CAPÍTULO 47

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Cinco anos depois...

Ariel


---- A primeira coisa que gosto de dizer toda vez que tenho a oportunidade de falar em um momento como esse é: ---- eu olhei pra minha plateia; jovens de aproximadamente 15 a 20 anos, sentados na cadeira do pátio da escola estadual. Aonde eu fui convidada a dar uma pequena palestra sobre superação. ---- O que não me mata, me deixa mais forte. Sim, eu sei. É uma frase de bastante efeito.

Eles sorriram e concordaram com a cabeça. Aprendi que os jovens só prestam atenção quando você usa a linguagem curta e grossa. Continuei falando, olhando pra eles. O microfone na minha mão.

---- Se hoje eu estou aqui, vestida desse jeito, ostentando o distintivo da federal e tendo a oportunidade de falar com uma pequena parte do futuro de Mato Grosso Do Sul: que são vocês... ---- eu tirei meus cabelos dos olhos. ---- Foi porque eu transformei toda a minha dor em munição. E foi na força do ódio! Era isso, ou me entregar a melancolia, a depressão, e se eu tivesse feito isso, provavelmente nem estaria aqui. Sinceramente? Não quero nem saber o que iria ser de mim.

Eles riram outra vez. Ótimo, estavam prestando atenção. Dando passos com meu salto por cima do palco improvisado, eu continuei a narrar; de um jeito conciso e tentando ser a mais realista possível, as tragédias que passei e que vi com meus olhos.

Dei muita visibilidade a violência sexual que passei. E contei que mesmo depois de anos, ainda sentia arrepios ao falar sobre isso e que era uma coisa completamente natural, afinal de contas, eu não era feita de ferro. E que hoje já não tinha vergonha, preferindo servir como exemplo.

Depois de tudo que aconteceu no Rio, me tornei popular na cidade e praticamente todos sabiam da minha história pois eu fui a varias entrevistas na região. Todo mundo queria saber o que aconteceu no Rio.

E tem um outro motivo: nós conseguimos acabar com o PCC de tal forma, que ele não dominava mais MS. E os poucos que sobraram, se dissiparam, fazendo um pequeno grupo que não chega nem aos pés do que foi antes.

E ainda assim, não consegui pegar o Castiel. Era como se todas as provas fossem sumindo com um estralar de dedos dele. Não sei como ele faz isso...

Voltando a palestra...

Eles estavam prestando tanta atenção, que até os professores se sentaram pra me ver falar.

Terminei concluindo que o destino quem faz é a gente. Que somos os escritores da nossa história, o personagem principal. Não podemos prever o que o futuro nos reserva, mas podemos aprender com os erros, e seguir sempre em frente, nunca se prendendo ao passado.

Fui muito aplaudida e sempre me sentia sem graça com isso. Não achava minha história tudo isso e nem me achava grande coisa, mas se eu posso ajudar de alguma forma... Então, que seja.

Depois disso, os alunos voltaram para as salas e a diretora veio me parabenizar.

---- Foi incrível, delegada! ---- ela sorriu pra mim. ---- Os alunos adoraram! Tenho certeza que a maioria deles vão se espelhar em você.

No meio da multidão de jovens, percebi que todos estavam me olhando, mas uma garota em especial me olhava diferente...

Ela era morena, magra e de 1,55. Alguma coisa me disse que ela precisava de ajuda. Achei que ela iria chegar pra falar comigo, mas então em um último momento ela desviou de rota.

Ela estava com vergonha...

Quando ela passou por mim, eu a segui discretamente com os olhos e descobri que teu nome era Camila, um dos seus amigos a chamou assim.

Duas Semanas De Puro PrazerOnde histórias criam vida. Descubra agora