Capítulo 57

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Giovanna Martins

Como falar para uma criança que alguém morreu? Me pergunto toda vez que vejo aqueles olhinhos tão pequenos e verdes me olharem e perguntar por Bruno. Já usei todas as analogias possíveis, mas os dias ele refaz a pergunta que me deixa emocionalmente destruída. O fato de eu não amar o Bruno, não significa que eu não tenha criado afeto por ele. Está sendo muito difícil. Tudo o que eu queria no momento era correr para um lugar bem distante, longe de tudo e todos. Mas... - Olho para o sofá da casa de férias. - Isso não vai ser possível.

Cato os pratos do jantar que estão em cima da mesa de centro, observando Santiago deitado no sofá dormindo em sono profundo enquanto Christian se aninha em seu peito e também dorme. Desligo a televisão e vou para a pequena cozinha organizar a bagunça do jantar.

Minha mente voa, entre meu pré-julgamento, com o envolvimento do pai do meu filho com Susana e a explicação que me foi dada a poucos minutos. Pareceu sincera. Eu deveria estar aliviada por saber que o homem que amo ainda guarda seus sentimentos por mim, mas não estou. Toda vez que penso em um possível "nós dois", lembro de Susana me contar que está apaixonada por ele. E agora, o que eu devo fazer? Para todos, incluindo a minha ex-sogra, eu amo o Bruno e eu não posso negar isso. Seria uma traição, deslealdade com a memória do falecido.

E eu ainda tenho que lidar com a presença marcante de Santiago em cada passo que dou, em cada lugar que estou e em cada pensamento meu. Eu fico tão tensa quando ele está por perto, que tenho que segurar cada membrana minha, para não agarrar esse homem e beijá-lo até sentir vontade de tirar a roupa e relembrar os velhos tempos. Fazer amor sem hora para acabar.

- Coloquei o Christian na cama - ouço a voz rouca e sonolenta atrás de mim. Antes que eu responda, Santiago se aproxima e toma a esponja das minhas mãos. - Deixa que eu cuido disso.

Finalmente!

- Obrigada, minhas pernas estão doentes - falo e ouço ele rir.

- Então vá descansar - ele começa a ensaboar as louças. - Pode me dar uma coberta?

- Santiago, o sofá é pequeno e você já tem quase quarenta anos, quer acabar com uma lordose?

Ele ri novamente.

- Sempre que pode você insulta a minha idade, você não dizia isso com frequência quando eu tinha exatos trinta e cinco anos, e estava todo inteiro - ele me lança um olhar ágil e divertido, depois retoma a atenção na louça.

- Você continua inteiro. A menos que queira dormir no carro. Pode dormir na cama comigo e Christian - vejo o sorriso vitorioso brotar em seu lábio.

- Tudo bem! - ele diz sem retrucar. - Só não entendo porque uma casa tão bonita como essa está tão vazia.

- Meu pai comprou essa casa quando meus avós morreram. Nós sempre vínhamos para cá nos finais de ano. E como eu nunca gostei de dormir sozinha, meu pai mandou mobiliar apenas a suíte principal. Ele disse que quando eu crescesse, poderia mobiliar ao meu quarto do jeito que eu desejasse, mas eu nunca fiz.

- Porque não?

- O tempo passou, eu cresci, conheci você e engravidei. Minha vida mudou e nunca mais vimos passar o fim de ano aqui. Por isso tudo está tão sem vida.

- Entendo - o grunhido sai dos seus lábios. Ele sabe que depois que engravidei meu relacionamento com meu pai mudou bastante.

Eu costumava ser a menininha dele, a menina que mesmo depois de completar dezoito anos, ainda dormia em seu quarto e chorava em seu colo por alguma desilusão amorosa. A mesma menina que chegou um dia em casa dizendo que estava grávida, com uma faculdade por fazer e sonhos para sonhar, a menina que passou por cima de todas as suas ordens para tentar ser feliz e só conseguiu a frustração.

Quando tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora