Levantei da cama morrendo de preguiça e fui caminhando em passos lentos até o banheiro. Geralmente eu só acordava depois de um banho frio. Aprendi isso com meu pai, ele me disse uma vez quando pequena:
"Ariel, minha filha. Não há nada melhor do que tomar uma ducha fria pela manhã, ela te mantém alerta pra realidade da vida"
E ele tinha razão. Até hoje não encontrei uma forma melhor de encarar o dia. Despertar para o mundo real.
Eu morava sozinha há sete anos, em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul. A 1.435,9 km de distância da minha família. Isso as vezes me causava uma grande depressão, só os via uma ou duas vezes por ano. Ainda mais pelo motivo do meu afastamento me deixava... Era Difícil definir.
Entrei de baixo do chuveiro e deixei que a água fria afastasse os pensamentos tristes da minha cabeça. Pensar sobre isso, logo pela manhã, iria estragar o meu dia. Um dia que eu não poderia me dar ao luxo de ficar deprimida. Hoje, era o casamento da minha melhor amiga, e eu como madrinha do casal, não podia estar cabisbaixa.
Depois de 20 minutos, eu já estava de banho tomado e vestida para o trabalho. Era um orgulho para mim, ser delegada de Campo Grande. Uma profissão que sempre me fascinou. Foi com muito suor e força de vontade que consegui chegar.
Desci as escadas rumo a cozinha, deixei o meu cabelo loiro úmido do banho solto, para secar naturalmente. Liguei a cafeteira para ela fazer o café por mim, fui até a sala, liguei a TV colocando no canal que estava passando o jornal local.
Nisso, ouvi meu iPhone tocar sobre o balcão que tinha a função de separar a cozinha da sala. Sorrindo, fui atender. Já sabia até quem era.
- Ariel! Por que a demora pra atender?! - Ângela, minha melhor amiga berra do outro lado da linha.
- Como vai, Ângela? Dormiu bem? - eu disse apoiando o quadril no balcão.
- Ah! - ela ignorou a minha pergunta sarcástica. - Perdi minha pulseira ontem na festa, não posso casar sem ela. Por favor, me ajuda! - a voz dela soou como preocupada.
Eu tive que segurar o riso. Ontem, na sua festa de despedida de solteira, nós rodamos Campo Grande inteira em só uma noite. Fomos em todas as boates, bebemos tudo o que tinha para beber e é claro, dançamos até a sola dos pés ficarem em carne viva.
Eu até fiquei com um médico gostosão pra acrescentar ainda mais. Menos a Ângela, ela queria se manter fiel ao Gustavo, seu noivo.
Bem no final da noite, a Ângela me inventou que iria jogar sua pulseira da sorte em uma lixeira, alegando que não precisava mais dela, que já tinha tirado a sorte grande casando com o homem mais bonito da cidade. Eu sábia que depois ela iria se arrepender até os ossos. Então, quando ela não estava olhando, peguei a sua pulseira dentro da lixeira e joguei dentro da minha bolsa.
- Qual pulseira está falando? - perguntei fingindo demência. - Àquela que tua mãe te deu?
- E por acaso eu iria fazer esse drama por outra?- ela confirma impaciente. - Qual foi a última vez que você viu?
A cafeteira fez um barulho agudo, avisando que o café já estava pronto. Fui até lá e despejei o café dentro de uma caneca branca de porcelana.
- Eu vi ela ontem dentro de uma lixeira... - eu disse erguendo a caneca até os lábios e assoprando a fumaça.
- Como assim? - ela perguntou, deu até pra ouvir a alma dela saindo do corpo.
- Ah, acho que te vi jogando fora. Não se lembra? - perguntei soprando o café e segurando o riso.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Duas Semanas De Puro Prazer
RomanceATENÇÃO, CONTEÚDO NÃO INDICADO PRA MENORES DE 18 ANOS! Uma carioca da gema escolheu Campo Grande, capital de Mato Grosso Do Sul, para se refugiar de um trauma. Sem nem mesmo suportar ter a lembrança do mar, ela se vê mergulhando nos olhos azuis de...