Revelações

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Procurei comer mais saladas e legumes no jantar, e não que eu não gostasse, mas eu não tinha muito apetite normalmente, e gastar meu pouco apetite com salada parecia um crime. Mas bem, era necessário.

Kate ficava me analisando o tempo inteiro, como se eu fosse sumir ou desmaiar do nada. E quando eu já estava estranhando a falta de Jack novamente, ele apareceu. Muito mais quieto que o costume, mas estava lá.

Na verdade, todo mundo parecia meio estranho de alguma forma.

Não recebi nenhuma mensagem ou ligação do meu pai, então supus que ainda não haviam conseguido entrar na cabeça daqueles homens.

Voltamos para o quarto quase em silêncio, o clima ainda estava meio pesado. Nathan nos acompanhou, dando beijinhos na cabeça de Kate hora ou outra.

Sorri. Eles eram tão estupidamente lindinhos.

***

Era quase meia noite quando eu saí do quarto. Charlie estava do lado de fora do dormitório, e quando abri a porta ele se virou pra mim.

Sorri quando ele estendeu a mão para mim e a segurei, sendo puxada para seu colo. Charlie me segurou firme e eu o abracei antes dele começar a correr comigo.

Entramos em seu quarto e ele me deixou cuidadosamente na cama.

— E então, como está se sentindo? — ele perguntou sentando ao meu lado enquanto eu tirava meus tênis.

— Estou bem — dei de ombros — uma hora eles vão conversar comigo e… vai dar certo.

Charlie assentiu, também tirando seus sapatos e depois passou o polegar no meu braço, o acariciando.

— Eu sei que pode parecer que eles são loucos, mas…

— Acredito que o motivo seja justificável.

Assenti respirando fundo.

— É, mas… não para reproduzirem em todos, não para pensarem que você é assim — segurei sua mão — acho que é bom saber, para entender toda a relutância que eles podem ter com você e…

— Não precisa contar se não quiser.

— Eu quero — assenti pra mim mesma — quando eles estudavam aqui, tinha um corredor que era meio apaixonadinho pela minha mãe e ele meio que não ficou feliz quando ela começou a sair com meu pai. Ele ficava seguindo ela, colocando bilhetes embaixo da porta e… enfim, incomodando. Até aí era só inconveniente, mas um dia — engoli em seco, lembrando da cara da minha mãe quando ela me contou isso há dois anos — um dia ele pegou ela saindo da aula e a levou para uma sala vazia e… — Charlie segurou meu braço mais forte — um amigo dele apareceu logo depois, com meu pai todo machucado, prendeu ele no canto e os dois abusaram da minha mãe e obrigaram meu pai a assistir e ouvir tudo que passava na cabeça deles e dela, sem poder fazer nada.

O maxilar de Charlie travou e eu respirei fundo mais uma vez.

— Eles espancaram meu pai depois e ele passou quase dois dias inconsciente na enfermaria — desviei os olhos por um segundo — e absolutamente nada aconteceu com os corredores, porque eles eram bons lutadores e estavam no último semestre. O diretor da época encobriu o caso e mandou os garotos ficarem longe deles, e… bem, foi só.

Tentei dar um sorriso triste.

— Quando meu pai assumiu o cargo na corte, a primeira coisa que fez foi insistir para mandar aqueles caras para os postos de guarda mais afastados e com os lideres mais carrascos, e depois, juntou uma série de absurdos que o antigo diretor havia feito para tirá-lo do cargo.

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