Capítulo 28

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Giovanna Martins

Horas mais tarde, estou passando pelas portas da casa de Santiago, sorrindo animada e já fazendo planos para dar a notícia ao meu pai e reunirmos a nossa família para um pedido formal. Finalmente encontrei um homem que me ama e me valoriza como mulher.

— Santiago ...? Filho? — chamo enquanto vou adentrando pela casa. Sou guiada pela clássica música do Sonic de dreamcast. Quando cruzo a sala, vejo Santiago e Christian jogados no sofá, jogando videogame no telão da sala. Ao lado dos dois uma grande vasilha de pipoca e copos com refrigerante, e eles parecem se divertir.

— Mamãe! — Meu filho grita feliz, mas não tira os olhos da tela e as mãos do joystick enquanto o pai, sorri com a minha presença.

— Olha quem chegou? E aí ficou muito entediada com ele? — Santiago provoca.

— Não — me sento no braço do sofá — muito pelo contrário, o jantar foi maravilhoso.

— Uí! — Santiago faz um biquinho debochado.

— Conseguiu baixar o emulador? — pergunto.

— Sim, transferi a imagem do notebook para a televisão pelo cabo HDMI.

— Não sabia que você conhecia jogos depois de Tetris — ele solta uma gargalhada divertida, e me olha.

— Pelo amor de Deus, não sou tão velho assim!

— Ah, não? Você nasceu em quê? Década de setenta?

Ele volta a rir e balança a cabeça em negativa.

— Também não exagera Giovanna, eu vou fazer quarenta anos, mas dou um caldo em muito novinho por aí.

Agora quem ri sou eu.

— Palhaço — o esbarro com o cotovelo e ele me olha, deixando o sorriso escapar.

— Está feliz, nem parece que queria me matar ontem.

Rio do seu comentário.

— Sim. Estou muito feliz. — Estico a mão, deixo a pedra à mostra, e vejo seu rosto ficar sem expressão positiva.

— Ele não fez isso, fez?

— Hum-Rum! — sorrio feito uma boba alegre. — Ele me pediu em casamento.

— Filho? — Santiago pausa o jogo. — Porque não vai lá na cozinha pegar biscoito.

O garoto estica as perninhas e desce do sofá.

— Eu voando igual o Superman, papai — animado o menino deixa a sala abrindo os braços imaginando ser um super-herói e nos deixa sozinhos.

— Tem certeza? — ele olha para a pedra em meu dedo.

Escorrego do braço do sofá e me encaixo entre Santiago e o lugar vago.

— Não sei, isso é novo para mim. Toda essa coisa de recomeçar me deixa até assustada. Mas eu sinto que estou pronta.

— Ótimo! — o tom dele sai mais baixo do que deveria.

— Eu espero contar com você pra fazer isso dar certo. Por favor, Santiago, eu quero muito ser feliz e essa é uma oportunidade de ouro. É a primeira vez que alguém me pede em casamento, e diferente da nossa história, agora meu pai vai ficar feliz e orgulhoso de mim.

— Aceitou a se casar com esse cara, só para dar orgulho a seu pai? Vocês mal se conhecem! — ele explode irritado e se levanta do meu lado, esfregando o rosto.

— Não! Não é por isso. Eu aceitei por quê...?

— Por quê? — ele questiona.

Não sei, talvez eu tenha sido levada pela noite romântica, perfeitamente planejada por Bruno, que queria me induzir a aceitar o pedido de casamento. Por que tenho o coração mole como uma apaixonada sem cura.

— Eu não sei mais Santiago . Eu só quero ser feliz.

— E ver a sua felicidade é o que mais quero, e se esse cara te magoar, Giovanna? Deve pensar nos riscos antes de sair se jogando nessa aventura. Eu sei que não tenho nenhuma moral para dizer sobre quem vai magoar ou não, mas acredite em mim, eu quero muito te proteger, como não fiz no passado.

Me levanto e o encaro. Vejo em seus olhos o fardo pesado da culpa novamente. A dor do ego masculino sendo esmagado e falta de fé em meu relacionamento com Bruno.

— Sinto muito, Santiago. A nossa história é um livro que já acabou a muito tempo — digo e ele levanta as mãos em rendição.

— Tudo bem. Você venceu. Se é o que quer, tudo bem. Mas até que se case com ele, quero que saiba: nossa história só vai ser um livro terminado se você quiser. Por que para mim, a nossa história ainda não acabou, e existem muitos capítulos para serem escritos.

Sinto o baque pelas palavras, meus olhos ardem e sinto meu peito apertar. Será que estou fazendo a coisa certa? Será que fiz o certo em aceitar me casar com Bruno? Será que Santiago tem razão? Será que há mesmo mais capítulos para serem escritos em nossa história? Será? Será? Será?...

— É só isso, eu já estava indo — digo com a cabeça cheia de questionamentos.

— Antes de ir... Tenho uma coisa para você — Santiago diz indo em direção às escadas.

Nos minutos seguintes, ele volta segurando a minha caixinha de música, mas, dessa vez ela está inteira.

— Consegui consertar para você — ele fala e me entrega o objeto.

— Santiago — suspiro sem acreditar no que estou vendo. Um brilho de felicidade preenche seu rosto, me dizendo sem palavras que seu prazer está em ver meus sorrisos. — Obrigada, eu nem sei como te agradecer.

— Não foi nada, eu sei que esse objeto tem um valor sentimental inestimável para você, eu não poderia deixar de consertá-lo.

O envolvo com um abraço de gratidão, e ele retribui, envolvendo seus braços na minha cintura pressionando seu corpo contra o meu fazendo um contato que me faz sentir saudades dos velhos tempos. Santiago tem um abraço tão forte, cálido, que me traz a sensação de estar em um lugar seguro.

Antes que nos afastemos levanto a cabeça e encontro seus olhos com um leve toque de melancolia. Nos encaramos por alguns segundos, ele levanta a mão e toca no meu rosto lentamente jogando meus cabelos para trás da orelha, enquanto cerra os lábios e tenciona a mandíbula deixando suas sobrancelhas baixas.

— Giovanna, por favor, pense bem nisso, eu ainda amo voc...

— Mamãe — Christian nos interrompe vindo da cozinha em nossa direção. Ele se aproxima e puxa as pontas da minha blusa. – Você vai binca com a gente?

Deixo os braços de Santiago e sacudo o cabelo do menino.

— Não querido, nós vamos para casa, seu pai também precisa descansar.

— Não, quéo ir pra casa agola! — ele cruza os braços, pede o colo do pai que sem retrucar faz sua vontade.

— Só mais um pouquinho mamãe? Papai tá ajudano eu.

— É mamãe — Santiago entra na chantagem e insiste cheio de pretensões. — Só mais um pouco.

Sorrio e volto a me jogar no sofá.

— Tudo bem, vocês venceram.

Quando tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora