Capítulo 63

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Santiago Castillo

— Só não entendo, porque temos que fazer tudo em segredo — murmuro ao me sentar nas poltronas de espera da clínica ao lado de Giovanna , após ouvi-la conversar com a mãe ao telefone e dizer que resolveu vir fazer o exame sozinha.

— Shhh — ela aponta para a placa que diz: "Faça silêncio". — Não sabe ler? Eu tenho os meus motivos — ela sussurra abrindo um pacote de salgadinhos que comprei a poucos minutos na cantina da clínica, para fazer suas vontades de grávida.

Alguns minutos passam, uma mulher morena de olhos verdes se aproxima segurando uma prancheta com alguns documentos.

— Giovanna Martins?

— Sou eu — Giovanna se levanta e eu a acompanho.

— Por favor — a mulher gesticula para que entremos no corredor que dá acesso aos consultórios.

Somos recebidos por um médico — leio em seu chacha: "Dr. Marco Aurélio". Ele é um médico jovem que está na faixa dos vinte e sete anos, olhos profundos azuis, pele muito pálida para um carioca, cabelo loiro estilo surfista e um sotaque mineiro — definitivamente ele não é carioca.

Ele nos cumprimenta, e logo a assiste leva a Giovanna para um espaço reservado para trocar de roupas.

— É o primeiro filho? — de sua mesa ele pergunta e anota algumas informações na guia de acompanhamento de Giovanna .

— Não, na verdade é o... — Caramba, não seria nada mal se Giovanna me deixasse assumir essa criança, eu queria muito na verdade. Mas devo ir devagar, não quero perder a confiança que conquistei, afinal essa possibilidade já passou pela minha cabeça inúmeras vezes, mas fiquei receoso de dizer, não quero causar mal-estar entre Susana, Ieda e eu.

— O meu segundo filho — Certo eu não resisti.

— Ah, entendo... Então não é novidade para você. A maioria dos homens que entram nesse consultório ficam tensos com medo de saber o sexo, e ficam ainda piores quando descobrem ser uma menina, ou gêmeos — o médico ri de forma contraída e eu o acompanho.

Em alguns minutos Giovanna aparece acompanhada da assistente que a ajuda a se deitar na maca enquanto o médico higieniza as mãos e calça luvas cirúrgicas.

Me aproximo da maca e vejo olhar tenso de Giovanna , ela está ansiosa, e preocupada — isso é tudo o que consigo decifrar por trás daquele olhar.

— Está tudo bem, estou aqui — embalo sua mão na minha e a aperto vendo uma lágrima se juntar.

Droga o Bruno! Tenho a plena convicção de que ela está assim, porque de alguma forma se sente culpada, ou com a angústia de saber que quem merece compartilhar um momento tão especial desses não está ao seu lado. Assim fica difícil, eu posso disputar qualquer coisa com alguém, até uma maratona com Willian Bot, mas não posso disputar com um fantasma.

— O Bruno ele... Ele ia gostar de estar aqui.

Me sinto péssimo ouvindo isso, então sinto algo se mover dentro de mim. A rejeição se mistura com a chateação e eu me sinto cansado demais para continuar assim. Está na hora de Giovanna tomar uma decisão, não podemos mais viver dessa forma, instável, feito uma montanha-russa.

Suspiro vendo a doutora assistente espremer uma garrafinha de lubrificante em cima da barriga de Giovanna enquanto o médico se aproxima com a sonda nas mãos e liga a pequena tela.

— Prontos? — o médico diz posicionando a sonda na barriga de Giovanna

— Vamos lá, chega se suspense. 

Quando tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora