Capítulo 48

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Santiago Castillo

A imagem que se abre na minha frente, é uma pequena tela, com uma sessão infinita de acontecimentos mútuos que são reproduzidos ao mesmo tempo; músicos tocando no violino a marcha nupcial, um longo tapete vermelho se estende desde a entrada até o altar, rosas enfeitam as pilastras da igreja e fazem a separação dos convidados; homens e mulheres elegantemente vestidos com roupas de gala. Fotógrafos estão tirando fotos de sua entrada, ela carrega nas mãos um buquê de flores, metade brancas, metade vermelhas. Seu vestido branco logo brilha com os flashes das câmeras, mostrando sua gloriosa realeza, todos põe-se de pé para recebê-la. Ela está sendo arrastada aos poucos na marcha lenta rumo ao altar, pelo pai, ela sorri para frente como se estivesse vendo o noivo, mas não há ninguém para recebê-la. Onde ele está? — Pergunto, mas ninguém parece me ouvir, não tenho voz, não tenho mãos, não tenho um corpo, apenas minha visão.

— Giovanna, ele não vem! — Grito o mais alto que posso, mas ninguém parece me ouvir. — Giovanna! — Grito novamente, quando vejo as paredes da igreja desmoronar, o cenário tão belo e rico, se tornar um vale, assolado, cinza e sem vida, não há mais convidados, não há mais fotos, não há mais rosas enfeitando, não há mais um sorriso no rosto de Giovanna, mas ela continua marchando em direção ao púlpito de madeira que se tornou um caixão preto, e lá dentro há um corpo, que parece dormir em sono tranquilo.

Arrastando seu vestido, pelo caminho que fora substituído por uma lama preta, Giovanna continua em sua marcha lenta, e quando ela olha para dentro do caixão, ela cai de joelho aos poucos, logo o vestido está sujo, as flores em suas mãos estão murchas, e seus olhos borrados pelo choro. Eu quero, eu preciso abraçá-la, mas não consigo, ela não me vê, ela não me ouve, ela não me sente, eu sou apenas um fantasma.

— Giovanna! — Grito e abro os olhos sentindo o alívio por saber que foi apenas um pesadelo.

Ah, graças a Deus foi apenas um sonho, penso quando ligo a luz do abajur, e vejo que meu colchão está húmido do meu suor, e meu organismo parece ter perdido muito líquido, minha boca está sedenta por água. Já é madrugada, três da manhã, e eu percebo que o vento forte sopra levando as cortinas do meu quarto, as janelas ficaram abertas. Alguns raios cortam o céu, anunciando uma chuva forte, depois dos clarões estrondosos dos trovões e finalmente ouço o som da chuva forte cair. Ponho meus pés no chão e vou em direção às janelas, olho para casa ao lado, e tudo parece tranquilo. No meu peito uma sensação ruim me tortura, fecho as janelas, sinto um alivio psicológico, por saber que as paredes da minha casa irão me proteger da tempestade, quando torno a deitar a cabeça no travesseiro, ouço o som da campainha tocar insistentemente.

Quem pode ser uma hora dessas? Me pergunto enquanto visto um roupão e saio do quarto, quando cruzo o corredor, vejo a porta do quarto de Manoela abrir, e ela sai de lá finalizando o laço na fita do seu robe.

— Quem deve ser a essa hora? — ela pergunta enquanto compartilhamos um olhar preocupado.

— Não sei, fique aqui, eu vou ver quem é — falo e ela concorda, mas não volta para seu quarto, fica em pé no corredor, me olhando descer as escadas.

Quando abro a porta, vejo César com os olhos e a feição atordoada, a angústia no peito se intensifica mais e mais quando ele me olha e nada diz. Nas mãos ele segura ainda o aparelho telefone da casa, como se estivesse acabado de falar com alguém. Suas roupas de dormir estão molhadas, ele se expôs à chuva para vir me dar algum recado.

— César? — falo e o puxo para dentro. — Você está bem? O que aconteceu?

— César? — ouço a voz de Manoela atrás de mim dizer o nome do homem que parece não ter palavras.

Quando tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora