Quando tudo deu errado

Capítulo 59

Santiago Castillo

Giovanna está sentada em uma cadeira de praia tomando sol no deque de madeira do lago, usando óculos escuros e segurando uma revista. Christian se distrai jogando no lago uma vara de pesca sem anzol, alegando que está pescando. Dentro do baldinho colorido tem uma coleção de folhas que ele diz ser os peixes que vamos almoçar.

O sol está esquentando, o ar é de primavera, mas a quentura é de verão. O domingo tem tudo para ser um dia e tanto, principalmente por eu estar na companhia das pessoas que mais amo no mundo, a ambientação desse lugar me traz uma sensação de relaxamento que a muito não sinto.

Enquanto lavo a louça do café, olho pelas janelas da cozinha e percebo que novamente, Giovanna está alisando a barriga e falando com o bebê.

Na rádio toca uma das minhas canções favoritas, e de Giovanna também, embora a música seja um clássico dos anos de 1977. Isso apenas confirma a nossa compatibilidade. Giovanna é uma mulher que posso considerar pacata, ela não curte músicas agitadas ou festas onde temos que passar a noite toda acordados, ela gosta de ouvir MPB, festas e bebidas devem ser na medida certa, embora eu implique que ela tenha uma alma de gente velha, devo confessar que fomos feitos um para o outro, somos bastante compatíveis.

— ... And you come to me on a summer breeze

Keep me warm in your love, then you softly leave

And it's me you need to show — Canto uma parte da canção e vejo Giovanna dar as mãos ao nosso filho, ela se levanta da cadeira de paia e sai meu campo de visão. — How deep is your love

How deep is your love, how deep is your love?

I really mean to learn

'Cause we're living in a world of fool

Breaking us down

When they all should let us be

We belong to you and me... — Continuo cantando, até ouvir a porta da entrada bater. Não demorando muito, Giovanna entra na cozinha com Christian.

— Uau! Bee Gees! — ela fala sorrindo, se inclina na prateleira e aumenta o volume da música. Imediatamente um coro começa. Cantamos em uma só voz. — How deep is your love

How deep is your love, how deep is your love?

I really mean to lear

'Cause we're living in a world of fool

Breaking us down

When they all should let us be

We belong to you and me...

Quando a música acaba, seco as mãos e me aproximo do sorriso mais intenso que conheço, da mulher que amo mais que a mim mesmo. Toco em seus braços e uma lembrança vem à minha mente.

— Lembra de quando nos conhecemos?

Ela ri e se encosta na borda da mesa.

— Ficamos presos no elevador, e você teve uma crise claustrofóbica, e estava tocando essa música. E eu fiquei lá, tentando te socorrer, pensando que meu chefe fosse morrer na minha frente.

— Depois do ocorrido eu mandei que desativassem todas as rádios dos elevadores do prédio, fiquei traumatizado — ela volta a rir com um brilho nostálgico no olhar.

— Eu me lembro que você ficou furioso dizendo que iria demitir todo mundo da equipe de manutenção, enquanto dizia que não conseguia respirar, afrouxando a gravata bagunçando todo seu terno requintado de chefinho — ela zomba.