele tentou se arrastar até o amigo. As correntes que o prendiam eram longas o suficiente para isso, mas o espírito lhe lançou um olhar feroz, alertando para manter distância de sua presa. Shiro o encarou também furioso, não deixaria que ele continuasse comendo o amigo, mesmo com o olhar ameaçador do monstro, ele ousou se arrastar até Daniel.

− Não faça isso! – Gritou Peke para Shiro. O fantasma sentia as tremulações e instabilidades em cima da energia de Daniel, ele sabia que tinha alguém sugando a alma do recruta e também sabia o que este hospedeiro cruel faria caso Shiro tentasse alguma coisa... – Este é um espírito devorador, se ele largar seu amigo, virá em sua direção!

Enfurecido, Shiro gritou:

− Então que você sugere?! Ele vai morrer!

O fantasma agradeceu por não ver tudo perfeitamente, porque era uma cena muito grotesca para ser vista. Quando um espírito faminto afugenta a presa, ele joga sobre ela tudo o que carrega consigo, que nada mais é além de sentimentos pesados que o impediu de seguir sua jornada pós vida. Ele causava alucinações em suas presas.

Daniel estava ouvindo os gritos e a tristeza do próprio espírito quando vivo, ouvia os desamparos, os medos que ele sentira enquanto era morto. Era a pior sensação do mundo, a mais pesada de todas.

Daniel tentou se lembrar de uma magia para expulsar o espírito, pensou na usada por Hyunna durante a infestação demoníaca. Ele chegou suas mãos direita perto do rosto do espirito e fez o encantamento:

Restitui Egressus. – Disse, e com dificuldade criou uma abertura dimensional que tentou sugar o espírito. Shiro se aproximou e o segurou sua perna não fosse levado junto.

A criatura foi totalmente engolida e Daniel caiu, ofegante. O espírito sumiu, mas as alucinações continuaram perpetuando na cabeça dele, todos os outros sons pareciam distantes, tampados pelos gritos de horror que ouvia incansavelmente.

Avenida dos Feitiços: O Conto do Horror. (LIVRO 01)Onde histórias criam vida. Descubra agora