Capítulo 23

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Santiago Castillo

Com o peito cheio da decisão de desmascarar o Bruno, retiro o paletó e a gravata, desabotoo os dois primeiros botões da camisa social branca e dobro as mangas, me certificando de que estou com a aparência mais casual para uma casa noturna, pego a chave do meu Mustang, o papel com o endereço, e saio do prédio onde fundei a sede da minha empresa.

Depois de dirigir por minutos, encontro a casa noturna, é uma porta de ferro escura que fica escondida no final de uma rua deserta.

O suspense que está na minha cabeça, libera no meu sangue, toda adrenalina necessária para continuar a investigar a vida de Bruno, mesmo com medo do que eu possa encontrar, bato no portão e em menos de um minuto, um armário em forma de homem abre a porta, o cara robusto quase dá três de mim. Ele me avalia da cabeça aos pés e permite a minha entrada sem me questionar.

Você tem um filho para criar cara, volta para casa, penso. Mas o desejo de desmascarar aquele imbecil é maior do que o medo de estar me metendo com algo que pode custar a minha vida.

Diferente do lado de fora o local é impecável por dentro. Mesas de sinuca, um bar extenso com várias cadeiras altas, e luzes coloridas enfeitam e tornam o ambiente mais animado, a música que toca é uma batida repetitiva típica de baladas.

É início de noite, e o local ainda está vazio. Me sento em uma banqueta alta, e peço uma dose de tequila. Prontamente a bartender que usar roupas estranhamente sensual vem me atender, enquanto ela prepara a minha bebida, olho em volta em busca daquele cretino, batendo o pé no chão de nervosismo, e nada vejo.

Minutos passam, o local começa e ficar cheio, homens e mulheres se juntam nos cantos com copos de bebidas nas mãos conversando animadamente, enquanto outros apreciam a música na pista de dança, e homens bem vestidos apostam na mesa de sinuca.

Sentindo cheiro de charuto que vem dos fundos da casa, sinto enjoo e fico sufocado com um ambiente aparentemente tão claustrofóbico. Odeio lugares apertados e com pouca iluminação.

Sinto a angústia me tomar, e se eu realmente descobri algo macabro sobre a vida desse cara, como vou dizer para Giovanna? Penso e enquanto olho para a entrada do salão, e é nesse instante que vejo Bruno, vestido uma regata solta, e calça de praticar exercícios, e um apito pendurado no peito, exibindo seus músculos nojentamente suados.

Claro, ele é professor de educação física.

Ele cumprimenta o segurança com um aperto de mão, e acena para algumas pessoas com seu sorriso simpático que eu odeio tanto.

Termino de jogar na garganta a última gota da minha quinta dose de tequila, enquanto observo uma mulher se aproximando dele, uma linda loira de bustos e quadris fartos que salienta seu corpo com um vestido rosa choque, rosto bem maquiado e saltos altos. Imagino o que seja: uma acompanhante de luxo. Eles se cumprimentam com intimidade, e ela põe as mãos nos ombros dele e juntos eles se asfaltam para uma mesa mais reservada nos fundos do local.

— Miserável! — digo sendo impulsionado pelo álcool, bato o corpo no balcão com força e me levanto, decidido a ir tirar satisfações.

Me aproximo da mesa em passos pesados, e vejo a mulher sorrir e acariciar o rosto dele, a cena me indigna cada vez mais, a ponto de eu perder o autocontrole e puxar Bruno pela gola da camisa, assustando a mulher e todos os que estão presentes.

— Então, era isso seu miserável, está enganando a Giovanna com esse tipo de mulher? — falo próximo do rosto dele, e ele se esquiva do meu hálito.

— Você está ficando maluco, cara? Me solta! — ele segura meus pulsos e tenta me fazer soltar sua blusa.

— Seguranças! — a mulher grita.

E antes que os brutamontes me alçassem, dou um soco na cara de Bruno, o fazendo cambalear para trás, e se apoiar nas caixas de som para não cair sentado.

— Vem pra briga seu covarde! Está com medo de levar uma surra na frente da sua bonequinha de luxo? — gesticulo em sua direção, para que ele possa revidar, mas tudo o que faz é rir de forma debochada, enquanto limpa a boca suja de sangue.

— Você está fora de si, Santiago! Essa mulher quem você acabou de insultar é minha irmã!

...

Irmã?

...

As palavras dele me causam vertigem e uma grande dose de vergonha, começo a ficar tenso e sentir a minha camisa ficar molhada de suor em resposta a adrenalina.

— Inventa outra mentira seu imbecil! — eu digo me sentindo menos motivado para brigar.

— Não é mentira, essa é a minha irmã! — ele fala novamente.

Quando penso em retrucar, sinto as mãos grandes girar meu braço para trás, enquanto tomo uma chave de braços, me fazendo perder quase todo o ar.

Em segundos estou no chão, quase enxergando tudo escuro.

— Não Eliseu! — Bruno fala levantando as mãos em sinal de paz. — Solte ele, é meu amigo, só está alterado. Bebeu muito.

O quê? Ao invés de me escorraçar Bruno diz que sou seu amigo, mesmo depois de socar a cara dele?

Não bastando a vergonha da cena, todos estão me olhando atônitos como se eu fosse uma exposição de arte ridícula, e eu não sei o que fazer, me levanto do chão arrumando minhas roupas e vejo o olhar de Bruno me reprovar.

— Vamos cara, vamos conversar lá fora — Bruno me paga pelo braço, e me arrasta em direção a saída quando as mãos do brutamontes me soltam.

No lado de fora consigo respirar melhor o ar fresco da noite me trazendo alívio e a sensação de estar seguro. Bruno caminha do meu lado visivelmente chateado pelo papelão que acabei de fazer.

— Olha cara, eu estou muito envergonhado, eu pensei que...

— Estou brincando com Giovanna? — ele termina a minha frase. — Você não acha que eu tenho sido muito paciente com essa coisa de você estar atrás dela o tempo todo, com a desculpa de cuidar do seu filho? Se isso me incomoda? — ele fala de forma sarcástica. — Eu vou te responder: É claro! Você acha que fiquei satisfeito vendo você convencer a Giovanna a voltar a estudar e ainda e tomar certas liberdades que não são mais convenientes para você? Eu queria tê-la convencido, mas ela não me ouviu em nenhuma vez em que tentei incentivá-la a estudar, e isso me irrita e me diminui como o parceiro dela! E só estou tolerando tudo isso por causa do garotinho, não quero que ele fique no meio de uma briga idiota que não vai levar ninguém a nada. — Ele respira fundo e eu percebo o esforço que ele faz para não devolver o soco. — Qual é Santiago você tem o quê? Quarenta anos?

— Trinta e nove... — resmungo.

— Mas não parece! — ele quase grita, para de caminhar, olha para a rua colocando as mãos na cintura completamente inconformado. — Àquela é Susana, uma filha que meu pai teve fora do casamento. Ela não foi reconhecida, e não foi incluída no testamento, e por isso após a morte do meu pai, eu ajudei financeiramente abrindo essa casa noturna para ela gerenciar... Toda quinta-feira saio do trabalho e venho ver como ela está. Essa explicação está boa para você?

— Cara, olha me desculpa... Eu — tento me explicar, mas ele levanta a mão indicando que não devo continuar falando.

— Santiago, é melhor você ir para casa.

Confirmo com a cabeça, sem ter como retrucar. Ele me dá as costas e começa a caminhar em direção a entrada da casa noturna, então:

— Bruno — ele olha para trás. — Não conta nada para Giovanna, ela pode ficar chateada.

Ele faz o sinal de continência e continua andando com a postura tensa.

Quando tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora