Lembrança

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Minha mãe parecia mais nervosa que eu enquanto dirigia até o hospital. Os poderes curativos dos coloridos da cura eram, no geral, muito eficientes e rápidos, mas ironicamente, aquele local vivia cheio.

Haviam coisas que nem os coloridos da cura conseguiam fazer, evitar os efeitos da velhice era uma dessas coisas, e por mais que vivêssemos consideravelmente mais que os humanos, ainda não éramos eternos.

Então, grande maioria do hospital era ocupada por pessoas mais velhas, e a outra parte, eram feridos ou acidentados. Os corredores sempre estavam em peso ali.

Minha mãe me manteve perto enquanto entrávamos no grande prédio. Vi de relance a área de pronto atendimento e meu estômago se contorceu ao ver os grandes ferimentos presentes em alguns ali.

Olhei minha mãe e ela apenas assentiu de leve, num discreto “eu sei’, enquanto íamos para o elevador.

Eu havia entrado ali pouquíssimas vezes, a maioria quando era criança, então não era um lugar que eu tinha muito contato, apesar da minha mãe passar as tardes ali praticamente todos os dias.

Entramos no elevador, e minha mãe apertou o botão do quinto e último andar.

— O andar que vamos trata de problemas... mentais — ela disse baixo — é uma parte que é delicada até para os coloridos da cura, então... só não se assuste, ok?

Assenti, mesmo sabendo que iria me assustar de qualquer forma.

O andar tinha um clima completamente diferente do primeiro. As paredes eram todas pintadas com desenhos, parecia algo voltado para crianças, mas eu sabia que não era. Minha mãe apertou o ombro enquanto andávamos e no meio das várias vozes baixas alguém gritou.

— ELE VAI ME PEGAR, ESTOU DIZENDO!

Me encolhi de susto, mesmo que não visse nada nem ninguém.

— Ele já foi embora — alguém disse, em um tom mais calmo, mas alto o suficiente para passar por cima da voz da mulher que gritava.

Minha mãe me guiou o mais rápido possível para o fim do corredor, bateu na porta duas vezes antes de entrar. Um homem, vestido todo de azul claro, ergueu os olhos de um caderno e nos olhou. Eu não saberia chutar a idade dele, porque todo mundo entre vinte e cinquenta anos tinha a mesma aparência, mas o sorriso atencioso e acolhedor mostrava que não se tratava de alguém da idade dos meus pais.

— Anne — ele se levantou, deixando o caderno de lado.

— Oi, Levi — minha mãe sorriu, fechando a porta atrás da gente — minha filha, Emily — me indicou e o homem sorriu pra mim, os cabelos quase ruivos oscilaram rapidamente para o roxo e eu quis sorrir, lembrando de Kate imediatamente.

— Sim, claro que é — ele veio até nós e estendeu a mão para mim — Emily, me chamo Levi Schimer, colorido da cura especializado em perdas de memória.

Estendi minha mão o cumprimentando.

— Muito prazer.

Seus olhos foram automaticamente para a algema em meu pulso, revelada pela manga da blusa que foi um pouco para cima quando estendi o braço.

— Me desculpe, mas é intrigante — ele me olhou.

Sorri e dei de ombros.

— Se importa se eu...?

Olhei para minha mãe e seus olhos transmitiram um “você que sabe”. Olhei novamente para Levi e tirei minha jaqueta, erguendo as mangas compridas da minha blusa até os antebraços. Levi olhou com atenção, segurando minha mão delicadamente para analisar mais de perto.

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