Capítulo 17

1.5K 146 4
                                    

Santiago Castillo

— Pronto filho? — Falo antes de apagar todas as luzes.

— Sim, papai! — ele confirma se enfiando dentro da cabana improvisada que fizemos com um lençol.

— Um, dois... e três! — apago todas as luzes e meu filho liga as lanternas sorrindo, me aperto dentro da cabana e apontamos as lanternas para o alto, levando as nossas imaginações a acreditar que estamos em um acampamento no meio da selva africana.

Me remexo sem nenhum espaço para esticar as pernas.

— Filho, acho que essa cabana ficou pequena e eu...

— Shhh, não pode falar papai — ele aponta o indicador para os lábios, enquanto liga e desliga a lanterna. — Não pode falar, os bichos vão achar a gente.

Apoio a lanterna na barriga, e faço imagens de animais na sombra arrancando sorrisos do meu filho. A brincadeira é divertida, e mesmo lutando contra o sono, sei que ele está fazendo muita força para não dormir. Talvez ele tenha medo de que quando acordar, eu já não esteja mais aqui para abraçá-lo e fazê-lo sorrir.

— Filho — giro a lanterna em direção ao seu rosto e vejo seus olhos brilhantes e pequenos de sono. — Você pode dormir, papai vai estar aqui quando você acordar.

— Não vai embóa, papai? — ele pergunta.

— Não filho, eu não vou embora, eu nunca mais vou embora. — Puxo seu corpinho para cima do meu peito e ele me abraça, já não mais resistindo ao sono e dorme profundamente.

Depois de colocar o menino na cama, desço para a sala onde montamos o acampamento, e quando começo a recolher as coisas, ouço batidas na porta, e a campainha toca.

Sorrindo e já sabendo quem é, abro a porta, e lá está a pessoa que me faz sentir vontade de rir mais alto.

— Giovanna? — Finjo surpresa e enquanto abro a boca em deboche. — Atravessou o oceano para chegar até aqui? Até que chegou rápido — zombo e ela me encara séria.

— Eu vi luzes piscando, fiquei preocupada — seus olhos vagueiam pelo chão e depois olham para mim.

— Luzes piscando? Me deixa adivinhar... pensou que tivéssemos sendo abduzidos por alienígenas? — Rio, mas ela me encara com o semblante vazio e me dá um soco leve no braço, indicando que não tive êxito na minha piadinha.

— Para de gracinhas, Santiago. É a primeira vez que ele dorme fora de casa sem mim, e eu sou mãe e você é pai, deveria saber como me sinto.

Deixo o semblante sério levando em consideração sua preocupação de mãe.

— É claro que sei como se sente. Quer entrar? — Abro a porta e gesticulo para dentro da casa.

Segurando as mãos e um tanto sem jeito ela entra e olha tudo em volta.

— Não sabia que gostava desse tipo de móveis — ela comenta com uma análise crítica.

Ela sabe que não gosto de modernidade, sempre preferi ambientes mais rústicos, que me remetam a minha infância.

— Quando comprei a casa de porteira fechada, também não tive tempo de comprar nada novo.

— Você é dono de uma empresa de móveis planejados. Por que não manda fazer móveis sob medidas?

Sorrio e acendo a luz da sala, mostrando a bagunça de brinquedos; almofadas e a cabana feita com lençol.

— O que estavam fazendo acordados até essa hora? — Ela pergunta.

— Brincando de acampamento na sala. Ele dormiu a poucos minutos — respondo catando os objetos que estão espalhados.

— Santiago, precisa colocar grades de segurança nas janelas e nas sacadas da varanda, é perigoso. Nosso filho não é uma criança hiperativa, mas está sempre correndo pela casa.

— Eu já pensei nisso, essa semana vou resolver tudo para deixar a casa segura para ele — respondo.

De repente, o assunto acaba e ficamos em silêncio. Ela se senta delicadamente no braço do sofá e une as mãos em cima das coxas da perna olhando para as mãos como se estivesse em jeito algum de entrar em algum assunto.

— Seu namorado já foi embora? — Lanço um olhar de soslaio e volto a catar os objetos jogados.

— Sim. Ele foi embora minutos depois que você trouxe o Christian — ela fala e me olha de modo arrependido. — Santiago , você pode me dar atenção por um minuto, eu juro que já estou indo.

Deixo os objetos em cima do sofá, puxo uma cadeira e me sento de frente para ela.

— Diga.

— Eu quero... — Ela molha os lábios e me encara nos olhos. — Quero me desculpar, por ter falado aquelas coisas, eu não deveria ter...

— Está tudo bem — a interrompo. — Eu entendo, você estava com raiva, e eu deveria ter ligado antes.

— Não! Nada disso justifica a forma como te tratei — ela diz olhando para as mãos tentando esconder seus olhos marejados.

— Giovanna... — Estico a mão e seguro seu queixo quebrando toda resistência que ainda resta entre nós. — Eu sei que não posso reparar todos os danos que te causei, mas eu juro estou dando o meu melhor, eu só quero que me perdoe, e deixe as diferenças para trás. Temos um filho juntos, e precisamos estar em acordo para que possamos tomar as melhores decisões juntos, por ele.

— Acontece que... — Ela limpa uma lágrima se despindo da carapaça que usa para mostrar o quanto é forte, então revela seu verdadeiro 'eu'. Um 'eu' destruído por mim, um 'eu' frágil como cristal, que pode quebrar a qualquer momento.

Consigo ver a mesma menina inocente que saiu da minha casa correndo e chorando quando me encontrou na cama com Amanda, a mesma menina que chorou até dormir nos meus braços, quando eu disse que não podíamos ficar juntos por causa da diferença de idade que tínhamos.

— Ainda dói, Santiago . Dói muito, e mesmo tendo passado tantos anos eu não sei como lidar- confessa ela deixando algumas lágrimas escorrerem em sua face.

Sei que é muito difícil levar por tanto tempo o pesado fardo de rancor e decepção. Eu sei exatamente como ela se sente, só ainda não disse.

— Eu sei que dói. Mas, não quero mais que me veja como um inimigo, quero ser seu amigo e ainda que eu tenha perdido seu amor, quero pelo menos conquistar a sua amizade – estico o braço e toco delicadamente no seu tosto, limpando as lágrimas que escorrem.

Sabendo o quanto ela é frágil, a puxo para meus braços, e a abraço forte. Ela se desmancha em lágrimas em meu ombro, e eu percebo que consegui dar um passo gigantesco, indo em direção aos meus objetivos. Reconquistar a sua amizade e confiança que são fundamentais para mim. 

Quando tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora