Nunca vai parar

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— Acorda, princesa!

Levei um susto quando algo atingiu meu braço. Olhei para baixo vendo uma almofada, e depois, olhei para frente vendo um Charlie sorridente usando as roupas de treino.

— Você jogou uma almofada em mim?

— Uhum.

Peguei a almofada e joguei nele de volta. Charlie riu e indicou meu relógio.

— Cinco minutos para estar pronta — passou o cabelo para trás — te espero no ringue, lindinha.

Ele saiu do quarto numa piscada e eu voltei a afundar minha cabeça no travesseiro querendo gemer, só queria dormir mais um pouquinho.

Levantei contrariada e abri minha bolsa tirando minhas roupas de treino de lá, me vesti completamente sonâmbula e depois fui para o banheiro usando de volta seu enxaguante bucal e jogando uma água no rosto antes de prender o cabelo.

Saí devagar do seu dormitório após ver que não havia ninguém do lado de fora do quarto, e andando rápido fui até o ringue.

Charlie não estava ali. Franzi o cenho olhando em volta pensando ser mais alguma de suas pegadinhas, mas ele não apareceu. Suspirei indo até dentro do ringue e depois de subir os degraus, me sentei.

— Não pode ver uma oportunidade que já está sentando, não é?

Olhei para trás, Charlie vinha com a minha espada e lança nas mãos.

— Meu treinador sumiu — dei de ombros.

— Fui buscar — indicou as armas antes de colocá-las no chão ao meu lado — de pé, lindinha.

Me levantei devagar e Charlie foi pegar as fitas de sempre para enrolar nas minhas mãos e pulsos.

— Só porque me deu uns beijinhos acha que vou pegar leve? — ele franziu a testa com um sorriso brincalhão.

Sorri também e dei de ombros, aceitando que ele enfaixasse minhas mãos.

— Dormiu bem?

Assenti e ele deu um pequeno sorriso.

— Se eu te beijar agora, pega mais leve comigo hoje?

Charlie sorriu terminando de enfaixar minhas mãos, voltando seus olhos para os meus.

— Não, mas eu aceito o beijo — segurou minha cintura me trazendo para ele.

Seus lábios tocaram os meus e eu arrepiei, como sempre. O puxei pela nuca levando um susto quando Charlie me puxou pelas pernas me trazendo para seu colo. Suas mãos agora estavam em minha bunda e um gemido abafado saiu dos meus lábios quando ele me apertou mais forte.

— Foda-se o treino.

       Charlie me deitou no ringue passando o corpo por cima do meu, tocando seu nariz no meu devagar.

A pedra estava gelada, mas quando ele desceu os lábios para o meu pescoço, tudo ficou mais quente.

Suas mãos seguraram meus pulsos os prendendo acima da minha cabeça enquanto seus lábios continuavam o trabalho no meu pescoço. Revirei os olhos fechados quando Charlie me mordeu. O calor de seu corpo me convidando para tocá-lo cada vez mais.

— Lindinha — ele disse baixo e meu estômago revirou — eu posso te agarrar em público ou a mamãe não pode saber sobre mim?

Suspirei. Eu havia pensado nisso vagamente na noite anterior e só existia uma alternativa plausível para aquilo: eu contaria para meus pais e aguentaria a decepção deles até perceberem que não havia porque se preocuparem com Charlie.

Ele ergueu o rosto para me olhar quando não respondi sua pergunta, a refazendo com os olhos.

— Eu vou contar — disse.

Charlie soltou minhas mãos de cima da cabeça e eu rapidamente passei seu cabelo para trás.

— Acha que vai dar um problema muito grande?

— Não faço ideia — fui sincera.

Era uma situação que nunca chegou perto de acontecer, não tinha experiências passadas para medir a reação dos meus pais.

— Mas o pior que pode acontecer é eles ficarem bravos comigo por alguns dias — suspirei, a mera possibilidade me dando um aperto no peito — mas não quero falar deles agora.

Charlie assentiu e se inclinou me dando um selinho lento.

— Deixo seu pai ler minha cabeça, se isso ajudar — ele brincou e eu sorri — ele vai ver a filha em posições constrangedoras pra ele, mas acho que supera isso.

Gargalhei segurando os braços de Charlie e ele sorriu abertamente me olhando com atenção.

— Mas na maioria delas você vai estar sorrindo — ergueu uma mão acariciando meu rosto devagar — eu amo seu sorriso, principalmente quando é pra mim. Demorou para que você sorrisse pra mim de verdade, mas valeu a pena esperar.

Sorri. Não fazia muito tempo que eu havia dito para Abby que o sorriso dele era o mais bonito que eu já havia visto.

— Também gosto do seu, treinador — sussurrei o puxando para me beijar de volta — muito.

Charlie sorriu mais abertamente e voltou a me beijar com calma. Sua mão passeando pela minha perna estava me fazendo tremer hora ou outra, e por um momento pensei que ele estava sentindo minhas emoções, por isso continuava fazendo o que me arrepiava, mas estávamos no ringue, nossos poderes não funcionavam ali.

Ele só era muito bom mesmo.

— Quer realmente treinar ou eu posso ficar te beijando até te levar para o dormitório?

Respirei fundo.

— Acho que um dia a menos não fará mal.

O sorriso dele ficou extremamente sacana.

— Então vamos para o quarto, é mais confortável que esse ringue — levantou rapidamente e me pegou no colo com um braço, recolhendo minha espada e lança com a mão livre, antes de me levar de volta para seu quarto.

***

Aqueles minutos no quarto de Charlie foram uma confusão de cabelos no travesseiro e rosto, beijos, mordidas, risadas e mãozinhas ousadas por todos os lados. Eu não estava com sono dessa vez, e sentir meu estômago revirar a cada toque dele era prazeroso e frustrante, porque eu queria mais, mais do que eu que me sentia pronta para aguentar e mais do que nossos curtos espaços de tempo me permitiam.

Fui tomar café da manhã tentando tirar as imagens dele da minha cabeça, mas sem sucesso. E se Abby estivesse vendo, não expressava nada, então não me preocupei muito com isso.

— Pigmeu loiro — Jack segurou meus ombros por trás e eu virei o rosto para olhá-lo.

— Cabeludinho.

Ele sorriu.

— Já tem potencial para erguer coisas pesadas?

Fiz biquinho.

— Depende, que tipo de coisas pesadas?

— Eu tava querendo fazer um…

Um assovio tão alto ecoou no refeitório que imediatamente todo mundo parou de falar. Tinha um corredor mais velho em cima de uma mesa.

— NINGUÉM SAI!

Toda a felicidade que eu estava sentindo saiu de mim tão rápido quanto aquele assovio.

Aquilo nunca ia parar.

(Sem) Controle - IOnde histórias criam vida. Descubra agora