Quando tudo deu errado

Capítulo 54

Giovanna Martins

Quando abro os olhos pela manhã, sinto que aquela angústia opressora me deixou, estou mais disposta, e animada, um pouco triste, mas, nada que possa me prender na cama por muito tempo.

Deixo meu quarto já arrumada para o dia, cabelos penteados, usando um vestido longo casual e a minha bolsa, quero visitar o meu pai e pegar a chave da casa de Petrópolis com ele, gosto daquele lugar e passar um tempo longe de tudo refletindo pode me fazer bem.

— Bom dia mãe! — falo ao entrar na cozinha e vê-la preparando a mesa do café.

— Bom dia querida — seu sorriso folgado parece brilhar em felicidade por me ver novamente disposta. — Está tão bonita, vai sair?

— Sim, vou visitar meu pai — me sento à mesa e pego uma uva da fruteira. — Pensei em pegar a chave da casa de Petrópolis, para irmos passar um final de semana tranquilo longe de tantos problemas.

— É ótimo te ver assim, tão disposta — minha mãe me beija na cabeça. — Mas eu não vou poder ir com vocês, a mãe de Bruno voltou de viagem e me convidou para ir na casa dela, conversar. Ela ainda está tão mal. Eu vou prestar meu apoio.

Minha mãe é um anjo.

— Faça isso mãe. O Christian está dormindo, não quero acordá-lo, pode ficar com ele para mim? Eu volto logo.

— Claro querida, eu faço qualquer coisa por você — sorrio e vejo minha mãe se sentar à minha frente. E de repente seu semblante muda, e pelo pouco de convívio que eu sei que isso significa que ela não está mais confortável com algo. — Susana não dormiu em casa. Fiquei preocupada, liguei várias vezes e ela não me entendeu.

— Não? — franzo a testa e pego a xícara de café que ela estica em minha direção. — Estranho.

— Ando muito preocupada com essa menina — minha mãe volta a dizer.

—Fica tranquila, mãe, ela tem um apartamento, deve ter ido dormir lá, e a boate fecha tarde, deve ter virado à noite — falo completamente despreocupada.

— Não sei não. Não gosto da ideia de ver essa menina gerenciando um lugar tão hostil, ela é tão doce, nada disso combina com ela — minha mãe fala e desvia o olhar para sua xícara.

— Concordo, mas ela insiste.

Ouço o choro de Christian vindo do corredor e ameaço me levantar da cadeira, mas minha mãe me impede.

— Na disso! Tome seu café, não se esqueça que deve se alimentar bem por causa do meu novo netinho, eu vou cuidar do pequeno — ela fala e se retira da mesa.

Dirijo até a casa do meu pai, quero fazer surpresa e dar uns bons beijos no meu velho. Ele deve estar sentindo tanto a minha falta.

Dirijo por minutos e estaciono entre meio a calçada da casa de Santiago e a casa do meu pai, o silêncio me mostra que talvez não tenha ninguém em casa, e depois de insistir tocando a campainha. Resolvo desistir e ir até a casa do meu antigo vizinho, que quem sinto tanta saudade. Nunca pensei em dizer isso, mas até suas inconveniências me faziam bem, pelo menos eram engraçadas na maior parte das vezes.

Bato na porta, e rapidamente Santiago aparece, sem camisa, de cabelos molhados com uma toalha envolta do pescoço, usando short comum e com os pés descalços. Ele é assim, sempre que está em casa gosta de ficar à vontade.

— Bom dia — seu sorriso me mostra o quanto ele está feliz em me ver.

— Bom dia — Eu vim visitar o meu pai, mas acho que ele não está em casa — explico sem graça tentando não olhar para seus gominhos que gritam "olha como eu sou sexy".

— Ah! Sim ele saiu cedo com Vanessa — Santiago fala e pega em minhas mãos.

— Não sabia que você anda stalkeando meu pai!

Ele ri da minha piadinha.

— Porque você não entra um pouco, eu já estava indo ver o Christian.

Sorrio tímida, talvez esteja na hora de me acertar com o pai do meu filho, penso rendida a ele, vendo-o me conduzir pela casa com tanto carinho.

— Já alimentou o bebê? — ele pergunta enquanto toca de leve na minha barriga, me causando cócegas e o incrível desejo por receber mais dessa atenção.

— Já sim, minha mãe fez questão de providenciar isso. Tenho sentido tanta fome, você não faz ideia.

Ele sorri e joga uma mecha do meu cabelo para trás da orelha, enquanto seus olhos examinam toda a estrutura da minha pele, ele parece hipnotizado com o que vê.

— Você está mais linda do que nunca, eu daria tudo para vê-la grávida do Christian — sorrio e o lanço um olhar que corresponde o que ele estiver me propondo com aqueles olhos tão claros e brilhantes. Por um segundo sinto o desejo de convidá-lo para ir passar o final de semana comigo e Christian na casa de férias de Petrópolis, mas, sinto o receio quando lembro que Susana nutre sentimentos por ele. A tenho como uma irmã, eu não gostaria que ela sofresse.

Me afasto um pouco motivada pelas lembranças, e quando olho para o alto da escada, Susana aparece, vestindo apenas uma camisa branca social longa de Santiago, de cabelos molhados como se estivesse acabado de sair do banho.

Ele de cabelos molhados, ela de cabelos molhados, já sei, eu atrapalhei alguma coisa; um banho à dois na gigantesca suíte do quarto dele, talvez. Então está explicado onde Susana passou a noite. Aquecendo a cama de Santiago!

O sentimento cortante passa por mim feito navalhas, meu sorriso sai do rosto e eu me afasto mais ainda, dando alguns passos para trás confirmando as minhas suspeitas: Santiago e Susana estão juntos. Tudo o que eu quero é sair correndo, e nunca mais ser encontrada por ninguém.

— Oi amiga, bom dia! — Susana diz sorrindo, para ao lado de Santiago e apoia o cotovelo nos ombros dele.

— Oi. Desculpa eu... eu não queria atrapalhar, já estava indo... eu só queria ver o meu pai, mas ele não está então... — Mal termino de falar, dou as costas e saio de casa em passos apressados, para alcançar meu carro o mais depressa possível.

Quando finalmente coloco a chave na ignição, sinto as gotas quentes escorrendo pelo meu rosto. Santiago sai para o lado de fora, com o semblante confuso e acena para que eu espere, mas o ignorando completamente, ligo o carro, faço a manobra e saio do condomínio o mais rápido que posso.