Noite ruim

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Já estávamos no final da tarde quando recebemos o comunicado que a corte havia fechado a escola e apenas professores e funcionários poderiam sair, e que um fiscal seria colocado na saída do portal para supervisionar, além das proteções que o próprio portão já trazia. Guardas da corte foram colocados dentro da escola e fariam rondas em lugares específicos, além de ajudar a monitorar as entradas e saídas de professores e funcionários.

Em teoria, estávamos liberados para sair e circular pela escola, mas me mantive no quarto com as meninas até o jantar, e só saí, porque precisava comer. Mandei várias mensagens para meu pai, sem resposta, mas minha mãe me acalmou dizendo que ele ligou para ela e disse que provavelmente não voltaria para casa hoje, e se tivesse notícias, nos avisava.

Eu só conseguia pensar que a menina estava ali, no mesmo dormitório que eu, alguns andares acima.

O jantar foi desconfortável, todo mundo estava meio quieto, meio assustado. Simon sentou com a gente e me perguntou se estava tudo bem, e quando respondi que sim, ele assentiu voltando a conversar com Jack. Devia ser um dos que achava que a menina tinha fugido, mas eu tinha certeza que não, ela foi levada.

Simon me deu um selinho antes de irmos embora e eu tentei dar um sorriso meio triste para ele, mas se enxergou algo errado, não disse nada, apenas me desejou boa noite.

Olhei meu celular quando entramos no quarto e ao olhar para cima, vi as três meninas me olhando.

— Nada, ainda — disse baixo.

Não ficamos muito ali na salinha, como geralmente ficávamos, e logo todas estavam de pijama em suas próprias camas, em completo silêncio. O celular estava para vibrar ao lado da minha cabeça, duvidava que meu pai fosse mandar alguma mensagem tão tarde, mas, deixei ali.

Kate dormiu rápido, ouvi sua respiração pesada e a falta de movimentos vindo de seu lado do quarto, então decidi tentar fazer o mesmo. Virei para a parede e me aconcheguei nos cobertores tentando relaxar.

Tropecei na grama e rapidamente me levantei. Estava no lado de fora do dormitório, pela escuridão o céu não devia ser depois das quatro da manhã.

Limpei a grama dos meus joelhos, usava pijama, só o pijama, por isso sentia tanto frio. Me dirigi para a entrada do dormitório e quando subi o primeiro degrau, alguém gritou. Não qualquer gritinho, um grito alto, forte, de desespero completo. Olhei na direção do grito. A jaula dos corredores estava vazia, ou pelo menos parecia.

Movi meus pés contra minha vontade, alguém poderia estar precisando de ajuda. Cheguei perto o suficiente para ver um vulto preto. A menina gritou de volta, mas agora a voz parecia abafada. O vulto preto se virou para mim, e só então percebi que era um homem que parecia estar com mais alguém.

— Uhh, mais uma.

Arregalei os olhos e comecei a correr até o dormitório, tropeçando por causa da calça comprida do pijama. Abri a porta a fechando com força. Não tinha tranca então a travei com o pé, ficando em silêncio. Sabia que havia me visto entrar ali, mas não tinha para onde correr, nenhum lugar perto o suficiente, seguro o suficiente.

Minha respiração falhava nas batidas agitadas do meu coração. “Você vai mandá-lo ir embora se ele chegar até você, vai usar a persuasão”.

Meu relógio começou a vibrar no meu pulso e eu acordei, assustada. Me sentei segurando os cobertores e olhei Kate dormir. Sonho, foi só um sonho. Um sonho horrível, mas um sonho. Desliguei o despertador do relógio, estava na hora do treino com Charlie.

Era como se a noite tivesse passado numa piscada. Não queria levantar, mas agora mais do que nunca eu precisava daqueles treinos, não podia arriscar estar despreparada.

(Sem) Controle - IOnde histórias criam vida. Descubra agora