Leandros
---- Agora eu entendo o porquê dela ter deixado você... ---- Savanna disse ao andar em meio aos cacos e se sentar no sofá de cabeça baixa. ---- Eu sempre achei que ela fosse doida, mas agora eu tô entendendo...
Eu não aguentava a dor dilacerante que me dominava da cabeça aos pés. Era uma dor na alma.
Me servi de outra dose de cachaça, tomando de uma vez só. Aquilo queimava como fogo e a sensação era boa, me fazia esquecer de algumas coisas por milésimos de segundos.
Por milésimos de segundos.
---- Me diz o que eu tenho que fazer? ---- Savanna sussurrou do sofá. ---- Não aguento ver você sofrendo assim. Me diz o que fazer...
Eu olhei pra ela e respondi.
---- Nada. Você não pode fazer nada.
Sabia que tinha dito isso de uma forma rude, e ela deveria ter capitado meu alerta, mas ela nunca vê o quanto sou quebrado.
Ela se levantou e veio até a mim, me olhando nos olhos e com o rosto abatido. Seus olhos verdes eram tão lindos e me passava tanta calma... Era a mesma cor dos olhos da minha mãe.
---- Sei que é difícil, Lê, mas a gente não pode se entregar a essa tristeza. Sua avó está em um lugar muito melhor agora e não sente mais dor... ---- ela pegou o copo da minha mão e o deixou no bar ao lado. ---- Agora você vai fazer o seguinte: tomar um banho e vai deixar toda essa tristeza descer pelo ralo. Você sabe o quanto sua avó ficaria triste ao ver você assim.
A voz dela, o toque dela e os seus olhos me deixavam anestesiado. Talvez fosse as doses de cachaça que tomei agora a pouco, mas quando ela falava comigo, me dizendo exatamente o que fazer, eu só me deixava levar.
---- Isso... ---- ela disse me conduzindo pelos cacos de coisas quebradas pelo chão. ---- Não se preocupe com essa bagunça, vou dar um jeito nela. Não pensa em nada...
Era fácil me deixar levar por essa voz doce. E quando senti a água descer pelo meu corpo no box do banheiro, quis desaparecer junto com ela pelo ralo.
Sabia que essa tristeza não iria sair de mim tão fácil. Fiz de tudo pra manter ela aqui comigo, fiz de tudo pra manter as duas aqui...
Eu estava preparado pra receber a notícia da morte da minha avó. Mas nada me preparou pra ver a Ariel nos braços daquele cara. Ela escolheu ele, no final das contas.
Eu já tinha passado pelo luto dos meus pais e ainda sentia essa dor. Depois, o luto de perder alguém vivo, que foi quando ela me deixou... E agora a minha avó, a única que esteve comigo desde quando me entendo por gente... Ela estava morta.
Mas, dentre todos essas dores que agora estava me sufocando, tinha uma em específico que me machucava mais.
Perder ela, a Ariel, foi e é a minha pior dor. Meu pior fracasso como homem, como marido, como pai.
---- Acho que você vai virar um peixe... ---- Savanna apareceu, com uma toalha entendida. ---- Já está bom, Lê... Vem se secar.
Fiz o que ela pediu. Savanna me cobriu com a toalha e me sentou na tampa do vazo. Depois pegou outra toalha e começou a secar meus cabelos. Nas mãos dela eu me sentia um menino.
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Duas Semanas De Puro Prazer
RomanceATENÇÃO, CONTEÚDO NÃO INDICADO PRA MENORES DE 18 ANOS! Uma carioca da gema escolheu Campo Grande, capital de Mato Grosso Do Sul, para se refugiar de um trauma. Sem nem mesmo suportar ter a lembrança do mar, ela se vê mergulhando nos olhos azuis de...