Capítulo 24

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Santiago Castillo

— Qual é o seu problema? — ouço os berros de Giovanna enquanto seus punhos fechados socam meu peito quando passo pelas portas de sua sala — Por que você foi fazer aquilo? — ela grita novamente.

— Desculpa — falo com a lembrança mais constrangedora da minha vida na cabeça.

— O que deu em você? — mais um soco no peito, e ouço um suspiro cansado. — Pensei que fosse um homem maduro, mas vejo que me enganei! — ela volta a me socar e só então seguro seus punhos.

— Eu pensei que ele estivesse te enganando! E depois de você me contar o que tem te pedido, eu fiquei louco de... — Paro de falar e a palavra final fica presa apenas na minha mente.

Ciúmes.

— Dê?! — Ele me interroga novamente. — É bom saber que não posso me abrir com você. E sabe de uma coisa? Voltamos à estaca zero! Acabou toda e qualquer liberdade que dei a você!

Ela se desprende dos meus punhos e senta no sofá e esfrega o rosto com o semblante tão duro que me faz sentir vontade de sair correndo.

— Gio... — uso seu apelido carinhoso, mas o efeito é contrário, ela me olha com mais ódio que antes. — Desculpa, eu só queria te proteger.

— Me proteger de quê, Santiago? Ninguém pode me fazer mais mal do que você já me fez!

O tempo para o silêncio reina, o cansaço e a vergonha me vencem. Me sento no sofá e abaixo a cabeça, pensando em suas últimas palavras.

— Você tem razão, eu não deveria me intrometer na sua vida.

"Sua vida". Esse termo me faz sentir um verdadeiro intrujão, nessa casa, nesse lugar e em qualquer coisa que diz respeito à mãe do meu filho.

— Como ficou sabendo? — pergunto.

— Bruno me ligou hoje. — Filho da mãe! — Ele está muito chateado, disse que não queria que as coisas ficassem ruins entre nós, mas não poderia deixar de contar o que você fez. Eu conheço a Susana, conheço a história toda. Você deveria me perguntar antes de tomar qualquer decisão estúpida.

— Tudo bem, eu não me meto mais — falo e me levanto do sofá pronto para ir embora.

No mesmo instante, as curtas pernas do meu filho vêm correndo, mas ao invés de pular no meu colo como sempre faz, dessa vez ele prefere a mãe, seus bracinhos se esticam para o alto e ele choraminga exigindo ser pego.

— Viu o que você fez, acordou o menino! — ela cochicha e me olha torto.

— Não fui eu quem estava berrando — me defendo e torno a me sentar no sofá.

Se Giovanna pudesse me matar com aquele olhar, não existiria mais cinzas dos meus ossos.

— O quê?

— É isso mesmo! Você é quem estava gritando, feito uma louca — eu digo e ela ri sem humor, pegando o garoto no colo.

— Santiago, eu vou acabar matando você! — ele diz entre os dentes e se senta com Christian em seus braços, tentando fazê-lo voltar a dormir.

E é nessa hora que presencio a cena que me faz sentir o homem mais privilegiado do mundo. Christian enfia a mão por dentro do sutiã de Giovanna e choraminga.

Quéo nana!

Eu não tive a oportunidade de segurar as mãos de Giovanna enquanto ela dava à luz ou enquanto ela amamentava nosso filho pela primeira vez. Perdi seu desenvolvimento nos primeiros meses de vida, e não tive a oportunidade de ver meu menino dar seus primeiros passos e falar suas primeiras palavras. Tudo o que presencio com eles me encanta.

— Não tem mais nana, você já é um homem e homens não gostam de peito — Giovanna fala sem paciência e eu sorrio.

— Posso responder por ele?

— Cala a boca! E some daqui! Ela volta a dizer usando a mesma expressão raivosa que antes.

Em cima da mesa de centro há vários livros abertos e um caderno com os novos projetos para o curso. Ela estava estudando antes de me ligar e dizer que eu precisava vir à sua casa com urgência.

— Você estava estudando?

— Sim, mas tive que parar para resolver a briguinha de testosterona — ela responde forçada.

— Seu pai está em casa?

— Não! — ela responde entre os dentes. — Está de plantão hoje.

— Quer que eu fique com ele — aponto para o menino —, para você estudar?

— Ele está enjoado, nossa nova rotina está fazendo ele sentir muito mais a minha falta que antes, e agora só quer ficar agarrado comigo.

— Eu sei. Então deixa eu ficar aqui com ele, assim você pode estudar, e eu cuido dele tendo você por perto para me auxiliar — sugiro.

— Depois da mancada que você deu, não sei se posso confiar em deixar você na minha casa sem que arranje confusão com Bruno.

— Eu só quero ajudar, poxa. É uma forma de me desculpar, e além de tudo, eu tinha dito que ficaria com ele para você estudar.

— Santiago , você está ouvindo os grilos cantando? Já são quase dez da noite. Por que não vai para a sua casa pensar na besteira que fez, e me deixa em paz!

— Porque eu também sou responsável por ele, e não estou pedindo nada demais além de poder ficar com nosso filho, para você estudar.

— Ah! — derrotada ela aceita a ajuda. — Leva ele para quarto, e coloca algum desenho para ele assistir — ela me entrega o menino e resmunga. — E tem janta pronta, se quiser comer.

— Fez a minha comida favorita? — rio ajustando o menino no colo.

— Desaparece da minha vista!

Quando tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora