Capítulo 22

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Santiago Castillo

Jogo o peso do meu corpo na cadeira do meu escritório, e ela balança, me jogando para frente e para trás, enquanto eu seguro o queixo e olho atentamente para o homem alto, loiro dos olhos azuis que está sentado à minha frente.

— Então? Conseguiu o que pedi?

— Sim — Álvaro diz, levantando as folhas que estão em suas mãos.

— Pois bem, bonitão. Por onde posso começar a incriminá-lo?

Álvaro ri e põe as folhas em cima da mesa.

— Você vai arranjar problemas com a Giovanna, é só isso que você vai conseguir — ele me alerta inconformado.

Álvaro é o meu melhor amigo, ele trabalha como investigador da polícia Federal, então, pedi que ele me fizesse um favor... em outras palavras: investigar a fundo a vida de Bruno, eu quero saber tudo o que esse cara faz, além de fingir ser um bom homem. Depois de Giovanna ter me contado o que aquele infeliz vive pedindo, minhas desconfianças só aumentaram.

Olhando a primeira folha, ele cruza as pernas na minha frente e resmunga.

— Aqui diz: Bruno Henrique Magalhães, nascido aqui no Brasil, mas, possui dupla cidadania nos Estados Unidos. Ele estudou em uma das melhores faculdades do país, se formou em educação física, e em dois mil e cinco recebeu alguns milhões como herança, — ele deixa a folha em cima da mesa e pega as outras folhas, molha o dedo com a saliva e escolhe a próxima. — Me parece que ele aproveitou a oportunidade que a vida deu e abriu uma linha de academias, que por sinal são ótimas — ele me olha e faz uma observação. — Pois sou aluno dele.

— Ah! — jogo as mãos pro alto. — Não é possível, nenhuma fraude nos negócios dele? Nenhum envolvimento com tráfico? Drogas? Aliciamento de menores?

— Não.

— Prossiga — falo impaciente.

— Ele nunca se casou ou teve filhos, há quatro anos estava noivo de uma modelo americana, mas parece que eles romperem próximo do casamento. — Ele joga as folhas em cima da mesa. — Santiago , deixa o cara em paz, ele é apenas um boêmio rico, que gosta de curtir a vida.

— Ah! — resmungo novamente. — Não é possível ele ser tão certinho. Tem certeza?

— Tenho!

Suspiro desanimado expulsando o ar dos pulmões.

— Mas tem algo que você possa gostar de saber — ele diz e eu volto a minha atenção aos seus olhos azuis.

— Todas as quintas e sextas feiras ele frequenta fielmente uma casa noturna, não sei com qual finalidade, mas ele nunca falta — Álvaro diz e joga as folhas em cima da mesa. — Com isso, presumo que estou livre desse trabalho sujo.

— Sim está, mas antes de ir embora, pode me passar o endereço dessa casa noturna?

— Claro, mas vai ter que deixar meu nome fora disso! — ele diz sublinhando algumas linhas na folha que está em sua mão, e logo depois aponta em minha direção.

— Sou um túmulo — digo e pego a folha, cheio de satisfação. Olho para o local sublinhando e leio o endereço com atenção.

— Está a fim dela novamente? — Meu amigo pergunta me obrigando a levantar os olhos em sua direção.

— Sim. Eu resolvi correr atrás do tempo perdido, quero Giovanna de volta, e meu filho também, não quero deixar o caminho livre para esse — aponto para as folhas —, imbecil.

— Pensa bem no que está fazendo — Álvaro diz. — Giovanna ainda jovem, ela tem muita vida pela frente. Só toma cuidado, não vai fazer nenhuma bobagem novamente, cara.

Meu amigo tem razão, ele sabe que no passado fui muito impulsivo, provocando muitas consequências que hoje vivo, incluindo o meu afastamento de Giovanna, mas eu sei que não seremos felizes separados, eu sei que ela ainda me ama, e se não tivéssemos sido separados no passado, teríamos vivido muitas coisas boas juntos, e hoje, não haveria um abismo de distância entre nós.

Eu tentei impedir nosso envolvimento, antes de tudo acontecer. Eu argumentei que eu ficaria velho primeiro, e que ela ainda era jovem, tinha uma vida pela frente, mas não conseguimos ficar longe por muito tempo, foram apenas alguns meses separados e quando voltamos a nos encontrar, estávamos tão sedentos quanto antes, e ali percebi que não haveriam maneiras de ficar longe daquela mulher que na época era uma menina.

— Se você acha que isso é o certo a se fazer, vá fundo, só não seja egoísta procurando problemas onde não tem — meu amigo se levanta da cadeira, aperta a minha mão e vai embora, me deixando com as últimas palavras na cabeça.

"Não seja egoísta".

Olho na folhinha da mesa, e vejo que hoje é quinta-feira, então decido ir fazer uma visitinha na casa noturna que aquele cretino frequenta.

Quando tudo deu erradoOnde histórias criam vida. Descubra agora