Capítulo 69

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Giovanna Martins

A segunda coisa correta a se fazer no dia é conversar com Susana. Desde o dia em que Santiago e eu fomos flagrados nos beijando na cozinha da cobertura, ela passou a ir morar em seu apartamento, e não nos falamos mais. Sabia que ela estava magoada comigo, por causa da paixão que nutria por Santiago e eu respeitava isso, e sinceramente, sentia muito por estar no caminho. Sabia o que que era a dor de uma desilusão amorosa, e não queria ser egoísta pensando apenas em mim. Ela também estava sofrendo.

Tudo o que eu mais queria era ver minha amiga feliz, sentia falta de sua amizade, nas nossas conversas, confissões... Susana era muito especial para mim, é importante também; era a tia do meu bebê. Mesmo sendo meio louca, ela sempre esteve ao meu lado nos momentos difíceis, sempre mostrou-se uma boa e fiel amiga, por isso vejo grande necessidade de me acertar com ela.

Me despeço da mãe de Bruno e saio do cemitério sentindo meu peito mais aliviado. Assim que volto para o carro, aproveito que ainda é cedo e ligo para ela. Susana me atende com a maior voz de sono. Explico que precisamos conversar e peço encarecidamente que ela me encontre na nossa lanchonete favorita, o local onde compartilhamos ótimos momentos, pois além de conversar com ela, preciso saciar o buraco negro que há dentro do meu estômago.

Minutos depois estou sentada em uma das mesas da lanchonete sentindo água na boca enquanto olho as deliciosas ilustrações do cardápio. E enquanto espero Susana chegar, faço meu pedido e noto que há algumas mensagens de Santiago no meu celular.

Abaixo a cabeça para conferi-las.

"Bom dia, moranguinho, já está tudo pronto para a viagem?". 😉

"Bom dia. Prontíssimo! Estou animada!".😄😄😄

"Ótimo, também já aprontei tudo, e eu também estou muito animado para ir visitar meus pais. Queria muito passar o dia conversando com você, mas ainda tenho assuntos a resolver. Mais tarde vou até a sua casa ver você e... os nossos filhos. Até logo! 😘😎

Caraca! "Nossos filhos". Nunca uma frase me soou tão bonita.

Ainda com a cabeça baixa me deliciando com a frase que me fazia sonhar como uma adolescente, ouço um pigarrear próximo a mesa.

— Hum-Hum!

Levanto a cabeça, olho para a frente e vejo Susana. Ela está usando um conjunto de moletom rosa para praticar exercícios e seus cabelos estão presos em um rabo de cavalo, além de sua testa estar suada.

Certo, hora da verdade.

— Oi, Su.

Ela não responde, mas puxa uma cadeira e se senta à minha frente com o semblante duro.

— Veio correndo? — puxo assunto.

— Meu apartamento é aqui perto. E agora estou aderindo a moda do desenvolvimento sustentável, sem gasolina e combustíveis poluentes. Digam não aos cerros e sim às bicicletas — ela levanta o punho fechado e se acomoda na cadeira com como se estivesse falando sério.

— Oh, isso é bom — encaro minha ex-cunhada com desejo de rir. De onde ela tira essas ideias?

E quando penso em entrar no assunto que me causa tanto constrangimento, Susana ri quebrando o clima tenso entre nós.

— O que foi, porque está me olhando desse jeito? Sou uma jovem progressista! Uma presidente em potencial.

Rio mais aliviada. Pelo visto ela não me odeia.

— Susana, você é tudo, menos uma presidente em potencial.

Nos entreolhamos e rimos.

Minha amiga encosta-se no espaldar da cadeira e me olha deixando o sorriso esfriar aos poucos nos rosto e me olha aderindo um semblante sério.

— Porque me chamou aqui?

— Você sabe. Precisamos conversar. É sobre o Santiago e o sentimento que você sente por ele...

— Sentimento? — Ela me corta. — Não, Giovanna, o que sinto pelo pai do seu filho é apenas atração... E mesmo achando você uma vaca por ter escondido de mim que estavam se acertando, não quero perder a sua amizade.

— Jura, que vai ser tão bondosa comigo assim?

Ela ri puxa o celular de dentro do bolso do casaco e me mostra a foto do Lucas, o irmão do Santiago.

— Já estou em outra, amiga!

— Me deixa ver se eu entendi: você está saindo com o...

Ela confirma com a cabeça.

— O irmão do amor da sua vida... no final nenhuma de nós ficou no prejuízo, então... — ela estica a mão em minha direção. — Amigas?

Sorrio.

— Amigas! — aperto sua mão e sorrimos como duas cúmplices que somos.

Sinceramente, pensei que teria que entrar em um assunto complicado com Susana, mas me sinto bem mais aliviada por saber que ela teve maturidade para lidar com a situação, e com isso, todos os meus pesares saíram do meu peito, agora sim, me sinto preparada e encorajada como iniciar um "nós dois" com Santiago sem medos e receios.

Mas... ainda faltava uma coisa...

Quando tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora