Quando tudo deu errado

Capítulo 52

Santiago Castillo

Afundado em trabalho, afrouxo a gravata do terno e me jogo na cadeira do meu escritório, segurando documentos e pensando na gravidez de Giovanna, e no fato da criança nunca poder conhecer o pai. Penso também em Susana que com a morte do irmão ficou sozinha, e no que ele me pediu antes de morrer; cuidar de Giovanna, do filho que ela espera e de sua irmã. Agora eu me sinto responsável pelos cuidados deles, e o pior de tudo é que não sei como agir. Estou tentando me aproximar delas, mas não sei quais efeitos isso pode causar na mente de Susana ou na cabeça dura da mãe do meu filho.

Ouço o telefone da minha mesa tocar.

— Diz — falo deixando o desânimo e o cansaço saírem nítidos em minha voz.

— Senhor, tem uma moça aqui na recepção querendo falar com o Senhor — Ana Júlia diz e espera pela minha resposta, que fica presa na minha cabeça, enquanto eu tento adivinhar quem seja.

— Quem é?

— Susana — Ana Julia responde.

Como parte do pedido que Bruno me fez antes de morrer, eu dei a Susana o endereço do meu escritório, caso houvesse alguma necessidade ela saberia onde me encontrar.

Ajeito o corpo na cadeira, e repondo:

— Mande entrar!

Não demorando muito, Susana passa pelas portas com um sorriso contagiante, corro rapidamente os olhos por toda extensão de seu corpo milimetricamente trabalhado em aparelhos de musculação; pernas torneadas, bustos grandes e quadril largo. Ela está usando uma calça preta colada, e uma blusa que parece faltar pano para tapar o umbigo, deixando o piercing, à mostra. Ela exala sensualidade.

— Oi — grandão. — Susana fala e se aproxima da minha mesa.

— Olá Loirinha — me levanto para a cumprimentar com um beijo no rosto.

— Que cara é essa? — ela fala me avaliando por um tempo e depois volta a sorrir.

Estou cansado, chateado e muito preocupado com Giovanna e tudo o que tem acontecido nos últimos tempos, essa é a resposta.

— Muito trabalho — eu digo e torno a me sentar em minha cadeira. Não quero que ela pense que estou problematizando as coisas.

— Eu já imaginava, e foi por isso que vim até aqui. Quero te convidar nessa noite de sexta-feira, para irmos juntos à minha boate.

Sorrio e a encaro.

— Veio até aqui só para dizer que sou um viciado em trabalho? E que preciso de algo mais forte do que o café?

— Sim — ela diz aderindo um sorriso travesso — Santiago, quando você não está aqui nesse escritório, está em casa cuidando do seu filho ou preocupado comigo e com Giovanna. Por que não tira essa noite para se divertir...? — ela me olha arriando as sobrancelhas e mordendo o lábio, implorando para que eu aceite... — Não seja malvado vai! Vai ser legal eu prometo. Hoje vamos ter um DJ super da hora — ela une as mãos e faz biquinho. — Por favor, vamos comigo?

Susana tem razão, quando não estou resolvendo problemas com as minhas empresas, estou cuidando de Giovanna e do meu filho, e de bônus tomando conta de Susana. Bruno tinha razão quando disse que a irmã precisava de alguém para zelar por ela. Susana com toda aquela sensualidade, com toda certeza estava dando muitos problemas para Bruno, e agora o bastão foi passado para mim. E no meio disso tudo, eu já nem me lembro qual foi o dia que tirei para sair com meus amigos.

Convenço a mim mesmo de que eu mereço. Eu mereço um descanso, eu mereço uma trégua de tudo.

— Tudo bem, você venceu. Mas, vai ter que esperar, eu vou para casa trocar de roupas, não quero ir para uma boate usando terno e gravata.

— Tudo bem, então nos encontramos às sete, combinado? — ela diz visivelmente empolgada, com um sorriso longo.

— Combinando.

Quando ela deixa a sala, percebo que tenho uma bomba nas mãos, Susana é uma garota linda, cheia de sensualidade e charme, porém, carente. Percebo a forma como ela me olha, e a forma como ela se expressa dando sinais visíveis, que se eu quiser avançar para algo a mais que ter sua amizade, eu não teria dificuldades.