Capítulo 15

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Giovanna Martins

Abro a porta e meu sangue parece parar de correr pelo meu corpo com a imagem que vejo. Santiago está em pé com as mãos no bolso do casaco do conjunto de moletom e me olha, fazendo tanta pressão no maxilar, que consigo ver sua mandíbula tensionada.

— Boa noite — ele diz seco, vim ver o Christian, posso entrar? — Dou um passo para frente e mantenho a porta entre aberta, sentindo a necessidade de adiar esse encontro. — Desculpa, eu não queria incomodar — seu olhar vagueia pela casa através da fresta da porta em busca de algo ou alguém. — Só quero ver meu filho, Giovanna.

— Quem é amor? — De longe Bruno pergunta.

Ao ouvir a voz de Bruno, Santiago dá um passo para dentro da casa e força sua entrada.

— Eu só quero ver meu filho! — A voz dele está mais rouca e parece vibrar nos meus ouvidos.

Desisto de tentar fazê-lo desistir de estar ali, e abro a porta completamente, dando a ele a passagem que deseja. Bruno vem pelo corredor com Christian no colo, e quando meu filho vê o pai, escorrega pelos braços que o ampara, e corre em direção a Santiago, saltando em seu colo, sendo recebido com alegria. Santiago o pega no colo e o abraça com carinho pressionando o pequeno corpinho contra o seu.

— Papai, ganhei um binquédo novo!

— Se diz, brinquedo, filho. — Sorrindo e ainda apoiando as mãos na nuca do menino, pressionando contra seu corpo, Santiago o ensina.

E quando ele finalmente põe o menino no chão, me olha com o olhar mais suave. E pelo visto, essa é a hora da constrangedora apresentação. Tento manter a minha voz em tom tranquilo, mas isso não existe. Dentro de mim, há um gêiser espirrando água fervendo para todo lado.

— Bruno, amor... Esse é o Santiago, o pai do meu filho. E Santiago esse é o Bruno, meu namorado. — Minhas palavras saem trêmulas e inseguras. Eu sabia que um dia teria que fazer as apresentações, mas não pensei que fosse tão cedo.

— Prazer, Bruno Henrique — o braço de Bruno se estende e sua mão se abre em direção a Santiago, com o olhar cheio de questões.

— Santiago Castillo — as mãos grandes se apertam com força, e logo depois a cordialidade se desfaz.

O ar está tão denso que mal consigo respirar, a sensação é que vamos ter um exemplar de uma briga em ringue, tudo à minha volta parece girar.

Respiro fundo e tomo a palavra.

— Bruno, você pode me dar licença, preciso conversar com o pai do meu filho em particular.

— Tudo bem, vamos lá garotão? — Bruno dá as mãos à Christian e se afasta de nós, consigo ver os olhos brilhantes do menino olhar para o pai, apelando para que ele fique.

Quando percebo que estamos em uma distância segura, rosno zangada.

— Santiago, você não me ligou! Não disse que vinha, eu estou recebendo uma visita.

— Não quero causar problemas — ele tenta se manter calmo, mas vejo que seu olhar está completamente duro, e sua voz rouca rosna feito um animal feroz.

— Você não pode aparecer na minha casa, de uma hora para a outra com a desculpa de que quer ver o Christian!

— Giovanna! — ele explode. — Seja racional! Você não pode me impedir de ver meu filho na hora que quero! Se venho você reclama, se não venho você também reclama, o que quer de mim? Será que posso pelo menos cumprir o meu papel de pai em paz!

— Não venha se fazer de vítima! Você sabe que não merece. Só está aqui por causa do meu pai, pois por mim, você nunca se aproximaria do meu filho! — Os sentimentos começam a se confundir, a mágoa do passado junto das lembranças terríveis me faz encher aquela conversa de rancor e levá-la a um rumo diferente.

No mesmo instante que a frase sai dos meus lábios, carregada de rancor, a sombra de Bruno aparece na porta. Ele está tão tenso quanto Santiago . Eu apenas sustento a raiva que explode dentro de mim feito um vulcão em erupção enquanto minha mão ainda aperta com força a maçaneta da porta.

— Desculpa, não pude deixar de ouvir a conversa. Sei que sou novo por aqui, mas — ele se aproxima de mim e pega as minhas mãos. — Meu amor, não temos porque tornar nosso convívio algo desagradável, somos homens — Bruno olha para Santiago —, maduros e adultos, vamos saber lidar com a situação sem deixar você e o Christian desconfortáveis, não é mesmo, Santiago?

Da entrada da casa, Santiago confirma com a cabeça, mas seus lábios permanecem cerrados e seu semblante continua duro.

— Não quero causar confusão, eu queria levar o Christian para passar a noite comigo.

Rio sem humor e o encaro.

— Santiago, eu não vou deixar você levar o menino para passar a noite em um hotel, ou seja lá onde você esteja dormindo. E nem pense que vai levá-lo para aquela casa!

— Não estou morando em um hotel, eu disse: comprei uma casa. — Ele suspira cansado e passa as mãos por cima da barba.

— E onde está morando? — Pergunto.

— Na casa ao lado!

Bruno me abraça pelas costas, me fazendo sentir sua propriedade quando percebe o mesmo que eu.

— Então — com o cenho franzido tento entender. — Você comprou a casa ao lado da minha?

— Sim, e agora vamos ser vizinhos — sinto grande dose de satisfação sair de seus lábios em dizer isso. — Eu estava resolvendo os trâmites da compra da casa, e me instalando, agora está tudo pronto, por isso passei todos esses dias distante.

Virada de jogo. O pai do meu filho não é tão canalha, ele é um calculista dissimulado que age feito um psicopata às vezes.

Respiro fundo com a virada de jogo.

— Tudo bem, então...

Quando tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora