carruagens reais

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Emily Elliot

Eu deveria estar com raiva? decepcionada? angustiada? nem sei como deveria me sentir. Rancorosa? Não. Não sou assim. Quando ela me enrolou em seus braços quentes e aconchegantes, eu me deitei sob seu corpo, e apenas chorei. Essa sou eu.

Me deleitei em seu colo maternal, e chorei, chorei o máximo que podia. Sorrindo. Feliz? Triste? Talvez surpresa. Emocionada. Mas ela estava viva. Isso só podia ser algo bom.

- Ah, minha pequena... - Sua voz soou tão carinhosa, como um cafuné em minha cabeça, um beijo terno em minha testa, sua voz estava tão suave que me acalmou, me trouxe às pequenas deliciosas lembranças de verão, com mamãe e papai. - ... Eu sinto muito...

Apenas balanço a cabeça.  Ou pelo menos acho que balancei. Não consigo falar muita coisa. Quero dizer que senti sua falta. Que ela não tinha porque se desculpar. Queria fazer tantas perguntas. Mas não consigo. E ela sabe disso. Sempre soube. Então apenas me consola com suas caridosas palavras. Até que minha emoção inicial se esvaia um pouco, suficiente para eu me afastar, e murmurar:

- Onde você esteve? Você está bem? Eu senti tanta sua falta...

- Não se preocupe. Te manterei a par de tudo. Mas nesse momento, sua mãe precisa ir. Não posso correr o risco de me verem aqui. Mas precisava te ver...

Sua mão viaja pelo meu rosto, acariciando, tão sutilmente, mas um toque tão desesperado ao mesmo tempo.

- O que está acontecendo? - Pergunto. - Eu sei que te envenenaram.  Eu... Como...

Acho que sairia muito insensível perguntar  " como você continua viva? ". Mas ela entendeu o que eu quis dizer, e balança a cabeça, para afastar-se da minha pergunta.

- Não se preocupe,  pequena. Irei resolver tudo.

- Eu quero ajudar. - Indago determinada. Levantando minha cabeça, pronta para ajuda-la a resolver seja lá o que ela precisaria resolver.

- Não, Emily. Sei como você é.  E sei que já está mexendo onde não devia. Não foram os Romanos. Eu sei disso. Não mexa com eles. Mantenha a aliança. E foque no seu tratado com a França atual. Eu estou dando meu jeito. Só preciso da sua ajuda para se manter quieta sobre isso. Posso contar com isso?

- Claro. - Nem hesito em responder, concordando repetidamente com a cabeça.  - Não direi para ninguém.

Eu quero ajudar. Eu realmente queria. Mas estava indo pelo caminho errado esse tempo todo. Como isso não estava relacionado com o império Romano do ocidente? As provas levavam para eles.

Eles tinham os motivos. A oportunidade. Mas parando para pensar agora não tinha lógica. Não seria benéfico. Um rei não mata outro Rei. Entretanto uma Rainha. Talvez eu realmente não seja uma boa detetive. Tentarei deixar isso nas mãos de minha mãe.  Devo confiar nela.

Eu e minha mãe conversamos um pouco sobre coisas banais, claro, não lhe conto sobre Emma, apesar de querer tanto. Por algum motivo, acho que ela entenderia. Como poderia não entender? Ela me ama.

Mas isso não se trata apenas de mim. Se trata de Emma também. E em breve, quando tudo se resolver, irei contar para ela sobre minha mãe, e para minha mãe sobre ela, e tudo ficará perfeitamente bem.

Sorrio ao me jogar na cama, depois de um longo dia feliz, mereço algum descanso. Fecho meus olhos, respiro fundo, suspiro, e me enfio debaixo das cobertas. Quem dera uma noite durasse para sempre. Porque nunca dormi tão bem. E acordei tão chocada.

Vocês acreditam que as coisas possam mudar de uma hora para outra?

Eu não acreditava. Até Gi me balançar na cama, sua voz aflita, mas também animada, nunca ouvi uma voz tão inconstante quanto aquela que me acordava naquele momento. Resmungo e praguejo inconscientes palavras, até finalmente acordar, e ver a ruivinha forçar um sorriso meio sem graça, e acenar com a mão.

duas rainhas e uma coroa | XVIOnde histórias criam vida. Descubra agora