Quando tudo deu errado

Capítulo 61

Giovanna Martins

Foi apenas um beijo, Giovanna.

Quando passo pelas portas da cobertura, tento convencer meu consciente, de que eu não sou uma hipócrita, traidora e mentirosa. O que Susana vai pensar quando descobrir que Santiago e eu passamos o final de semana juntos, e ainda rolou momentos de carícias e um beijo que acendeu tudo em mim, causando o efeito: eu-o-amo-ainda-mais.

Está tudo tão errado, eu não deveria me entregar àquele beijo, eu não deveria ceder porque, o efeito daquela aproximação ainda queima na minha pele me lembrando da quantidade de ocitocina liberada em meu cérebro, me lembrando o quanto sou viciada por ele, seus beijos, seus toques, seus carinhos, seus...

— Giovanna! — saudosa Susana entra na sala e se joga no sofá ao meu lado. Fecho os livros que estão abertos no meu colo e a encaro.

— Oi, cheguei a poucos minutos.

— Eu vi Santiago no saguão do prédio. Ele me contou que vocês passaram o final de semana juntos — ela recosta no sofá e olha para o nada tentando não ser intrometida, esperando uma explicação minha.

— Susana, não rolou nada — Mentira... Mentira... Mentira! Engulo com dificuldade, e volto a usar minha única defesa. — O Christian, ele só foi pelo Christian. Santiago ficou preocupado com o fato de nós estarmos em um lugar tão remoto, por isso quis nos fazer companhia. Mas, fique tranquila — dou uma tapinha sínico no ar —, entre Santiago e eu, não aconteceu nada.

Depois de ficar com o ar preso nos pulmões, respiro e tento agir naturalmente.

— Su...

— Relaxa amiga, eu sei que você amava muito o meu irmão, mas não podemos descartar que o Christian é um elo entre você e o...

— Não! — a interrompo. — Entre Santiago e eu não existe mais nada além do nosso filho. Eu juro.

O olhar desconfiado de Susana Ainda permanece inerte, depois de alguns segundos seu semblante muda, a empolgação novamente toma seu rosto.

— Ele estava tão bonito, com um sorriso diferente. Ele falou de mim?

—Ah... — Sorrio sem graça. — Falou... falou que... vocês... Vocês se divertiram muito na boate. Ele está empolgado com a aproximação de vocês.

O que diabos está dando em você, Giovanna , porque está mentindo?

— Sério? — ela dá seu gritinho empolgado, que sempre usa quando está feliz. — Sabe amiga eu tenho algumas dúvidas, como é dormir com ele? Claro vocês fixaram sexo, caso contrário o Christian não teria vindo ao mundo, não é?

Por favor, alguém me diz que não estou ouvindo isso?

— O quê?

— É isso mesmo, como ele é na cama? Gentil, detalhista, bruto... — ela puxa uma almofada e joga em mim. — Vai me conta!

Ajeito meu corpo no sofá e respiro fundo. Ainda bem que Christian está dormindo em um local seguro para não ouvir essa baixaria.

— Bem... — pensa em alguma coisa, mulher. — Ele é... Um cavalo!

— Cavalo? Você quer dizer bruto? — ela pergunta de testa franzida.

— Sim — aceno positivamente com bastante cinismo. — Ele é o tipo de homem que parte uma mulher ao meio, sem contar que ele rosna e arranha. Ele faz uns sons estranhos, e quando está perto de gozar, ele morde...

— Credo! — ela me olha com repulsa.

— Isso mesmo, fazer sexo com Santiago é.... — Maravilhoso, ele é carinhoso, paciente, Calheiro — política de primeiro as damas, e é muito sexy, sabe fazer tudo bem feito. Ele sabe dar prazer a uma mulher.

— É...? — ela gesticula para que eu continue a frase, com os olhos esbugalhados.

Observando o quanto sua perplexidade aumenta, decido me manter firme na ideia de fazer Susana esquecer essa curiosidade pela vida sexual de Santiago . Do homem que amo. Não, definitivamente ela não pode saber sobre os detalhes, caso contrário, ela ficaria mais fissurada do que já está.

— Terrível! Fazer sexo com ele é terrível. Não se engana com aqueles músculos não, ele não sabe usar nada daquilo, sem falar que as vezes ele... — me achego para pra frente, e cochicho. — Ele não consegue empinar a pipa.

— Minha nossa, isso é terrível! — ele diz com um misto de medo e espanto em seu olhar.

— É verdade! Já peguei ele tomando o azulzinho escondido — falo quase acreditando na minha própria mentira. — Sabe aquela cena em que Benecio del toro se transforma em um lobisomem no filme? — Ela Confirma com a cabeça enquanto seus lábios ficam em formato de "o". — É exatamente assim.

Ela ri tensa e argumenta.

— Que isso, Geo. Você deve estar exagerando. Com certeza você deve estar — ela levanta os dedos e faz sinais de aspas —, hiperbolizando.

— Não! — respondo com o semblante mais sério que consigo. — Não é uma hipérbole. Ele-não-é-humano.

O "oh" continua formado em seus lábios. Há uma deliciosa mistura de espanto com repulsa em seu semblante enquanto eu a aprecio a cena com certo prazer interno, mesmo que isso me transforme em uma sádica cruel.

Eu não vou contar para ela que Santiago não faz amor, ele produz arte.

— Hum — ela resmunga e começa a bater o indicador no nariz. — Eu só tenho mais uma dúvida. Coço a cabeça, pensando na próxima mentira a ser inventada. — Ele parece ser um homem tão legal, porque não ficaram juntos? É a diferença de idade? Ou ele foi infiel?

— Bem — endireito a coluna no sofá, e respiro fundo. — Nenhuma das opções. Mesmo com tanta diferença na idade, nós sempre nos demos muito bem. Acontece é que ele teve uma noiva psicopata, que nunca superou o cancelamento do noivado, quando nos envolvemos, ela ficou louca de ciúmes, e fez de tudo para nos separar. Eu era jovem, não sabia lidar com a situação, acabei acreditando que ele ainda gostava dela, e me deixei levar pela insegurança acabei abrindo caminho para ela, e sem perder tempo, ela jogou sujo e conseguiu se casar com ele, foi quando eu descobri sobre a gravidez. Escondi por um bom tempo, como meu corpo sempre foi magro a barriga demorou muito a aparecer enquanto eu usava roupas largas, mas depois do quinto mês, achei que era hora de contar a verdade para o meu pai. Depois de tantos erros ele merecia a verdade.

— E como ele reagiu? O seu pai.

— Como você acha? Foi uma droga ter que enfrentar aquele olhar de decepção dele me acusando e sem palavras dizendo: "eu te avisei". Ele procurou pelo Santiago que estava voltando da lua de mel com a "esposinha" disse que não iria arcar com o peso das consequências sozinho — deixo a mágoa novamente sair por entre meus lábios — contou tudo, que eu estava grávida e que havia escondido a gravidez de todos, o Santiago alegou que não sabia de nada, disse sentir muito e foi me procurar, para conversarmos. Eu estava tão magoada com ele que não quis ouvir, acabamos discutindo feio. Ali ele disse o quanto estava chateado por eu ter escondido algo tão importante, e eu disse que nunca o perdoaria, por ele ter me trocado por outra mulher. Depois daquele dia, o clima tenso só aumentou, de um lindo sonho de amor para um pesadelo terrível onde trocávamos farpas e vivíamos em pé de guerra. Meu pai acabou se tornando o mediador entre nós. A minha gravidez se resumiu em uma coisa: choro, depressão e lamento.

— Caramba amiga, tenso hein! — Susana fala sem nenhuma motivação ou curiosidade pelo assunto. — Tem certeza de que esse assunto já está resolvido entre vocês — ela volta a questionar.

— Sim! Não se preocupe, todos os maus entendidos, foram esclarecidos, a máscara daquela cadela caiu e agora... nós podemos ficar juntos, e sermos uma família feliz, como sempre sonhei — ...agora, podemos seguir em frente