suspiro

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Emily Elliot

Eu odeio poucas coisas nessa vida. E quando falo poucas, digo que são muito poucas mesmo, pois gosto de apreciar as pequenas coisas, porém, droga, tem apenas essa coisa, essa bendita coisa que sempre me atormentou na minha vida, me perseguindo, sussurrando como uma praga que iria chegar e me pegar, me encurralar, me sufocar e me obrigar a-

- Não seja tão exagerada, Emily. - Pede Gi, ajustando as medidas do meu corpo com instrumentos estranhos, mudando minhas roupas constantemente, testando algo, renovando, completando, retirando, refazendo. - É apenas um baile.

- Esse é o problema.

- Você nunca sequer participou de um.

- Porque graças a Deus meus pais tiveram piedade de mim. Bailes são sufocantes, muitas pessoas, muito barulho, e não de um jeito alegre e bom, fofocas, falsidade, olhares julgadores, e o PIOR...

- as roupas. - Dizemos em uníssono, ja martelei tanto isso em sua cabeça, que ela gravou as falas.

- Sim, eu sei, você não gosta das roupas, mas tenho certeza que ficará linda de outra cor que não seja branco, ou de um vestido um pouco mais arrumado.

- Meus vestidos são arrumados.

- Mas inapropriados.

- Qual sua definição de inapropriado? - Pergunto desconfiada, logo antes de ela puxar as cordas do corsete, arrancando todo o ar que havia em meus pulmões antes disso.

- Soltos, mostram demais, você sabe que uma princesa deve ser comportada. E eu sei que você é, antes que argumente, porém a maioria das pessoas irá te julgar por suas roupas e socialização.

- Isso é injusto. Não posso só lidar com a parte política?

- Emily,  haverão romanos na festa, pode resolver problemas políticos em meio a uma conversa, e descobrir mais sobre essa invasão da França repentina, se conversar com alguns Franceses...

Eu não tinha pensado nisso.

Olho distraida para a janela, deixando de ouvir tudo que Gi tagarela, quando começo a passar na minha mente ideias.

Se alguém pode me explicar essa relação entranha entra Elizabeth e Emma é Juan, ou algum Francês, alguma criada, nunca se sabe. Se eu me esforçar, quem sabe consigo tirar informações importantes nesse baile, e ajudar minha mulher? Isso é uma boa ideia.

Espero minha criada acabar tudo que precisa fazer, e começo a me animar para esse esquisito modo de tortura social inventado pelos nobres. Pelo menos sirvará de algo.

E adivinha? Como eu sou a representante do reino, eu organizo a parte burocrática do baile. O baile que eu não quero fazer, será realizado em meu nome. Ótimo.

Pois organizo tudo, mando os convites, encomendo a comida e as decorações, preparo os criados, e passo no quarto da minha tia, para ter uma conversa com ela pré-festa.

- Ok.

- Ok? - Pergunta ela.

- Ok. Não pode ser tão dificil. Acenar, sorrir, não beber muito, não comer muito, andar ereta... O que mais mesmo?

- Falar baixo Emily. Falar baixo e não falar muito.

- Essa é a parte mais fácil. Não quero falar com ninguém.

- Não seja exagerada. Você não pode falar muito, mas também não pode ficar sem falar com ninguém.

Suspiro como um resmungo, e ela me senta em sua cama, segurando nos meus ombros, ajeita meu cabelo, e anda para trás, me olhando e me analisando, pensando em... algo?

- Emily, você precisa se casar com o príncipe.

Suspiro de novo, dessa vez mais em desistência e cansaço.

- Qual o problema querida? Você gostava dele.

- Não. Eu suportava ele. Eu não o amo.

Ela me olha com pena, como se eu fosse uma garotinha inocente.

- Querida, casamentos não tem amor quando se trata de uma Rainha.

- Sim, tem. Minha mãe amava meu pai.

Minha madrinha segura meu rosto e curva as sobrancelhas, fazendo um carinho na minha bochecha, que faz eu me sentir com 5 anos.

- Seus pais eram exceções. Você precisa zelar pelo Reino. Você já é uma adulta e está solteira.

- Por que eu sequer preciso casar com ele?

- A Inglaterra precisa se aliar à Holanda e talvez esse seja o único jeito. E Emily, não é ruim. Ele é bonito, rico e gentil. Agradeça.

Suspiro novamente, talvez hoje seja o dia do suspiro.

Eu sei que não deveria, mas escolhi um vestido branco, Gi tentou me impedir, deu outras opções, mas insisti no branco, com detalhes dourados. Era o mais confortável dentre os outros, e eu não parecia um bolo decorado com fitas. Parecia apenas um bolo.

Pedi que meu cabelo ficasse o mais frouxo possível, então ela optou por um coque sem tranças, com duas mechas caindo delicadamente em meu rosto

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Pedi que meu cabelo ficasse o mais frouxo possível, então ela optou por um coque sem tranças, com duas mechas caindo delicadamente em meu rosto. Me cobriu da cabeça aos pés, pôs minha tiara de princesa, e me deixou nas mãos de minha madrinha e meu padrinho, que iriam ambos me acompanhar para o salão do baile.

O caminho foi torturante e desconfortável, não tínhamos muito o que falar, como as regras dizem, fui de braços dados com Seaw, quando queria estrangular ele, mas tudo bem, nada que um suspiro contido não resolva.

Ao chegarmos no salão, fomos adequadamente apresentados pelo homem que primeiro vimos ao entrar, que anunciou nossos nomes para toda a extensão do lugar, que nos admirou descer a escadaria longa, embora eu duvide que todos os olhares estavam vidrados apenas no meu vestido ridículo, que seria considerado inapropriado. Mas captei de longe o Príncipe da Holanda babando em cima dele, ou de mim.

E como pre-destinado, logo após de mim, foi anunciado:

- Princesa Emma Queen, Vossa Alteza da França.

Sozinha. Ela descia as escadas sozinha. Me virei no momento em que ouvi um "Princesa", esperando que fosse exatamente ela. Seu vestido era tão feio que chegava a me arrepiar, porém tenho certeza que quase todos dessa sala discordariam. Mas seu rosto, estava esplêndido, estava brilhando, radiando, sua expressão, tão terna e séria, e sua postura tão familiaramente ereta, sua boca estava avermelhada, e a cada passo que dava era uma graça diferente e um sussuro diferente em um canto da sala, estava linda. Era isso. Ela estava linda. Não importava se seu vestido era de um tom esverdeado, um bolo esverdeado rodeado por fitas, ela o vestia bem, ela vestia tudo bem.

E sem palavras, nem reações, fiz a única coisa que poderia fazer em meio àquelas pessoas todas, a única coisa possível, e na verdade, a única que conseguia fazer de qualquer maneira, já que estava completamente hipnotizada por aquela mulher.

Suspirei.

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N/A: me sentindo em cinderela. capítulos estão curtinhos porque estou em semana de prova, me perdoem.

Com amor, 🌙

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