(Sem) Controle - I

Profundamente envergonhada

Quando as meninas disseram que todo mundo se pegou naquela festa e ninguém lembraria de mim, eu acreditei, e de alguma forma aquilo me tranquilizou, pelo menos, até entrarmos no refeitório para o café da manhã.

As pessoas naturalmente me olhavam um pouco, filha de uma professora e de um membro da corte, mas naquela manhã os olhares pareciam menos relutantes e mais intensos.

— Gente — eu disse meio em pânico.

— Ignora — Abby disse e fomos rápido atrás de comida.

Olhei para ela e vi que a bolinha em sua pulseira estava para cima. Segurei seu pulso e transmiti nitidamente a pergunta em minha mente.

— Eles lembram e... só estão um pouco chocados, nada demais.

Suspirei derrotada. Que grande merda.

— Podemos pegar a comida e ir lá fora... — Kate começou a sugerir.

— Não, fugir é sempre pior — respirei fundo tentando vestir minha armadura invisível — é só ignorar.

Olhei rapidamente para um menino, um dos dois que eu lembrava da noite anterior, e sem pensar muito desviei o olhar me preocupando em pegar coisas leves para o café da manhã, não queria forçar meu corpo com coisas pesadas depois de ter colocado tudo para fora ontem.

Jack nos visualizou quando estávamos perto da mesa e sorriu abertamente pra todo mundo antes de deter seus olhos em mim.

Não, não, não.

— Me digam que eu não fiquei com o Jack — disse em completo pânico.

Não tinha nenhum interesse nele, mas o achava bonito, e julgando pela falta de critério que minha versão bêbada mostrou, tive medo.

— Não — Sarah deu risada — só gente aleatória.

Assenti aliviada.

— Olá, menininhas — Jack disse sorrindo, mordendo sua maçã — Emily, eu literalmente te amo.

— Ela não tá muito bem com isso, não força — Abby disse calma.

Jack olhou para ela e depois voltou a me olhar.

— Com a ressaca ou...?

— Os dois — me apressei e ele assentiu me lançando um sorrisinho reconfortante.

— Não fez nenhuma besteira, não precisa se sentir mal — ele tentou ajudar e eu sorri agradecida para ele.

Nathan chegou alguns minutos depois, já estávamos terminando de comer quando ele apareceu na mesa, a cara de zumbi nenhum pouco disfarçada.

— Oi gente — deu um mini sorriso e se inclinou levemente sobre Kate — oi, roxinha — a beijou devagar.

Aquilo me fez esquecer do meu pânico por um momento. Eles pareciam estar levando aquilo a sério e isso era sem dúvida uma graça. Kate era quase três meses mais velha que eu, mas talvez por ela ser perdida naquele universo que eu sentia como se ela fosse uma irmã mais nova.

O barulho na parte de fora não negava que os corredores estavam chegando. Meus olhos subiram para a entrada e vi um pontinho vestido de preto atrás do outro, todos em filinha e felizes. Nick entrou sorrindo e eu até estranhei aquele sorriso tão natural, e logo atrás dele, Charlie, que ao contrário do nosso treinamento naquela manhã, parecia sério.

Ele pegou sua comida em silêncio e foi sentar, sem gracinhas nem nada. Não chegava a parecer bravo, mas feliz certamente não estava.

Pisquei desviando meus olhos. Eu não estava interessada no que ele fazia em si, mas essa sua saída para assuntos confidenciais despertou minha curiosidade, e eu realmente odiava me sentir por fora de coisas grandes, mesmo que não fosse da minha conta.