Capítulo 35

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Giovanna Martins

Meu pai vai ter que me dar explicações, penso ao subir as escadas, depois de ter levado Bruno na porta.

Depois que Santiago ofereceu abrigo para a minha mãe, Bruno e eu voltamos para dentro de casa e fizemos planos para o jantar onde seria feito o pedido formal de casamento. E quando decidimos tudo, Bruno se foi e eu fiquei sozinha pensando no fato de a minha mãe ter voltado, e muito intrigada por saber que meu pai depois de ouvir a recusa dela em querer estar perto dele, tenha se trancado dentro do escritório como se estivesse fugindo de algo. E sem pensar, decido que precisamos ter uma conversa; a mesma conversa que foi adiada por anos, já que meu pai nunca gostou de falar sobre a minha mãe.

Bato na porta do escritório, sei que ele está trancado lá, esse é seu costume, quando sabe que vamos ter uma conversa difícil. A porta se abre e eu vejo um rosto, pálido, que parece ter envelhecido dez anos em apenas algumas horas.

O semblante caído do meu pai, só reforça mais a minha decisão de questioná-lo.

— O senhor está bem? — falo quando o vejo me dar passagem para entrar no seu escritório.

— Sim, querida. Sua mãe já foi?

— Sim, ela aceitou ficar na casa do Santiago — me sento na poltrona e o encaro. Antes que ele faça alguma pergunta coloco minhas cartas na mesa: — Porque quando eu era pequena, o senhor me dizia que ela havia ido embora com outro? E me fez acreditar a vida inteira nessa mentira?

— Eu sabia que você viria me perguntar sobre isso — ele se joga em sua cadeira, descansa as mãos em cima do colo com seus dedos entrelaçados.

— Pai, eu não entendo! Por que não me disse a verdade? Por que sempre tratou desse assunto com tanto desprezo? Por que me dizia aquelas coisas e me deixava pensar mal dela?

— Eu só replicava o que ouvi dos seus avós. — Ainda com a cabeça baixa ele começa: — Eles me diziam que ela havia nos deixado por outro homem, e eu acreditei cegamente nisso.

— Meus avós foram os culpados por tudo! Eu cresci sem a minha mãe por culpa deles! — afirmo.

— Não foram só eles, eu também tive grande parcela de culpa. Fui um covarde com sua mãe e ela tem todos os motivos do mundo para não querer estar próxima de mim.

— Pai, porque nunca me contou sobre tudo isso? Mesmo depois de ter descoberto a verdade sobre a ida da minha mãe?

— Por que, você sempre foi a minha menininha, que me via como seu super-herói, não queria desconstruir a minha imagem. O que você pensaria de mim?

— E quando foi que descobriu que ela não havia ido embora com outro?

— Sua avó antes de morrer teve uma crise repentina de consciência, ele me chamou para conversar e me contou toda a verdade.

— Mas o que eles fizeram não tem perdão! — me exalto indignada.

— Eu tentei procurar por ela, mas me convenci de que depois de tantos anos, ela já teria feito a vida dela. Eu também tinha medo de receber uma notícia ruim — ele responde ao se levantar e caminhar em minha direção.

— Eu sinto muito por tudo, minha filha — ele beija a minha cabeça, e se retira do escritório.

A verdade me esclarece os sentimentos e me faz enxergar tudo com outros olhos. Me sinto tão egoísta, tão injusta com a mulher que sempre julguei mal durante toda a minha vida. Limpo uma lágrima e contraio o lábio, pensando em que rumo a minha vida está tomando dessa vez.

A única certeza que tenho, é que vou fazer tudo para que minha mãe se sinta bem aqui, e que recuperemos todo o tempo perdido, por causa de mentiras e egoísmos dos meus avós, além de ser grata a Santiago por tê-la abrigado no momento em que pensei que não a veria novamente. 

Quando tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora