Capítulo 16

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Giovanna Martins

Com a mochila em formato lego nas costas, a pequena mãozinha do meu filho é envolvida pelas mãos grandes do pai. Dou um beijo em sua testa e olho com pesar.

— Promete que vai se comportar? Vou sentir muita saudade — digo, e ouço risos.

Santiago e Bruno riem uníssono.

— Sim mamãe — o menino responde.

— Querida, ele vai ficar na casa ao lado e não do outro lado do pacífico. — Bruno diz.

— Fica tranquila, Giovanna,  é apenas uma noite na minha casa, e vai ser bom para você ter mais privacidade com o seu... — À medida que a frase vai chegando ao fim, a voz de Santiago vai se tornando um resmungo. – Namorado.

— Tudo bem. se algo der errado, me ligue por favor —digo e Santiago assente me dando as costas.

— Não se preocupe.

Quando vejo a porta se fechando, tornando um bloqueio entre meu filho e eu, sinto a angústia me apertar o peito. A sensação é como se a única parte que me completa, estivesse sendo levada com Santiago. E, agora, só me resta o vazio.

Meus pensamentos são dispersados quando sinto as grandes mãos de Bruno me pegarem pela cintura e girar meu corpo em sua direção. Com um movimento ágil, ele me pega no colo por completo e me leva em direção ao sofá. Me deita delicadamente, beija meus lábios, e depois se agacha à minha frente. Suas mãos macias descem pelo meu tornozelo e retiram meu salto.

Uma deliciosa massagem na sola dos meus pés alivia a tensão que corre sobre meu corpo.

— Sei que precisa disso — ouço a voz sedutora de Bruno enquanto mordo o lábio e resmungo me deixando ser levada pelo alívio causado pela massagem.

— Isso é ótimo! — digo fechando os olhos.

As mãos quentes deixam meus pés e sobem novamente pelo meu tornozelo. Bruno puxa a minha mão e a beija suavemente, enquanto seus lábios sobem pelo meu braço até alcançar meu ombro, pescoço e lábios.

— Porque não aproveitamos a nossa privacidade, para fazer umas brincadeiras de adultos... Hum?

Estamos a sós, e não há uma desculpa para dar. Mesmo incomodada pelos beijos quentes que indicam que Bruno quer mais do que me confortar, tento agir naturalmente.

Eu não posso, não vou ser descuidada como com Santiago . Se ele me quer vai ter que fazer por merecer.

Quando olho para a ampulheta de enfeite que está em cima do móvel, tenho uma ideia.

— Bruno! — me levanto subitamente do sofá, fugindo de suas carícias e ajeito meu vestido. — Ainda está cedo, podemos ir nos divertir, em algum lugar, em uma boate talvez, o que acha?

O semblante dele se contrai. Ele suspira e desliza a mão da testa até à nuca, e me olha sem interesse na oferta.

— Até aonde sei você não gosta de Boates. — Nos encaramos. Eu sem argumentos e Bruno visivelmente frustrado. — Olha, o dia foi longo e a noite cheia de surpresas, então eu já vou indo.

— Não. Bruno...

Tento fazer alguma coisa para que ele não vá embora chateado, mas e ele me ignora, dando-me um beijo rápido na testa, e virando-se de costa em direção ao móvel onde está a sua chave do carro, pega tudo com uma puxada só e sai andando em direção a porta da saída.

Eu deveria correr atrás dele e dizer: "fica, passa a noite comigo". Mas eu não consigo me mover. Paralisada vejo meu namorado abrir a porta e minutos depois, ouço o som do motor de seu carro arrancar, quando a única coisa que penso é:

Santiago é meu novo vizinho?

***

Meu vizinho.

A frase ecoa dentro da minha mente como se estivesse emitindo ondas de eco.

Meu vizinho.

Torno a pensar nisso, tentando entender onde é que Santiago está com a cabeça, para comprar uma casa ao lado da minha.

Alívio os pulmões com um suspiro longo e fecho o livro que peguei para ler, porém não consegui prestar a atenção em nada do que está escrito. Tudo porque o maldito pensamento está em Bruno saindo da minha casa daquela forma, como se estivesse inconformado comigo e com a inconveniência de Santiago.

O mais peculiar de tudo, é que eu pouco me importo com o homem que só pensa em sexo. A verdade é que me importo mais com as palavras que disse para Santiago no momento de histeria, e o arrependimento já me alcançou. Eu não deveria ter falado aquelas coisas para ele, não deveria ter agido tão impulsiva e infantilmente.

Já é tarde da noite, e como não consegui dormir, resolvi tomar ar fresco na área de lazer, e pensar na minha vida caótica.

Me ajeito na chaise de bambu, e olho para a água da piscina, que está ondulando com o vento leve que sopra.

Tudo é tão calmo e silencioso sem Christian por perto.

Sinto falta da presença do meu pai em casa, e a companhia do meu filho. Sempre foi assim: só nós três. Ainda estou tentando assimilar as mudanças que teremos. Santiago agora vai poder passar mais tempo com Christian, já que mora a uma casa de distância, e meu pai pelo que sei está feliz com Vanessa, se tudo correr bem, logo nossas vidas irão mudar bastante, pois meu pai é um típico Romeu do século 16. Relacionamentos para ele é sinônimo de casamento. Não vou me surpreender caso ele chegue de viagem e diga que vou ganhar uma madrasta oficial.

Olho para as grandes paredes da casa ao lado, e vejo que as luzes ainda estão acesas.

O que será que eles estão fazendo?

Não. Você não vai fazer isso. Não vai ligar e não vai tocar naquela maldita campainha.

Tento me conter tentando inutilmente ler o livro novamente. E de repente, todas as luzes da casa ao lado se apagam, e tudo o que vejo são pequenos fleches de luzes, que apagam e acendem repetidas vezes.

Respiro fundo me munindo de coragem e me levanto da chaise, decidida a ir ver o que está acontecendo.

Quando tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora