Capítulo 43

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Giovanna Martins

A cobertura já está mobiliada com os móveis que desenhei e planejei, nosso quarto já está pronto, o quarto de Christian e do bebê também. A barriga mal cresceu e Bruno já me fez comprar tudo para receber a criança, e por ainda não sabermos o sexo dele, montamos todo o quarto em amarelo e verde, comprei algumas poucas peças azuis escondidas, mas Bruno garante que vamos ter uma menina.

Termino de guardar os últimos itens que comprei para a cobertura, e vejo várias mensagens no meu celular, Susana quer saber a cor das rosas que quero para a cerimônia tradicional na igreja, dona Ieda me pergunta quando pode agendar um horário para irmos provar o vestido de noivas, meu pai me pergunta sobre a minha mãe, e minha mãe quer saber se já comi alguma coisa.

Rolo todas as mensagens e não há nenhuma mensagem dele, de Santiago. Desde o dia em que ele saiu do hospital quase não o vejo; primeiro porque passei meus últimos dias em casa sendo paparicada pela minha mãe, que tem me ajudado com Christian e com os assuntos do casamento, e segundo, toda vez que ele aparece para pegar nosso filho, para passar um tempo com ele, eu fujo, me tranco no quarto e não saio, a maioria da vezes dou a desculpa de que estou enjoada que não é uma mentira, mas tudo o que quero é não poder olhar mais nas íris verdes que faz meu coração apertar, me acusando de que estou fazendo a coisa errada.

Susana e eu, nos aproximamos muito durante esse tempo, na maioria das vezes ela me acompanha quando vou às compras, já que minha mãe diz não ter paciência para essas coisas. Susana não é apenas uma mulher incrível. Ela é doce, gentil, sensual, cheia de charme, tem a mesma idade que eu e tem me ajudado muito com toda essa correria.

Abro a porta da cobertura e o pavão se manifesta à minha frente, lá está Susana com seu jeito perua, usando um vestido rosa muito decotado, botas douradas e um chapéu com uma pena preta.

— Não sabiam que tinham antecipado a festa de Carnaval — zombo rindo e ela finge estar brava.

— Muito engraçadinha — ela dá uma sambadinha, dá uma volta e segura as pontas do chapéu: — Isso aqui é muito estilo, meu amor.

Volto a gargalhar e ela taca o chapéu em minha direção.

— Palhaça.

Quando ela entra na cobertura e vê todos os móveis que desenhei, e que eles ficaram ótimos nos lugares que escolhi, ela sorri e dá pulinhos feito uma criança que acabou de ganhar um doce.

— Ficou lindo, cunhadinha — ela diz, unindo as mãos. — Você é muito talentosa — sorri se jogando no sofá com os braços abertos enquanto cruza as pernas. — O ninho de vocês é muito confortável!

— Isso é só um sofá, um sofá Susana — falo e ela ri novamente.

Ela se senta e ajusta sua postura, deixando seu semblante mais sério.

— Então, como tem se sentido?

— Aí — esfrego a barriga. — Ainda sinto muito enjoo. Mas fora isso estou bem, na verdade estou muito animada.

— Que bom — Minha cunha ri tensa e olha para os quadros na parede. — Meu irmão já te contou, sobre o passado dele?

— Não — digo e me sento ao seu lado. — Tudo tem acontecido tão rápido que não tivemos tempo de conversar sobre coisas do passado, embora ela já saiba muita coisa sobre a minha vida.

Ela suspira e volta a afundar no sofá com o olhar cheio de caos.

— Ele nunca falou sobre a Brenda?

— Sim. Poucas vezes, mas nunca entrou em detalhes — respondo.

— Ela era a noiva dele — Susana cruza os braços e me olha com tristeza. — Ela o deixou depois de saber que... que eu trabalhava como garota de programa. — O quê? — Bruno foi o meu anjo da guarda — ela volta dizer. Eu sou fruto de uma prostituta com o pai dele, o senhor Lourenço nunca me reconheceu como nada, e quando minha mãe reclamou meus direitos na justiça, ele fez de tudo para silenciá-la, deu a ela muito dinheiro e ela me deixou naquele lugar depressível, onde eu aprendi a mesma profissão que a dela para não morrer de fome. Algum tempo depois, Bruno foi me procurar, nessa época ela me disse que tinha tido conhecimento da situação por intermédio do procurador do pai, e foi nesse momento que ele me tirou daquela vida, e me apresentou um mundo diferente de tudo o que eu já vivi.

— Eu sinto muito — falo me sentindo completamente comovida. — Mas o que isso tem a ver com a ex-noiva dele?

— Ela é de uma família tradicional, os pais são muito rígidos, e quando ele contou sobre mim, imediatamente meu passado os fez me olhar com outros olhos, mas Bruno não me deixou, ele sempre esteve ao meu lado, e eu sou muito grata por isso. Brenda era uma boa garota, mas vivia sob as ordens dos pais, que passaram a implicar com meu irmão por ter adotado uma garota de programa, e tê-la trazido para sua vida. Cansado de tudo, da indecisão de Brenda, da falta de coragem de enfrentar os pais, Bruno deu um ultimato e ela escolheu o mais óbvio.

— Os pais.

— Sim.

— Nossa! — falo me sentindo péssima em saber dessa história.

— Eu só quero que você saiba, que eu amo muito meu meio irmão, por tudo o que ele fez por mim, e tem feito até hoje, e por tudo o que ele é. Eu gosto muito dele e não gostaria que você... sabe — ela dá de ombros. — O magoasse.

— Não! É claro que não! Eu o amo. Eu nunca vou ser capaz de magoar seu irmão — sentindo receios sair da minha voz, convenço a mim mesma de que menti, eu não o amo, mas ele é um bom homem e por mais que me doa, estou decidida a acabar com todo e qualquer sentimento que exista em mim pelo pai do meu filho, e fazer com que dê certo.

— Então... Estamos entendidas — Sorrimos juntas como duas cúmplices que estamos nos tornando.

— Vamos — ela puxa a minha mão. — Ainda temos as flores para escolher, o vinho, o queijo, os papéis do convite, a igreja, cerimonialista, a ornamentação, o sabor do bolo, ajustar os detalhes da lua de mel... — Susana vai falando enquanto me puxa em direção a porta do elevador. Por um instante, me desligo do que ela está dizendo e começo meu monólogo particular.

Estou grávida de um homem que não amo, e vou me casar com ele. Eu deveria ganhar um certificado de burrada do ano, isso é pouco para as coisas que faço. Isso parece tão absurdo. Como vou me casar com um homem se meus pensamentos estão em outro? Talvez eu deva me forçar a pensar em Bruno e em tudo o que ele está fazendo para que eu me sinta bem com ele. Mas isso é impossível. Como mandar o teimoso do meu coração esquecer o meu primeiro amor, como mandar o teimoso do meu coração esquecer de como se faz para amá-lo, como?

Eu estava disposta a terminar tudo com Bruno e voltar para o Santiago, mas com a gravidez mais um muro intransponível cresceu entre nós, não há mais volta, não posso terminar tudo agora e simplesmente seguir com a minha vida sem que todos os dias eu me lembre que também amarrei a minha vida com Bruno, e que parte de mim, pertence a ele.

As questões voam pela minha cabeça feito flechas de fogo, que me queimam, desestabilizam e eu tenho que fazer o esforço de cada dia, para parecer feliz, animada e realizada com tudo o que está acontecendo.

Por que a minha ficha só foi cair naquela maldita loja de noivas? Por que eu não abandonei meus ressentimentos e mágoas para dar uma nova chance a Santiago quando eu ainda tinha tempo, por quê?

Quando tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora