felicidade seletiva

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Emma Queen

Ela estava tão feliz.

Nunca vi Emily tão feliz em um dia desde que cheguei aqui. Todo o caminho de volta ela estava sorrindo. E não parou de sorrir por nem um momento, eu podia sentir que ela estava feliz.

Eu também estava feliz. Mas sabia o que me aguardava. Minha mãe não era burra. O reino inglês nunca desconfiaria de Emily Elliot estar se envolvendo com outra garota. Mas minha mãe já sabia que eu tinha um histórico. E depois de desaparecer duas vezes seguidas com Emy, ela iria perceber.

Fui ao meu quarto relutante, esperando encontra-la lá, mas surpreendentemente, ela não estava lá, suspirei aliviada e me joguei na cama. Bom, se ela não estava lá, tinha uma chance de 2% de ela não estar sabendo. E essa porcentagem foi subindo ao longo do dia.

Quando o sol comecou a ir embora, a porcentagem já estava em 20%, e sinceramente, eu estava morrendo de angústia, passei o dia todo nos meus aposentos, andando de um lado para o outro, imaginando o que ela faria se descobrisse.

Porém, quando as estrelas começaram a brilhar, e a lua já estava no alto do céu, me perguntei se não devia estar exagerando, e considerei a chance de 50% de ela não estar sabendo. Respirei fundo, e me enfiei dentro do cômodo de banho, enchi um balde, e fui me lavar.

Quando saí do banheiro, lá estava ela, minha mãe, mexendo em algo em uma cômoda qualquer importada da Holanda. Franzo minhas sobrancelhas e pigarreio para chamar sua atenção, ela olha para mim, ainda molhada e coberta pelo pano seco. E aquele sorriso esnobe que sempre dá, não aparece dessa vez, e isso me faz tremer por dentro.

- Mãe, o que esta fazendo aqui tão tarde? - Minha voz nunca soou tão sonsa.

- O que estou fazendo aqui tão tarde... - Repete ela, analisando as palavras que eu mesma pronunciei. - Engraçado, eu vim te perguntar algo semelhante.

Se vira para mim, e lá está o sorriso novamente, dessa vez com um tom maldoso, rancoroso, e nem me atrevo a olhar para seu rosto, porque sei tudo que ele vai expressar, e não quero ver isso agora.

- O que a filha da Rainha da França, herdeira da Inglaterra, estava fazendo tão cedo sozinha com sua maior inimiga no meio da floresta? O que ela estava fazendo com Emily Elliot, filha da sem vergonha da Rainha da Inglaterra, no meio da madrugada fora do castelo? O que tem ido fazer no meio da noite nos aposentos da Princesa?

E em uma fração de segundos, ela já está na minha frente, duas palmas maior que eu, me olhando com seja lá qual expressão.

Quando ergo meus olhos, nem da tempo de eu captar a decepção e desgosto no seu rosto, porque ela me atinge com tanta força na bochecha, que apenas me sinto quase girando para trás e caindo de lado para o chão, fazendo um estrondo quando esbarro com uma escrivaninha, e em seguida, estou no chão, sem reação, levando minha mão para onde ela me batera e tentando processar isso agora. Não que ela nunca tivesse me batido antes, mas é um choque, porque é raro.

- Você, Emma, é decepcionante.

Me levanto devagar, tentando me recuperar do ocorrido, tentando digerir as palavras, que batem com muita mais força que a mão dela.

- Agora deve entender porque seu irmão assumiu o trono. Você apenas não serve. Você é- Você é...

Ela parece confusa por um momento, mexendo as mãos, procurando as palavras, mas sei o que ela quer dizer. Está falando do meu interesse por mulheres.

- Você é isso. E eu não vou deixar você destruir a família. Ta escutando?

Não tem tempo nem de eu responder, pois ela se vira, passando as mãos no rosto. Frustada. Desapontada.

- Essa Emily... Ela tem que...

- O que? - Finalmente arranjo voz para falar algo, para me recompor. Mas aquilo me assusta. Seu tom de urgência.  Sabia que estava armando algo. - Mãe,  você não pode fazer nada para Emily.

- Você acha que eu não sei disso? - Nesse momento ela paralisa. E isso me assusta mais ainda. Porque é um sinal de que está pensando mais profundamente,  tirando ideias do fundo da sua mente pertubada. - E não vou. Se você colaborar comigo. Se você fizer, exatamente, tudo, que eu dizer. Entendeu Emma? Tudo.

Então ela se vira. Seus olhos incediam de fúria, e eu tenho certeza naquele momento, de apenas uma resposta:

- Sim, mãe. Eu te prometo.

Emily Eliot

" Você, Emma, é decepcionante. "

Eu deveria ter entrado? Deveria ter impedido ela? Ouvido mais, talvez? Teve barulhos. Talvez Emma não estivesse completamente bem.

Não.

Não é meu dever me meter nas conversas dela com a mãe dela. Isso é da conta delas. Não minha. Fiz a coisa certa.

Respiro fundo, e continuo caminhando em direção ao meu quarto, chutando cada pequena pedrinha no caminho, e carregando-a comigo, até eu acabar chutando ela para o outro lado, ou não conseguir fazer com que ela acompanhe meu ritmo.

Raios. Estragou minha surpresa. Estou com saudades.  Queria ver ela. Meu dia 100% bom, agora está 50% bom. Queria minha Princesa. Ora bolas. Que inferno.

Suspiro pelo que eu acho ser a milésima vez só na minha rota de novo para o quarto.

Quando chego, entro pela porta lateral que dá para o esconderijo do corredor, e vejo a porta atrás de mim. E só depois de produzir dois passos e meio para frente, percebo que está uma escuridão, e eu deixei velas acesas.

Emily, você deixou velas acesas?

Sim, Emily, você deixou duas velas acesas.

Emily, alguém desligou essas velas?

Sim, Emily, provavelmente.

Emily, ta falando sozinha de novo?

Bem, sim?

Emily, quem infernos está no seu quarto?

Eu tenho duas básicas opções agora:

1- sair correndo
2- pegar a primeira coisa que se pode considerar uma arma e partir para a luta.

E vocês sabem. Eu não sou nada sensata.

Apalpo minha mão em uma escrivaninha próxima, que sei que tem uma escova, uma escova mortal. Bem, é apenas uma escova, mas nesse momento ela é crucial para matar alguém.

Caminho lentamente para frente, subindo os dois degraus que dão para meu quarto completamente escuro. Olho para ambos os lados. Não há ninguém. Ouço um barulho, na mesma hora me viro em direção ao pequeno estrondo. Me agacho minimamente, e devagar, passo por passo, me aproximo do barulho, com minha arma mortal apontada para frente, sem perceber, indo a caminho do banheiro.

Viro a esquina do banheiro com tensão.  Vejo um corpo, é uma mulher, está... ela está... mexendo em algo, nas minhas coisas. Em algo das minhas coisas. Chego mais perto. Espio cada vez mais, quando estou quase acabando, ela se vira, e em um susto, solto a escova, e pulo para trás.  E pelo momento do susto, nem paro pra pensar em quem é. Apenas depois, quando paro para analisar a situação.  E com um sorriso se abrindo involuntariamente em meu rosto, pergunto, como se para confirmar:

- É, realmente você?

Ela sorri. E sem mais relutâncias, corre, e me abraça.

É engraçado como um dia pode mudar completamente de uma hora para a outra.

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N/A: It's you, it's you, it's all for you, everything I do.

Gente, autora ta gostando de uma gay, então vou ta bem gay esses dias.

Com amor, 🌙



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