Casual

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— Opa, esse foi bom — Charlie disse um tanto impressionado.

Sorri orgulhosa e dei outro murro no boneco.

O dia hoje estava particularmente quente, ainda mais se tratando de uma manhã. O ar abafado me fazia ter dificuldades para respirar, e claro, me sentir muito mais cansada por conta do calor, ainda mais considerando que minhas roupas de treinamento eram confortáveis, mas bem quentes.

Havia arregaçado as mangas até os cotovelos, mas não ajudou muito. Quis ter uma blusa sem mangas, exatamente igual a que Charlie usava naquela manhã.

Soquei o boneco nos pontos que Charlie havia me apontado, e após vários segundos de silêncio, o olhei rapidamente atrás de aprovação. Charlie estava de braços cruzados, sério, mas não parecia bravo, na verdade, parecia até satisfeito. Ele havia cortado o cabelo de ontem para hoje, o que era meio decepcionante, porque era um entretenimento vê-lo passar a franja suada para trás toda vez que começava a se cansar.

Pisquei recobrando a consciência e vi que os olhos de Charlie estavam em mim com uma intensidade parecida com a que deveria estar vindo de mim.

Eu nem tentava fingir que não o achava lindo, seria perda de tempo, e mesmo que eu já estivesse quase acostumada a isso, tinham horas que ele parecia mais... atraente.

Quase ri ao lembrar que ele estava lá, limpo, parado, e eu toda melequenta com cabelo grudando no rosto. Não que eu me importasse, ainda mais sendo ele, mas era um contraste engraçado.

Charlie pigarreou.

— Posso ajudar? — me olhou com atenção, sorrindo de lado — posso tirar a camisa, se quiser.

Revirei os olhos, bufando.

— Você estava elogiando meus socos, e parou do nada — me justifiquei, e mesmo que fosse a verdade, falei quase gaguejando — achei que estivesse fazendo errado.

Ele deu de ombros e veio para perto de mim.

— Não ia falar nada, mas já que perguntou — foi para minhas costas e eu olhei para o boneco esperando alguma instrução — você mexe o corpo todo para dar um soco — ele sussurrou e eu arrepiei com a proximidade, achei que ele estivesse alguns passos atrás de mim — cansa demais a toa — suas duas mãos seguraram minha cintura de forma firme — mexa só da cintura pra cima.

— Isso é impossível — disse respirando fundo.

Ele riu baixinho no meu ouvido.

— Essa palavra é idiota, não a use — beijou meu pescoço.

Travei. Ele beijou meu pescoço.

— Se fizer direitinho, te dou mais um — com certeza meu cabelo oscilou, e com certeza, ele notou que arrepiei — em outro lugar, se preferir.

Me mexi para tirar suas mãos de mim e me virei para ele, com os olhos agora faiscando.

— Não precisa beijar meu pescoço para me ensinar algo — ele sorriu de lado e deu de ombros — se queria me beijar, era só ter pedido — tentei jogar o mesmo jogo que ele, deixá-lo constrangido.

— Está esperando que eu peça? — inclinou um pouco a cabeça me olhando de perto, engoli em seco — se eu pedir, posso te beijar? — sorriu segurando minha cintura de volta — se for assim, vou pedir para beijar cada cantinho…

— Chega — minha voz saiu mais rígida do que eu projetei na minha cabeça.
Afastei suas mãos de mim e apontei para a ponta do ringue.

— Fica lá, longe de mim.

Seu sorriso aumentou quando ele ergueu as mãos em rendição.

— Como quiser, afinal, a treinadora aqui é você, eu que te obedeço — ele  voltou calmamente para seu lugar de antes e cruzou os braços em frente ao peito — soque sem mexer o corpo todo — disse em tom de ordem.

(Sem) Controle - IOnde histórias criam vida. Descubra agora