com carinho

61 8 7
                                    

Emily Elliot

- Pois bem, eu não acredito em nada disso.

Emma ficou estranha comigo do nada, começando pela reunião de reinos, para resolver assuntos do tratado. Eu sabia que ela tinha trapaceado, sabia que estava me ignorando de propósito. Mas eu simplesmente, de alguma forma, sabia que ela não estava fazendo aquilo porque queria, por maldade ou porque estava me usando. Eu apenas sabia.

Não foi como um processo de pensamento, como uma reflexão profunda para eu chegar à conclusão de que tinha algo de errado. Eu apenas sabia que ela não faria aquilo comigo, sabia que não tinha como aquilo ser verdade. E não sei quando eu comecei a confiar tanto nela, quando eu comecei a vê-la como uma de minhas únicas fontes de confiança, mas aqui estou eu, mais do que com certeza, afirmando, mesmo depois de ela mesma negar, que aquilo o qual ela queria que eu acreditasse, era pura mentira.

- Você não faria isso.

Minha afirmação parece irritar ela, porque finalmente ergue sua cabeça, e tentar debater comigo. Arregala seus olhos, para argumentar:

- Você não me conhece.

- Sim, eu conheço. Se você tivesse me usado, não estaria agindo dessa maneira.

- Eu não sei do que você está falando. - Repete a mesma coisa que falara segundos atrás, perdendo a pose para abaixar novamente o queixo e olhar para baixo.

- Repetir isso não vai mudar minha opinião.  - Desencurralo ela da parede, para que possa respirar um pouco, e eu possa esfriar a cabeça, talvez consigo fazer ela admitir ou mudar de ideia, ao menos saber o que está acontecendo. - Eu passei no seu quarto ontem a noite. Ouvi que estava brigando com sua mãe.

- Estava me vigiando por trás da porta? - Há um tom de certa ameaça e incredibilidade na voz dela.

- Não! Claro que não. Mas eu passei lá, como faço todas as noites. E ouvi Elizabeth brigar com você. - Por mais que eu tente me manter parada, me sinto angustiada e ansiosa, e preciso ficar andando pelo quarto como uma louca. Ao contrario de Emma, que apenas se senta na beirada da cama, e começa a trançar suas mechas.

- Não sei porque você acha que isso tem a ver com você.

- Porque eu sei que você está me tratando desse modo depois disso! E por causa disso. Só não sei o que ela falou.

- Isso não é da sua conta Emy.

Me viro para ela. Olhando para seu rosto paralisado, seu rosto parado virado para os próprios pés, essa mulher tão controlada, errou em alguma coisa. Amém.

- Você me chamou Emy.

Ela para por um momento de trançar o cabelo, acho que para raciocinar, perceber que realmente falou isso, então volta a fazer seu penteado.

- Não chamei. Saia do meu quarto.

- Não. - Volta a andar, pensando em uma solução para tudo isso. Emma se levanta, e me olha com raiva.

- Por que você é tão teimosa?

- Eu não sou teimosa, eu só quero saber porque você está assim! - Basicamente jogo minha mão na direção dela, para indica-la, indicar seu comportamento repentino. Bufa como uma dama, e se senta de novo, resmungando coisas que nem eu mesma ouço. - Emma...

Caminho até a sua frente, e percebo que ela fica nervosa com o movimento, acelerando o processo de enlacamento do cabelo, e errando tudo, tentando parecer imparcial.

- ... Você precisa me contar se quiser que eu te ajude.

Ela permanece quieta.

- Você sabe que eu estou aqui por você. Iriamos ajudar uma a outra lembra disso? Você cuida de mim, e eu cuido de você.

Nenhuma palavra sai da sua boca, mas ela para de arrumar o cabelo, pousa suas duas mãos ao lado do corpo, e aperta o lençol.

- Só me deixa te ajudar.

- Você não pode me ajudar. Você só vai atrapalhar ok? Não se meta.

Suspiro em alívio. Eu já sabia que era mentira, mas ouvir dela que eu não sou o problema, que realmente tem algo exterior, me deixa um pouco aliviada, apesar de por outro lado, ser mil vezes pior.

Ela percebe que admitiu que tem algo, pois balança a cabeça, se auto censurando, e começa a se enrolar debaixo do cobertor.

- Saia do quarto, preciso descansar. Amanhã já terá outro duelo.

- Eu não dou a mínima para esses duelos.

- Pois bem, eu dou.

- Mentirosa.

Silêncio outra vez.

- Que seja. - Continuo, interrompendo o longo e desconfortável nada. - Mas saiba que eu não vou desistir de descobrir o que está te incomodando, e quando eu descobrir, vou destruir seja lá o que, ou quem for. Entendeu?

Ela não me responde.

- Emma, eu não vou desistir da gente. Você pode fazer o que você quiser.

E assim, eu deixo o quarto, pois sei que ela vai continuar quieta, e não a culpo, deve ter um motivo para ela não querer me contar nada, e irei respeitar o tempo dela, talvez Emma só precise pensar. Eu mesma vou resolver esse problema. Irei descobrir o que aconteceu e acabar, assim poderemos continuar juntas. Não juntas. Mas ao menos, minimamente bem.

Respiro fundo e deixo seus aposentos pela janela, a saída não poderia ser menos triunfal ou mais ridícula, mas era o único jeito, os guardas a essa hora já deviam ter trocado o turno.

Ao chegar em meu quarto, penso em um banho, mas não tem nescessidade, já tomei esses dias com Emma, não quero outro banho que não seja com ela. Me jogo em uma poltrona, próxima à lareira, olhando para o fogo, e pensando na filosofia que ele me trás. Penso em tudo que tenho para pensar. E passo a noite toda pensando, como sempre.

Só percebo que pensei demais, quando sinto o sol queimar em minha nuca, e a nescessidade do fogo para clarear o quarto não existe mais. Olho para trás, para a janela, e me pego observando as estrelas mais brilhantes, que ainda não saem do céu. Suspiro pesadamente, e me levanto daquela cadeira.

Preciso saber o que aconteceu. Por que a mãe dela decidiu brigar com ela bem naquele momento? O que aconteceu? O que aconteceu naquele dia? Bom, a única coisa de diferente foi o acontecimento da cabana. Será que ela descobriu? Meu Deus, isso seria um desastre. Não me lembro de tomar cuidado para ver se alguém tinha nos seguido ou nos observado. Estava fussurada demais naquele momento. Cativada demais. Obcecada. Presa. Por Deus, nem sei explicar como me sentia.

Me viro quando ouço uma batida à porta, e observo deslizar uma carta para dentro dos aposentos. Mesmo estilo de carta que meu padrinho sempre me envia para avisar sobre os duelos. Emma tinha razão, hoje teria um duelo, ela tentou me avisar sobre isso, e eu nem dei luz para sua dica. Droga, a única coisa que minha mãe queria que eu fizesse não consigo, presa demais sobre o que a Rainha da França está planejando. Suspiro com pêsame, me encaminhando até a porta para pegar aquele pedaço de papel. Me agacho, e delicadamente seguro aquela cartinha, com textura tão aspera e uma cor tão amarelada, e bem em seu centro, um selamento vermelho, com o símbolo da Inglaterra.

Me sento em minha cama para poder ler com calma e serenidade. Mas por fim acabo rasgando-a com raiva e ansiedade. E quando abro descordenamente a mensagem, leio-a:

"Vossa Alteza da Inglaterra,
           
   Fui avisado que ao escurecer da noite, ocorrerá o próximo duelo do tratado, sugiro que se prepare para um baile, máscaras e classe. Arranje um vestido adequado, tal quanto um comportamento.

         Com carinho, Conde da Inglaterra."

_________________________________________

N/A: Com carinho, autora do livro. 🌙

                  





duas rainhas e uma coroa | XVIOnde histórias criam vida. Descubra agora