dias de glória

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Emily Elliot

Nunca dormi tão bem.

Não que eu já tenha dormido bem em toda minha vida, sempre tive insônia, desde que era um bebê pra falar a verdade.

Então, sinto como se essa fosse a primeira vez que dormi tão bem na minha vida toda.

Acordo sentindo minhas bochechas formigarem, e só depois de um tempo, percebo que é Emma, acariciando ela bem devagarinho com seus dedos. Mesmo totalmente sonolenta, deixo na minha boca, o que era pra ser um rastro de um sorriso, e me aconchego nela de novo, quase morrendo de vergonha a ponto de que as memórias vão se estabilizando na minha mente.

Não que eu me arrependa, não me arrependo nem um pouquinho. Mas aquilo tudo que aconteceu, aquela energia toda que eu senti, só a lembrança da intensidade daquilo me faz querer enfiar meu rosto em um buraco.

- Bom dia, Adormecida. - Os sussurros quentes dela, mais sua aquecida mão sob minha pele, me fazem corar minimamente.

- Hm, bom dia...

Meu Deus, tudo vai se encaixando lentamente, as mãos dela nos meus seios, nos meus seios. As minhas mãos dentro dela. Dentro dela.

Coro mais ainda do que já estava corada.

- Não pense demais. - Me pede Emma, me puxando para mais perto, e enrolando nossas pernas em um enroscado debaixo dos lençóis empoeirados. Suspira lentamente, e enterra seus dedos no meu couro, com um início de um carinho em minha cabeça. Depois de um momento, apoia o nariz no meu cabelo, e cheira bem fraquinho, então suspirando de novo, me deixando na imaginação do seu suspiro.

- Eu meio que já estou pensando demais. - Me aconchego em seu abraço, me enterrando em seu peito, e aproveitando o conforto daquilo. - Mas são pensamentos bons.

E pela primeira vez, realmente eram. Deus, o cheiro dela, o cabelo dela, o gosto dela, aquela sensação, essa sensação agora, isso tudo. São pensamentos que floreiam minha mente, e nem me permito pensar sobre a Rainha, sobre minha mãe ou sobre como isso pode acabar mal, apenas penso sobre como está indo bem.

- Pra quem podia me ganhar de novo, você ta indo terrivelmente mal. - Insinuo um sorriso com minha alegação, a lembrando da manhã do mesmo dia, então ergo minha cabeça para olha-la, quando vejo que enfia sua mão no rosto e sorri corada, isso faz com que meu sorriso se alongue.

- Eu ainda posso te ganhar, Vossa Alteza.

- Ah é?

- Sim. E... Hm... E... E também, posso muito bem hm... Você sabe.

- Uhum...

- Outra coisa, eu te beijei primeiro. Então quem se rendeu foi você, ou seja, eu ganhei.

- Totalmente...

Obviamente ela estava errada. E eu certa. É a ordem naturais das coisas. Mas continuo concordando ironicamente com a cabeça, enquanto a própria Emma concorda consigo mesma, acho que tentando se auto convencer de que ela estava correta.

- Devemos sair. Minha tia deve estar procurando por mim. - Quebro o silêncio confortável, ainda olhando para ela com um rosto de cão abandonado. Ela me olha, e sorri.

- Ainda deve ser metade do dia. Podemos ficar aqui até anoitecer?

- Sem chances. Temos muito o que resolver. Sumimos por um dia inteiro. Não podemos sumir de novo.

Ela solta um resmungo, revirando os olhos, bufando, e fazendo todas as caretas possíveis em uma só pessoa ao mesmo tempo, mas finalmente suspira e concorda com a cabeça.

- Ok.

E em questão de minutos, com algumas troca de olhares, enrusbecidas, e surtos internos, acabamos por levantar, botar nossas vestimentas e nos encaminhar para o castelo novamente.

No caminho todo, não penso em nenhum dos mil problemas que me esperam.

Pegamos caminhos separados, para não desconfiarem de nada, e toda a minha rota, grito, pulo, surto, sorrio para o nada, espremo minhas mãos e quero sair correndo e me jogar na grama, mas me contenho, pois na região que pego, os guardas começam a aparecer.

Assim que entro no castelo, lembro de todos os meus problemas, pois dou de cara com meu tio, vindo em minha direção com uma papelada em mãos. Presta sua reverência e dispara em palavras.

- Emily. Onde você esteve? Não sabe que...

Suspiro pesadamente, olhando para o chão, não faço questão de ouvir uma palavra sequer do sermão do meu tio, principalmente porque bem, vem da pessoa mais inadequeda e hipócrita para me dar um sermão agora.

Então quando ele acaba, respiro fundo, e olho para seu rosto, forçando um sorriso.

- Se me permite, sou a futura Rainha desse reino, e tenho muito com o que me preocupar. Subirei, irei resolver os problemas apresentados pelo Senhor, então conversarei com minha tia e explicarei tudo para ambos.

Inclino a cabeça minimamente, para expressar compreensão e respeito, então subo acima, de encontro com minhas responsabilidades.

Na reunião com o conselho administrativo temporário da Inglaterra, tive um pequeno panorama do país, das crises a serem discutidas, dos problemas a serem analisados, dos pontos a serem criticados, e claro, do meu comportamento e comprometimento com minha terra. Não questionei. Realmente ando meio paralela a essas questões, e essa minha distração tem um nome específico. Mas também não disse que me arrependo de distribuir minha atenção dessa maneira.

Não sei quando o tempo passou, mas quando volto para meus aposentos, já escurece do lado de fora, suspiro pesadamente, e me encaminho para minha cama, logo após fechar a porta atrás de mim, me sento na beirada da mesma, com a papelada em minha mão, e boto meu tempo extra em função, viajando para outro mundo quando começo a ler os relatórios escritos a tinta, e passo a noite em claro resolvendo tudo que tenho que resolver, e sei que quando o sol nasce, pelo menos já realizei metade dos meus problemas, começando pelos mais difíceis, partindo para os médios e deixando os fáceis para depois, e menos urgentes é claro.

Em resumo, meu dia foi bom demais pra ser verdade, bem no final dele, passo no quarto de minha tia, pra inventar uma desculpa esfarrapada de onde eu estava ontem e hoje de manhã, e quando a lua está em seu pico, bem acima do castelo, no ponto mais alto do céu, decido passar nos aposentos de Emma. Talvez ela estivesse acordada, talvez pudéssemos fazer a mesma coisa que ontem. Só esse pensamento me faz sorrir instanteneamente e enfia calafrios pro meu corpo.

Levo uma rosa, porque, porque bem, é uma rosa. Ela deve gostar. Quando paro na porta, olho para frente por alguns momentos, hesitante para bater, respiro fundo, olho para a minha rosa, com um sorriso bobo, e quando levanto meu rosto, levanto minha mão para bater na porta. Mas no mesmo momento, um estrondo vem de dentro do quarto, me fazendo dar um passo pra trás imediatamente. Penso em várias coisas ao mesmo tempo, será que alguém invadiu o quarto dela? será que alguém veio matar ela? Talvez a pessoa que contratou Clara? Talvez minha mãe???? Boto a mão na maçaneta na mesma hora, porém sou impedida por uma voz que vem de dentro, não é Emma.

É Elizabeth.

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I hope he bought flowers I hope he hold your hand, give you all his hours, when he have the chance, take you to every party, cause I remember how much you love to dance, do all the things I should've done, whem I was your man.

N/A: autora ta feliz

com amor, 🌙


duas rainhas e uma coroa | XVIOnde histórias criam vida. Descubra agora