Giovanna Martins
Acabo de ver as fotos que foram postadas recentemente nas redes sociais de Santiago. Ele está com Christian perto da Jaula dos leões, em outras fotos vejo ele apontando para girafa. Meu filho sorri e parece se divertir com um balão de gás vermelho na mão. Em algumas fotos, Susana aparece sorrindo com Christian no colo e Santiago ao lado, ambos tomando sorvete de casquinha.
Parece que o passeio foi mesmo divertido, sinto certo arrependimento quando penso que dispensei um convite aparentemente tão legal, já que adoro ir ao zoológico, adoro lugares que tem paisagens naturais.
As fotos demonstram sorrisos longos, uma felicidade que talvez eu não se encaixe mais no meu mundo. Mesmo que eu quisesse correr para os braços de Santiago e confessar todo o meu amor, eu não poderia, primeiro; porque todos pensam que eu amava Bruno, e essa memória deve ser respeitada, e segundo; ele não merece que eu o trate como uma segunda opção.
Reconheço que ele é um homem e tanto: gentil, carinhoso, educado, charmoso, e divertido e com muitas outras qualidades. Ele não merece mais sofrer por mim, não merece mais esperar por minhas decisões, e que nem sempre são as melhores para nós. Então... estou me preparando para quando ele partir, eu não seja egoísta como da última vez, o pedindo para ficar e fazê-lo sofrer mais.
Jogo o celular na cama, e me encolho novamente, na posição fetal. Já são quase oito da noite e não tem ninguém em casa, minha mãe foi ao mercado e eu fiquei nas companhias dos filmes e de alguns chocolates.
Suspiro deixando mais um rastro de lágrimas no meu rosto quando penso que talvez algo esteja acontecendo entre Santiago e Susana.
Eles andam tão íntimos ultimamente.
Fecho os olhos e soluço um pouco pela dor da perda, pois, por mais que eu não amasse Bruno reconheço que ele era um bom homem, sinto a falta dos seus beijos, dos seus toques, e seu jeito especial de me fazer sentir amada. O tempo em que passamos juntos desenvolveu muitos sentimentos bons entre nós, incluindo o afeto.
Eu sou tão pé frio no amor.
Sentindo meu peito apertar e os olhos molhados, ouço novamente vozes vindo da entrada da cobertura, e em minutos, Christian entra no quarto, com seu balão de gás nas mãos, um pirulito na outra. Sorrindo, ele se joga em cima da cama e começa a me contar, gesticulando dando ênfase ao tamanho dos animais, emitindo seus sons e do quanto foi engraçado ver as hienas rindo.
Com uma mão acaricio o rosto do meu filho, e com a outra, limpo os olhos para que ele não veja o quanto estou sensível. E em alguns segundo, Susana passa pela porta, sorrindo e com os olhos brilhantes.
— Como você está? — mesmo empolgada ela põe a sua preocupação comigo em prioridade.
Eu amo essa garota!
— Estou bem. E como foi? Christian me contou que foi muito divertido — falo para disfarçar o quanto aquele brilho nos olhos me incomoda, por me revelar que foi melhor do que esperava.
— Foi sim, esse garoto correu por todo lado — ela agarra Christian e eles sorriem imitando o som da pantera como bons amigos.
— E esse brilho nos olhos? — Pergunto.
— Brilho? — as sobrancelhas se levantam, e ela tenta disfarçar o embaraço causado pela minha pergunta. — Rolou alguma coisa a mais do que um simples passeio?
— Não! É que... — ela para de falar e sorri meio boba.
Ouvimos a voz da minha mãe.
— Olá crianças — minha mãe entra no quarto de repente, como se estivesse ouvindo atrás da porta. — Comprei ingredientes para fazer bolo de chocolate, para um menino muito sapeca!
— Obaaa! — Christian pula cama e abraça as pernas da avó. — Bolo, vovó!
— Mãe, pode levar ele até a cozinha. Eu preciso muito conversar com a Susana — falo e minha mãe levanta as sobrancelhas e as desce em um movimento agiu, dizendo que tentou impedir essa conversa.
Quando minha mãe nos deixa, observo que o rosto pálido de Susana está corado, e ela parece relutante com algo.
— Então, me conta, está acontecendo algo entre vocês?
— Não! — ela nega. — É que... não sei eu estou feliz... na verdade o Santiago... ele tem me feito sentir assim depois da morte do meu irmão. Ele tem demonstrado muita preocupação e está sempre me ligando, eu só não espero estar causando uma má impressão com você e sua família por causa dele...
— Você está a fim dele? — a interrompo com uma pergunta direta. Ela para de falar e move os lábios vagarosamente, sem dizer nada definido. — Tudo bem Susana, não precisa me esconder o que sente, porque com esse rosto corado e esse brilho no olhar, está na cara que você está caidaça por ele — minha amiga ri mais aliviada.
— Tem certeza de que não vai ficar chateada? — ela me olha com as sobrancelhas unidas, e morde o lábio apreensiva.
— Tenho sua boba!
Ela solta um gritinho empolgado em resposta.
— Eu estou assim, desde o jantar de noivado, ele é um homem tão interessante — ela ri com um riso infantil, sem maturidade alguma para falar daquele assunto. — Hoje ele me deu a mão para atravessarmos a rua e eu senti algo sabe, como borboletas voando no estômago, e eu nunca senti isso por ninguém antes — ela confessa e cai de cara na cama, feito uma adolescente descobrindo o amor. E de repente ela levanta a cabeça e me encara com o semblante sério — Espero que não seja estranho para você.
— Não. Santiago é passado — minto engolindo a seco enquanto a vontade de chorar começa a aparecer em meu peito. — E ele tem te correspondido?
— Ainda não sei, sempre que ele me liga, pergunta como estou e quando pode vai até a casa noturna me ver. Talvez isso seja um sinal, mas não quero interpretar mal as coisas.
A vontade de chorar aumenta, mas me faço forte o suficiente para rir e tentar demonstrar o meu apoio. Eu sabia que isso aconteceria um dia, eu sabia que Santiago uma hora se cansaria e procuraria outra mulher, eu só não pensava que fosse com Susana a irmã do homem com quem eu iria me casar.
— Há! Susana! Por que não deixa a gerência da casa noturna nas mãos de outra pessoa, você sabe naquele lugar frequenta todo tipo de gente e o Bruno não está mais aqui para te proteger. Sem falar que agora a rede de academias está sob seus cuidados.
Ela levanta a cabeça do colchão e sorri.
— O Santiago me disse a mesma coisa. E eu estou pensando seriamente em passar o ponto, porque...
Os minutos seguintes são preenchidos pela ideia de ela abrir um novo empreendimento e dar continuidade aos negócios de do irmão, porque o real motivo dessa mudança drástica de assunto, é que não quero saber o que esses dois andam fazendo na casa noturna de Susana à noite e nem quero entrar em méritos a respeito do pai do meu filho. Então visto a minha melhor fantasia, para continuar encenando como uma boa atriz que sou: uma viúva em lamentos, quando a única vontade que tenho é correr para os braços do homem que amo de verdade, e dizer para o mundo inteiro que ele é meu.
Talvez, em uma outra vida.
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Quando tudo deu errado
RomansaNo passado Giovanna Martins viveu um romance intenso com Santiago Castillo, o pai de seu filho Christian de apenas quatro anos. Juntos eles enfrentaram muitas circunstâncias que nem sempre foram a favor desse amor deixando muitas marcas e mágoas ent...