Capítulo 58

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Giovanna Martins 

Christian está deitado no meio da cama, enquanto eu permaneço no canto e Santiago na beirada de costas para nós — local seguro para nos certificarmos que nossos desejos reprimidos não vão criar vida própria, e que pela manhã minha calcinha esteja em qualquer outro lugar do quarto menos em mim.

Me movo na cama procurando uma posição mais confortável. Um dos problemas em estar grávida é que na hora de dormir nenhuma posição parece boa. Christian ao meu lado se move e joga suas perninhas para cima de mim, enquanto seus braços voam para cima do meu rosto, completando meu desconforto.

— Menino espaçoso — murmuro baixinho e ouço o som de corpo em atrito com colchão, olho para o lado e vejo Santiago se virar em minha direção. Embora o quarto esteja escuro, pela claridade das luzes que vem de fora da casa e atravessam os vidros das janelas, consigo ver os olhos de Santiago , e ele está...

— Ainda acordada? — ele me pergunta com a voz baixa, porém potente o suficiente para incomodar um ouvido que deseja silêncio.

— Shhh! — murmuro. — Minhas costas estão me matando — sussurro. — Seu filho é tão espaçoso quanto você.

Vejo dentes brancos que aparecem disfarçados atrás de um sorriso.

— Deita aqui do meu lado, põe o menino no canto, me deixa te fazer um carinho, sei que não vai aliviar o desconforto, mas pode te ajudar a dormir — analiso a proposta.

Estar mais perto dele não iria ajudar em nada nas minhas dores lombares, mas ele estava se mostrando ser um bom amigo, um apaixonado sem cura tentando reconquistar o seu amor, porque foi essa impressão que fiquei depois de ouvi-lo cantar tão romanticamente para mim. Então sem pensar muito, troco de lugar com Christian e me deito no meio. Quando toco a cabeça no travesseiro, deixando a barriga pra cima, sinto as mãos grandes de Santiago tocar a minha barriga por cima da camisola, e se achegar um pouco mais.

Suspiro e fico em silêncio, sentindo seus carinhos e pensando em tudo, e em como eu me sinto bem quando estou perto desse homem. Embora a minha vida tenha se tornado uma completa bagunça, é bom saber que ele sempre está por perto para me ajudar a não desmoronar.

Olho para o alto e sinto vontade de desabafar, ele merece sabe de mais alguns segredos meus.

— Fiquei apavorada — confesso ainda olhando fixamente para o teto.

Santiago move o queixo e a encaixa em cima da minha cabeça, me chego mais para o perto de seu peito e ponho a mão em cima da sua.

— Com o quê?

— Quando acordei no hospital e Bruno me contou sobre a gravidez.

— Vocês não estavam se cuidando, não é?

—É — faço uma pausa reflexiva. — Foram apenas algumas vezes, eu pedi para ele se proteger, mas ele me garantiu que não iria acertar o alvo.

— Hum — ouço um gemido mal-humorado. — Você tinha falado que não iria ceder, porque resolveu antecipar o "presentinho" dele?

— Não sei. Ele me pediu, eu só pensei que fosse o momento, afinal ele já havia me pedido em casamento. Fiquei preocupada em fazer a coisa certa dessa vez, porque no fundo eu ainda me sinto mal toda vez que lembro do meu pai dizer que sou uma pessoa inconsequente e irresponsável, e eu acho que ele tem razão... Me arrependo um pouco... não pela criança que estou gerando, mas por não ter escutado você é minha mãe — confesso, e mais uma vez ouço risos.

Outro sorriso amplo se abre em seus lábios.

— Está me dizendo que reconhece que eu estava repleto de razão, e que você foi uma menina muito malvada insistindo com uma relação que não tinha futuro?

— É. Foi isso mesmo — murmuro. — Eu sinto que decepcionei meu pai, eu só queria entrar na igreja de véu e grinalda, essa coisa toda que dá orgulho aos pais, mas nada na minha vida ocorreu como eu planejei. E novamente estou aqui, frustrada, carregando comigo o filho de um homem que nunca amei, e a criança sequer vai poder conhecer o pai biológico.

— Olha — ele inclina sua cabeça na direção da minha, deixando nossos olhares alinhados. — Não quero que fique se martirizando pelo que não deu certo, a vida segue, você é jovem, tem uma vida inteira pela frente, tenho certeza que o bebê que está em sua barriga vai ser muito amado por todos. E eu sempre vou estar aqui ao seu lado — ele se inclina mais um pouco e beija minha testa, volto a me aconchegar em seus braços sentindo seu calor, e fechos os olhos, grata, por ter um homem como ele por perto, para ouvir meus desabafos e sempre me aconselhar. 

Quando tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora