Capítulo 6- O tudo ou nada

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Foi a primeira vez que viu demônios e Daniel jurou para si mesmo que não haveria uma próxima. Os arredores de onde estava se tornaram escuros, algo tampava a luz das lâmpadas espalhadas pelo teto, foi quando viu o que vinha. Uma enorme massa de gordura, com dentes gigantes, mãos brancas e ossudas caindo em sua direção, como se fosse uma bola enorme. Um demônio vindo do teto.

Peke tentou lidar com aquilo o mais rápido que pode, ele usou a mesma magia. Mas o demônio vinha muito rápido, como uma bola girando em velocidade máxima, só aquele feitiço não bastou, e a barreira que conjurou não foi o suficiente, isso porque o nervosismo de seu hospedeiro o atrapalhou, suas emoções fizeram com que seu corpo rejeitasse o fantasma, e o mandasse para longe. Na hora que se desligaram, foi quando o demônio caíra resultando na explosão.

Daniel foi o primeiro a abrir os olhos, além da audição atormentada, seu corpo estava dolorido, parecia que uma carreata inteira havia passado por cima. Ele viu que Peke estava mais próximo, porém inconsciente, e mais distante estava Shinobu também desmaiada.

− Shinobu... – Gemeu seu nome. Aos poucos foi tentando se levantar, mas suas pernas estavam pesadas demais. E ele congelou quando encarou o monstro.

Uma criatura gigantesca que tinha oito olhos vermelhos, um nariz bem longo do qual saia alguns bigodes, seus chifres eram visivelmente pontudos e de tamanho médio. As garras arranhavam o chão e o apodreciam, dois pares de presas saíam de sua boca, ele rosnava enquanto caminhava em direção ao grupo, seu primeiro alvo seria Shinobu, ela estava bem na frente dele. Desesperado, Daniel Mark chamou por Peke:

− Peke, acorde! Peke! − Mas não tivera resposta. Daniel estava sedento de ódio pelo fantasma que o enfiara naquela batalha louca contra monstros com o dobro de sua altura ou mais. Mas nada comparava ao ódio que sentia por si mesmo.

A possível morte de Daniel desesperou Elizabeth, cega pelo medo de perdê-lo, a tenente tentou agir rápido, teve dificuldade para tirar a Dança dos Cisnes das entranhas de Benjamin, a espada estava presa em uma bomba de veneno que explodiu no momento em que ela retirou a lâmina. Mas aquilo não lhe surpreendeu tanto quanto ver a cabeça de Benjamin tombar e começar a tagarelar:

− Agora é tarde! – Gritava a cabeça − Vocês acharam que não estaríamos preparados para a vinda de vocês?! Idiotas! Este é só o começo, isso é o que vocês merecem, por tudo!

A boca da marionete se abriu e uma luz vermelha brilhante como uma chama acendeu do interior da garganta, Shin Keiuchi previu o que aconteceria e correu para agarrar Elizabeth e os dois se jogaram no chão, longe o suficiente de Benjamin que explodiu em mil pedaços. Elizabeth levantou a cabeça rapidamente para procurar pelo irmão, mas tudo o que viu foi uma enorme cauda separando as equipes, a cauda do monstro mantinha ele, Shinobu e Peke presos.

Achando que ia morrer, Daniel começou a refletir sobre a própria vida, sobre como se arrependia de estar na Liga Nacional, sobre seus medos que o dominavam e o tornava incapaz de confiar em si mesmo. Ele sabia que tudo seria diferente se tivesse dito que não queria fazer a maldita inscrição. Se tivesse sido fiel a sua vontade, estaria em casa agora.

Estava com medo, um medo absurdo, a mesma covardia que sempre tinha, que o fazia aceitar tudo que lhe era imposto e ignorar sua própria opinião. Refletir sobre isso nos seus momentos finais servia apenas para jogar em sua cara o quão deplorável fora sua vida. Essas reflexões sobre si mesmo só deixavam mais claro que sua morte era eminente.

Chegou a conclusão de que ter esses pensamentos na hora que vai morrer é mais torturante do que a própria morte. Ele começou a chorar ali, olhou ao redor procurando alguém para socorrê-lo, mas não via nada além de seus companheiros lutando.

Avenida dos Feitiços: O Conto do Horror. (LIVRO 01)Onde histórias criam vida. Descubra agora