duas rainhas e uma coroa | XVI

planos

Emma Queen

Quando dizem sobre corações partidos, eu imediatamente discarto a ideia, tendo a certeza de que um coração, não pode literalmente se partir, mas nesse momento, quando Emily dita as palavras que eu menos esperava ouvir, tenho a forte impressão de que algo se despedaçou de dentro do meu peito.

O resto do café se dá por felicitações forçadas e ternas pela minha família, uma exagerada reação de minha mãe, que deixava claro sua satisfação pela ideia, mas sinceramente, nem presto muita atenção em nada do que acontece, porque apenas olho para baixo, tento processar o ocorrido, e quando não aguento mais os burburinhos em minha mente, ouvindo cada pessoa falar algo diferente, a parabenizando e perguntando mais coisas, ou Emily comentando, com um tom que transparece felicidade, isso tudo apenas me mata aos poucos, e ficar naquele local, não é mais uma opção.

Me levanto bruscamente, cortando a voz de alguma pessoa que estava falando, e fazendo com que todos os olhares se voltassem para mim, completamente parada, olhando para o nada.

- Vossa Alteza, está bem? Parece um pouco pálida? - Viro meu rosto em direção à voz, era Liana, ela me olha com preocupação, e seu rosto é tudo que olho, porque não suportaria olhar para meu irmão e me ver de frente com sua face expressiva de pena, ou para minha mãe, que claramente deve estar se vanglorizando de sua vitória apenas me olhando, e muito menos para Emily, porque assim que bater meus olhos em seu rosto, em cada detalhe daquele angelical rosto, quando respirar mais um segundo o mesmo ar que ela, quando sentir mais um indício de sua respiração, sua pele, seu olhar, seu peso sobre minha mente e alma, irei despedaçar. Então tudo que falo é:

- Estou bem. Apenas preciso descansar, se me permitem.

Me reverencio para a Princesa Liana, presto breves despedidas para cada um presente naquela mesa, sem sequer tirar meus olhos de qualquer lugar que não seja o rosto da pessoa com quem eu me dirijo, e após, saio em disparada, para qualquer lugar, nenhum lugar, algum lugar. Que seja. Corro assim que tiro meus pés daquele cômodo, a cada passo que dou, apresso meus movimentos, pretendendo chegar em meu destino o mais rápido possível, sem ao menor saber sua identidade.

E logo eu descobri.

Meu destino era na minha cama. Com o rosto enfiado no meu travesseiro. Com minha garganta doendo de tanto exprimir gritos. Com meus olhos ardendo de tanto expelir lágrimas.

- POR QUEEEEEEEEEEEE?

Eu realmente espero que não tenha ninguém por perto, porque nesse momento de completo desespero, ataque de decepções, inveja, ciúmes e simplesmente desespero, eu nem sequer paro para pensar na possível vergonha de alguém me descobrir situada dessa maneira agora, gritando feito um bicho.

Mas por que?

Por que as coisas têm de ser desta maneira? Estávamos tão bem em um dia, e no outro, estava tudo indo água abaixo, e hoje, não há esperança, ou felicidade, não há sorrisos e abraços, carinhos ou malícias, há apenas sofrimento. E nem ousem me chamar de dramática, porque eu posso jurar que me sinto morrendo nesse momento.

É como se tirassem todas as possibilidades de felicidade de mim bem agora, bem com esse anúncio. Não há mais nada. Não há mais ar para respirar, eu só quero desaparecer.

Emily não pode estar falando sério, não há aparentes motivos para que ela esteja mesmo considerando se casar com o príncipe da Escócia. Não pode ser. Ela irá perder o tratado, irá perder a vida, a liberdade, ela irá perder... Bem, não é presunção, mas ela irá me perder. E não que isso seja a pior coisa do mundo, tudo que estou tentando dizer é que tínhamos algo, é impossível que ela esteja interessada no Príncipe depois de tudo que passamos juntas, temos algo. Não pode ter se destruído assim. Impossível. Então, por que? Por que ela jogou tudo para o ar? Eu não a compreendo. Isso é inferno. Não pode estar acontecendo.